6.11.07

QUEM MANDA AQUI NÃO SOU EU, SERÁ ELE!

Digressão a Bissau em 3 parágrafos

1 – A ORIGEM
As notícias que chegam de Bissau não são animadoras, mas também não surpreendam. A culpa de toda esta situação tem um nome: a (dita) Comunidade Internacional. E na Guiné-Bissau essa entidade abstracta tem um rosto muito concreto e visível: ONU e Portugal (junte-se a França e a CEDEAO, num outro plano).

Foram estes países/organizações que armaram a sarilhada em que está metido o país, ao permitirem a candidatura de Nino Vieira e Kumba Yala. Um dia chegará que um ou mais juízes do Supremo virão a terreiro esclarecer quem tomou a decisão final. A “bem da estabilidade” e da “democracia” adiaram o problema, numa lógica de “quem vem atrás que feche a porta”. Chissano (enviado "espacial" de Kofi Annan) e Honwana (representante de Kofi Annan na GB) foram embora. Freitas do Amaral, MNE português ao tempo, reformou-se e Paes Moreira, o representante de Portugal em Bissau, aguarda apenas pela cimeira Europa-África (em breve partirá também). A CEDEAO nunca chegou a entrar verdadeiramente - sempre enviou recados - e a embaixadora de França da altura já era!

Todas estas pessoas, países e organizações cometeram dois erros (mais um): subestimaram Nino Vieira e Kumba Yalá e sobrestimaram Malam Bacai Sanhá (Carlos Gomes Júnior conseguiu convencer meio mundo que o seu homem “limpava a coisa”). Mais, fizeram crer ao Supremo Tribunal de Justiça que a única saída era deixar os dois “ex’s” avançar. O terceiro erro foi não terem escolhido uma terceira via. Uma intervenção militar externa para serenar ânimos, por exemplo (e havia países dispostos a entrar por aí).

Não sei por onde andam Honwana, a embaixadora de França da altura, nem sei para onde irá o embaixador Paes Moreira. Mas imagino as pragas que lhes rogam e rogarão quem os substituiu ou substituirá. A cruz é e será dura de carregar. A mais que… bom, a mais que a Comunidade Internacional, essa de rosto concreto e visível, deixe de tratar a Guiné-Bissau como uma criança de colo, que precisa de tutores, e passe a deixá-la a ela carregar a dita cruz.

2 – RÍDICULO
O recente episódio protagonizado pelo major Baciro Dabó e pela Liga Guineense dos Direitos Humanos (de quem guardava uma óptima imagem, fruto do trabalho da recentemente eleita direcção) não merecem comentários. Um homem com o estatuto do anterior ministro da Administração Interna, que há 15 dias se passeava na capital com uma comitiva policial pouco inferior à do PR não precisa (deixo a questão do “se merece” para outros responderem) que uma ONG denuncie que ele corre risco de vida. Sempre correu e enquanto for vivo (longe ou perto da política) sempre correrá. Porquê tanto alarido?

3 – FUTURO
Toda esta crise permite ver com muita clareza e nitidez que quem manda no país não é o Presidente da República. Nino Vieira é hoje um homem não de pés e mão atadas, mas de mãos atadas aos pés. Sem capacidade de se movimentar sequer. Por tudo isto a predição é inevitável: o próximo presidente da República da Guiné-Bissau será Kumba Yalá. Duas vias para lá chegar: 1 - golpe de Estado, a menos provável pois Kumba Yalá já percebeu que é melhor “a bem” que “a mal”. 2 - através de eleições “livres, justas e transparentes” como gosta a “Comunidade Internacional”. Isto se houver paciência nas hostes balantas – o que parece ser o caso, pois a estratégia de desacreditar Nino Vieira, fazendo-o cometer erros e cair de podre está a dar resultados.

3 comentários:

Anónimo disse...

oSou um europeu (português) que vive em África (Moçambique) há já alguns anos. Na minha mais que humilde opinião, o estado miserável em que este continente se encontra deve-se, em primeira linha, a atitudes e quadros mentais comos os que você expressa neste "post": total desculpabilização e desresponsabilização dos africanos pelo que se passa nos seus próprios paises e transferência de toda a culpa para a "comunidade internacional", "ocidente" e "paises do primeiro mundo".

Como disse um dia Mia Couto no seu escrito "As 7 Pedras no Sapato dos Moçambicanos", enquanto os Moçambicanos não assumirem que os seus problemas são em grande medida sua culpa e sua responsabilidade (e não do colonialismo que acabou há 32 anos, do FMI, da África do Sul, etc), jamais conseguirão assumir o controle do seu próprio destino e caminhar na direcção do progresso.

Com todo o respeito, o seu tipo de discurso é, em certa medida, racista e xenófobo, já que parece não reconher aos guineenses qualquer tipo de influência na condução da sua politica. Isso é coisa para portugueses e franceses e os pretinhos como o Nino, o Kumba e respectiva oposição não dão para mais do que para fantoches dos interesses estrangeiros - é isto, no fundo, que você está a dizer.

Diabolizar os europeus e emburrecer os africanos é discurso demagógico e o principal responsável por a independência de África (que faz este ano 50 anos com a comemoração da independencia do Gana em 1957) ser ainda uma tragédia ao nível económico, sanitário, social e politico.

Melhores cumprimentos

NC

Anónimo disse...

Tudo verdade verdadeira, só falta juntar mais um nome, o pseudo professor doutor Francisco Fadul. Homem com h pequeno, com ambições inconfesáveis. A comunidade internacional, essa que "está-se nas tintas" pelos interesses do povo guinense. Quanto a portugal, só basta dizer que no início do presente ano o Dr Almeida Santos, foi a guiné "visitar" o Nino Vieria, segundo ele um velho amigo e democrata. Tenho é pena da minha pobre gente...
José Carlos

Anónimo disse...

Permita-me apenas uma desinteressada opinião. Claro que os Homens e as Mulheres africanos têm responsabilidade na condução dos seus processos mas, quando o poder é nos dias de hoje apátrida, não tem cor nem eira nem beira, mas apenas a bandeira e o hino da oportunidade de rentabilização das potencialidades sem olhar a meios para atingir fins, mesmo que isso implique miséria e desgraça de muitos e que para isso se criem dirigentes da mesma cor da maioria do povo mas de uma fantochada teatral. Como podem os descamisados, descalços e descuidados da educação e da saúde arcar com a culpa pela sua desventura patriótica? Digam-me Senhores, onde estaria a inchada Europa e a estonteante USA se os tais povos pretos tivessem capacidade para transformar as matérias primas das suas nações e com isso traçassem os ditames das bolsas mundiais e auferissem níveis de vida que hoje a Europa e a América ostenta? Graças a influência destas a África agoniza, mesmo com governantes africanos. Estes só são africanos por fora e no que querem deixar ver para “pobre” consumir. Na verdade são sem “color” nem pátria porque estes desmedidos …aqueles que traçam a vida e a morte na Terra, seja em Paris, Londres, Amesterdão, Tóquio, Lisboa, Madrid, Nova York, Otava, Praga, Moscovo, Bissau, Cairo, Pequim, Adelaide, Seul, Rabat, Bona ou Luanda…eles mascam a humanidade em todo o lado….só têm olhos para o seu umbigo!

j2mseravat