
Desde miúdo que corro para sul, descurando esse pedaço estranho e gelado do mundo. Há muito muito tempo que o norte me atravessava a garganta. A visita à Islândia não serviu para desfazer o nó. Regresso com o país atravessado, a pedir uma revisita assim que a carteira ganhar equilíbrio. A bússola pessoal, que tenho dentro de mim, até aqui avariada, apontando para sul, ganhou um novo ponteiro que aponta para cima.
ESTRANHO VERÃOHá uma pergunta óbvia, instantânea, quando se chega à Islândia em Julho e se é abraçado por uns refrescantes 13/15 graus: como é possível viver aqui no Inverno? De repente, damos connosco dentro de uma loja, à procura de um gorro que nos aqueça as orelhas e a moleirinha. Enquanto o sul do mundo descasca ao sol, andamos nós à procura de lã que nos aqueça. O sol da Islândia, no Verão, é como o sol de Janeiro do sul da Europa: áspero, quase morno. Quase que tem força para nos queimar, mas não para nos aquecer. A sombra, aos nossos pés, é sempre mais comprida que nós e acompanha-nos vinte horas por dia.
CIDADES INTERINASVistas do ar, as cidades islandesas parecem um estaleiro da Soares da Costa. As habitações pré-fabricadas, dispostas em ruas onde tudo está no lugar – até as ervas daninhas – dão-lhes um aspecto provisório. Talvez quem aqui vive pense um dia fugir, desmontar a casa e voltar a erguê-la num local menos inóspito.
JANELASFoi um dos muitos aspectos curiosos anotados no bloco. As janelas islandesas não abrem por completo, como as do sul do mundo. Apenas uma nesga, para deixar entrar o ar. Em Julho, quando o sol desarrefece um poucochinho o ar, abrem-se as portas, fazem-se festas, bebem-se uns copos para festejar o pouco frio.
CONCEITO DE NOITENa Islândia, no Verão, não se podem combinar encontros para “logo à noite”, pois o dia nunca acaba nesta parte do mundo. “Sair à noite” em Reikjavic é, acreditem, uma experiência estranha – no mínimo! Estar à porta de um bar ou discoteca iluminado por luz natural é... não sei o quê!
Noctívagos (existe a palavra diurnívagos?) à porta de discoteca

O sol da (quase) meia-noite, como comprova o relógio da viatura, atrasado seis minutosCHEIROSA Islândia cheira às entranhas da terra. Em poucas partes do mundo a actividade vulcânica se deve sentir de forma tão intensa como aqui. A ilha é terra mais jovem do planeta – ainda está em formação.
Lama borbulhandoVIAGEM AO CENTRO DA TERRAA mais bela viagem pode começar numa das muitas crateras “espalhadas” pela ilha. Juro que apetece fazer como Lidenbrock e Axel (Viagem ao Centro da terra, Júlio Verne). Meter um frontal na cabeça e ir por aí abaixo ver de que é feito o planeta.
Basalto. Terra fresca, acabada de "fazer"
Geyser. Talvez o mais conhecido cartão de visita da Islândia. Bizarro, como quase tudo o resto.
ARREPIANTEA Islândia é como uma montanha russa. A cada curva um novo arrepio. Após cada subida, uma descida vertiginosa que nos faz gritar de histeria. Levava as expectativas muito altas. O que vi superou em dobro, em triplo, em quádruplo essas expectativas.


Lagoa Azul, outro do “postais” da Islândia. Aviso a eventuais turistas: não vale a pena pagar para entrar. O que há para ver vê-se de fora.
Atlântico norte. Em busca das baleias. Os operadores turísticos em Husavik dão 80% de chances de se ver os cetáceos. Calhei nesses 80% e vi uma Mink.
Pufins. Uns patarocos e simpáticos animais, meio gaivota, meio pato! Com asas compridas e pernas curtas.



