22.7.08

CIDADANIA DE LUXO

Ser bissau-guineense é um luxo. Só pode, olhando para os custos de emissão do Bilhete de Identidade… a que devem ser somados os custos da vinda a Bissau, onde o mesmo é produzido em exclusivo.

A Ministra da Justiça do país congratula-se com a baixa dos custos de emissão do referido documento. Ser cidadão na Guiné-Bissau custa, hoje, menos 1000 francos CFA que anteriormente, ou seja 4000 francos CFA (cerca de 6 Euros). Considerando que o salário médio do país é de 40.000 francos CFA (cerca de 60 Euros), um cidadão guineense terá que dar 10% do seu salário ao Estado para constar nos registos. Não está mal, podia ser pior.

Fazendo uma pesquisa rapida pela net, ao calhas, vemos que os custos do Bilhete de Identidade guineense só se equiparam aos de Portugal (outro belo exemplo onde o Estado é o maior ladrão que lá mora). Vejamos, por isso, quanto custa tirar o BI noutros países do mundo, todos eles locais onde a população vive (em média) bem melhor (com mais recursos) que a população bissau-guineense:

Moçambique: 25 meticais, 0,65 Euros
Burkina Faso: 2500 FCFA, 3,80 Euros
Senegal: 1000 CFA, 1,50 Euros, gratuito durante os períodos de recenseamento
França: gratuito
Portugal: 7,05 Euros, gratuito para menores de 18 anos

Quando a corda de Safim ainda estava de pé, vir a Bissau custava (para além do bilhete de toca-toca) mais 500 FCFA a cada passageiro apanhado sem BI pelas autoridades. O porco, a mandioca e o saco de cravão eram cobrados à parte, mas isso são estórias que agora não são para aqui chamadas.

Ora, se a corda de Safim existisse, seriam precisas 8 viagens a Bissau (500 francos x 8) para compensar tirar o BI (por forma a evitar pagar a “multa” na corda). Como hoje, felizmente para estas pessoas, a corda já não existe, o crime de não ser cidadão compensa muito mais.

Por estas e por outras se percebe porque estão as autoridades preocupadas com a baixa adesão ao recenseamento. Na Guiné-Bissau, não ser ninguém é a melhor forma de não ser roubado.

1 comentário:

Anónimo disse...

Com mais umas análises desta profundidade, ainda podemos voltar a ver as velhas cordas...Devido à sua reduzida área geográfica, a Guiné podia servir de biópsia para um exame a África...Que a Europa criou.