
Três da tarde. No céu, o azul faz-se cinzento e as nuvens choram gotas de amanhã e esperança.
A música, projectada no telhado de zinco e no chão duro de terra, abafa o mundo num instante. Todo o jardim se cala para a ouvir, e eu também. De barriga para o ar, deitado na rede, vejo as palmeiras sumirem-se atrás da película baça da chuva. As flores do hibiscus, que trepa não sei bem para onde, fecham-se com temor. Até o bater do coração se suspende, aguardando que a sinfonia termine.
Em tronco nu, deixo que a brisa me balance a mim e à rede e às palmeiras e às flores do hibiscus e aos pingos da chuva, que me aspergem como fás sustenidos.
Tudo o que dói e custa na vida – a estação das chuvas é uma delas - tem um lado positivo.
1 comentário:
Não podias descrever melhor o que viveste... não sei porquê, mas recordei-me de um filme, "A Costa dos Mosquitos", onde o Harrison Ford, com uns redondos óculos, vivia essa sinfonia, algo sofrida como dizes, das gotas da época das monções...
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