28.1.08

AEROPORTO DE DAKAR

Madrugada. Entre um avião e outro (o que me trouxe da Europa e o que me levará à África que Dakar não é) decido subir ao primeiro andar do aeroporto.

Às 4 da manhã, o sossego do restaurante contrasta com a efervescência da plataforma e da pista. À porta, o segurança vai dizendo que sim a pergunta nenhuma, procurando manter na vertical a cabeça. O único empregado da sala, mais assumido, resignou-se e estiraçou-se ao comprido sobre quatro cadeiras. Não se levanta para me atender. Quando pergunto se há que se beba, aponta um frigorífico, ao fundo, e balbucia:

- Allez-y.

Apenas uma coisa, para além de mim, perturba a modorra teatral da sala do restaurante: um pequeno ratinho, que febrilmente se aproveita da apatia dos humanos.

Lá fora há aviões que chegam e partem, num vai-e-vem regular entre dois mundos, o do tudo e o do nada. Dacar, o nada, Paris, Bruxelas, Lisboa, Madrid, Lyon, Atlanta, Roma, New York, Joanesburgo, Milão, Marselha, o tudo.

Cá dentro, entre cada avião que parte e outro que aterra, entre cada cabecear do segurança e cada ressonar do empregado de sala, o ratinho vai-e-vem, também ele, entre o tudo e o nada. Do seu buraco, miséria, para a cristaleira do restaurante, fartura, onde pão de trigo jaz abandonado.

Para não acordar os outros, sugiro-lhe em surdina que coma do pão a maior quantidade possível. Antes comer ele que um qualquer turista, antes de embarcar para casa.

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