29.1.08

UM LUXO DE MISÉRIA CONSTRUÍDO

Para ajudar ao desalento expresso dois textos atrás, leitura da belíssima reportagem de Luís Pedro Cabral no Expresso. Luanda de luxo, chega-me via ANGOLAXYAMI e é de leitura obrigatória para quem queira perceber África. Este continente é, sem dúvida, um case-study.

Como é possível? Como é possível os que não “conseguem ter nada” não se revoltarem contra os que “se incomodam porque não conseguem ter tudo”...

Alguns excertos:

Tudo falta. Tudo se arranja. Só os limitados conhecem como são duros os limites. E guardam isso para eles, como se guardassem um segredo. Os que navegam na zona franca do «cash-flow» saboreiam esta nova Angola que superou o colonialismo português, mas não o arrumou, que saiu de uma longa guerra civil, mas não sarou todas as feridas, que tem abundância de petróleo e diamantes e transborda pobreza a cada rua. E transborda riqueza, como certa roupa interior num vestido apertado. É a Angola dos descendentes da ascendência, ínfima minoria. Alto negócio, carro de luxo, charuto, helicóptero, iate e champanhe, apartamento na cidade e casa no campo, da política de relacionamentos, do apetite sôfrego das economias internacionais.

(…)

Tantas coisas dividem esse mundo deste, só mesmo imponderáveis os podiam unir num problema comum, sublinhando a diferença que os separa: uns incomodam-se porque não conseguem ter tudo. Outros sofrem porque só conseguem ter nada.

(…)

Se escavar um pouco do seu solo, é provável que encontre petróleo ou diamantes. A escavar no seu musseque, só encontra musseque.

2 comentários:

Anónimo disse...

precisamente uma amiga minha que há pouco tempo esteve me Angola, comentou-me que o que mais a impressionou foi as grandes diferenças entre ricos e pobres, que estava numa rua cheia de lixo e de repente via uma loja Benetton, por exemplo.Ela tinha estado a dar aulas em Timor e diz que lá nada disso acontece, porque todos são pobres.

African Queen disse...

:) É ruim quando bate esse desânimo em quem quer acreditar, mas depois, onde menos se espera deparamo-nos com um maravilhoso sinal de esperança qualquer e voltamos a acreditar que vale a pena... e não devo estar a dizer-te nada de novo, não é?
Obrigada pelo texto do expresso. Não o tinha lido e está, de facto muito bom. Se te animar, posso dizer-te que esse desânimo me anda a rondar mas no que respeita a Portugal e exactamente da mesma maneira que o descreves para África. Ando muito zangada com este país...com a agravante de não estar nos trópicos, que me parece sempre um lugar mais interessante para se estar deprimido :)
Ânimo!