26.1.07

BEM PROTEGIDOS

Hissène Habré é o paradigma da injustiça africana. A metáfora límpida que transforma em soneto lúgubre toda a verdade deste continente: os políticos africanos (os presidentes em particular) abanam como capim quando ouvem falar em tribunais. Sujam as calças. Escondem-se debaixo da cama. Chamam pelo papá...

Os telhados de vidro (passados e presentes muito obscuros e manchados de sangue) de quase todos (poderia escrever todos?) os chefes e ex-chefes de Estado, levam a que estes se encubram e protejam mutuamente.

Vem isto a propósito do comunicado emitido hoje pela Human Rights Watch (HRW), onde a organização lamenta a lentidão da justiça senegalesa no caso Hissène Habré, antigo ditador Chadiano.

Recordando: os factos remontam a Fevereiro de 2000, quando o ex-chefe de Estado daquele país africano foi declarado culpado de crimes contra a humanidade cometidos durante o seu regime (1982-90). Na altura o Senegal recusou-se julgar o ditador ou extraditá-lo para a Bélgica. Inteligentemente, (como que para lavar as mãos do assunto), Wade, presidente senegalês, perguntou à União Africana o que deveria fazer. De Addis Abeba a resposta, inteligente também, uma vez que a extradição era já um carimbo de CADEIA, foi: "julguem-no aí."

No Senegal, onde por certo mora em vivenda de luxo à beira-mar rodeado de todos os protocolos e mordomias inerentes a qualquer bom ditador, Hissène Habré verá o tempo correr. Verá sucessivas comissões serem criadas. Verá a assembleia nacional senegalesa não aprovar as leis necessárias ao seu julgamento. E verá todos os seus homólogos e ex-hómologos esfregar a barriga e respirar de alívio, pois o exemplo (o primeiro exemplo, aquele que faz escola e mostra como se faz) ainda não foi dado. Os ditadores africanos estão bem protegidos!

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