19.6.07

RISCO DE NOVO CONFLITO É REAL NA GUINÉ-BISSAU

Aquilo que todos comentam em surdina, em Bissau, disse-o agora, em voz alta, Uco Monteiro à Lusa. Os dados do dia 6 de Junho de 1998 são idênticos àqueles que estão no tabuleiro a 19 de Junho de 2007.

Tráfico droga pode degenerar em novo conflito - Analista

O analista político guineense João José Silva Monteiro disse hoje à Lusa que a Guiné-Bissau corre riscos de um novo conflito armado devido à proliferação e ao tratamento dado à questão do tráfico de droga.

Antigo ministro da Educação e dos Negócios Estrangeiros e actual reitor da Universidade Colinas de Boé, João José Monteiro considerou que a forma como o problema da droga tem sido tratada pode originar um conflito armado, tal como aquele que o país viveu entre Junho de 1998 e Maio de 1999.

Na altura, lembrou João José Monteiro, um alegado tráfico de armas envolvendo elementos dos poderes político e militar motivou a guerra civil que culminou, 11 meses depois, com a deposição do Presidente João Bernardo "Nino" Vieira.

Para o analista político, o grau de possibilidade de um conflito é mais alto agora, isto comparado com a situação vivida no país no período que antecedeu a guerra civil e daí que tenha apelado para um tratamento sereno mais corajoso da questão.

"Quando falamos da droga estamos a falar de movimentações astronómicas de dinheiro e eventualmente de armas, factores que podem motivar (...) um conflito armado", explicou.

Em 1998, o antagonismo entre os grupos em contenda levou ao descambar da situação, lembrou João José Monteiro, para quem esse facto pode voltar a acontecer na Guiné-Bissau desta feita motivado pela droga.

Na opinião daquele analista, o risco de um conflito está no alegado envolvimento dos elementos das "altas esferas do poder" no negócio, em que o país é utilizado como placa giratória.

"O Estado deve estar sempre do lado do bem e da moralidade, mas quando existirem elementos do Estado de níveis superiores ou grupos de indivíduos alegadamente envolvidos" no tráfico de drogas isso pode colocar em causa a própria estabilidade do Estado, observou João José Monteiro.

"Vivemos desenhos iguais como aquilo que tivemos em 1998. É o alegado envolvimento de indivíduos do Estado com a droga, é um tratamento desastroso do assunto, mesmo pelo poder judicial, é um barulho desnecessário", disse José Monteiro, sublinhando que se nada for feito a Guiné-Bissau poderá viver um novo conflito que poderá descambar para via armada.

De acordo com aquele analista político, a forma como a questão do tráfico de droga tem sido tratada deixa a entender junto da população e da própria comunidade internacional que "toda a gente do Estado anda metida com a droga, dinheiro falso ou armas".

Para João José Monteiro, não é necessário tratar a questão da droga com "tambor e trompeta", como tem sido feito sobretudo na comunicação social, embora defenda um "combate implacável" contra os implicados.

Recentemente o governo, através da polícia, ouviu seis antigos governantes sobre o alegado desaparecimento de 674 quilogramas da droga apreendida nas mãos de narcotraficantes, mas que teria desaparecido nos cofres do Tesouro Público onde estava guardada.

Entre os ex-governantes ouvidos pela polícia figuram os ex-ministros da Justiça e das Finanças.

O assunto foi entregue agora ao Procurador-Geral da República, Fernando Jorge Ribeiro, que promete um inquérito para saber do paradeiro da droga que o antigo governo defende ter sido queimada.

Um outro perigo vislumbrado por João José Monteiro é a possibilidade de os narcotraficantes passarem a condicionar as decisões politicas e económicas da Guiné-Bissau, o que, exemplificou, poderá acontecer já nas próximas eleições legislativas marcadas para 2008.

"Há um sério risco de a máfia da droga passar a ser determinante para a formação de listas eleitorais ou na decisão de partidos que devem governar e, desta forma, condicionar a formulação de toda a politica" do país, alertou João José Monteiro, sociólogo e investigar no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (INEP).

1 comentário:

Anónimo disse...

Depois de se ter feito uma guerra para depôr Nino Vieira, o povo vota nele para presidente, e agora nova guerra para quê?
Pobre Guiné Bissau!