24.9.07

PRAÇA DO GERALDO

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A Praça é, para eles, o centro do mundo. Chegam com as sombras compridas da manhã. Sonolentos e sorrateiros. Um de cada vez, como bailarinos ensaiados. Serenos. De mansinho para não acordar de forma brusca nem o granito nem a cal que despertam aos estalidos com os primeiros raios de sol.

Sentados nos bancos ou de pé, encostados aos arcos, os velhos da Praça discutem o mundo. O dos outros e o deles também. Bush é bandido. Os africanos morrem de fome, de sede e afogados. Coitados... O presidente da câmara fez mais uma asneira. E o da junta casou outra vez. O Benfica perdeu. E o Lusitano empatou.

De cara baixa olham as pedras. Cospem os anos e a velhice para a calçada. Limpam os lábios mirrados a um lenço escangalhado. E tentam desafiar – em velhos – a morte, como em novos desafiaram miséria e touros. Vão pegando de caras as tábuas de pinho envernizado, que nunca se viveu o suficiente para morrer em paz. E resistem ao fim, procurando força nas pernas e nos decotes das turistas que passam enfeitadas de calor e charme.

A navalha ceifeira no bolso defende a honra e corta o alimento. O martelo não faz falta. Paira por perto, no cartaz defronte. O partido já não é o que era e eles – afinal – também não. A desilusão tem um slogan: “Maganos dos comunistas!”

Quando o sol escala o céu, a sombra diminui a seus pés. O êxtase esvai-se, tal como as “belas” turistas que fogem ao calor. A extinção da espécie chega com o fim da manhã, quando por fim morrem os últimos pedaços de sombra e todos os velhos abalam. Os dois que restam hão-de exclamar um para o outro, apoquentados:

- O último a partir não tem quem o tape.

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1 comentário:

Anónimo disse...

Quando fazemos parte dessa calçada, quando vives e saúdas essas sombras vislumbrando um futuro que, quem sabe, nunca chegará, não te dás conta como o adn é algo determinante, um código genético que te denuncia para sempre o ser eborense...
Só o que odeia sabe o que é amar e, no meio de um "sentimento" de que "santos da casa não fazem milagres" vou mantendo essa relação com o lugar que me trouxe ao mundo e que culpei por não me poder manter nos seus braços...
Actualmente, quando regresso, apenas o silêncio das nocturnas ruas me fazem viajar na saudade de uns ténis suados, das gargalhadas dos amigos ou da dedicação no "dojo"...
Enfim, divagações... graças a uma óptica de sangue eborense.
Um abraço.