20.2.08

100% DIGNIDADE

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Djendjen é uma aldeia miserável mas digna. Uma aldeia de terra, como quase todas no Mali. Dezena e meia de casas de terra, uma pequena mesquita de terra e uma pista de terra, que corta Djendjen em dois e a envolve numa poeira espessa cada vez que passa um carro. Cingidas à sua miséria poeirenta, as gentes de Djendjen nada mais têm que terra e uma dignidade bravia, obstinada, de quem trabalha para sobreviver e que, por isso, nunca se cansa.

Quis o destino que eu estivesse em Djendjen quando a RFI noticiava que os Estados Unidos haviam sido condenados por favorecer os seus produtores de algodão. A acção foi intentada pelo Brasil, de forma a acabar com a discriminação de que os produtores de algodão dos países do sul são objecto, face às medidas proteccionistas norte-americanas. A batalha não está ganha e adivinha-se longa, uma vez que os Estados Unidos vão recorrer da decisão.

Na berma da estrada, no preciso momento em que a notícia se espalhava pelo éter do habitáculo e pelos campos mirrados de Djendjen, um grupo de camponeses pesava algodão.

Parei o carro e, com a ajuda de um tradutor de ocasião, entabulei conversa com a dezena de homens. Por momentos apeteceu-me contar-lhes a notícia, dizer que talvez fosse desta que os camponeses do sul do mundo poderiam competir com os do norte, eternos protegidos dos seus poderes. Fiquei-me por um tímido “entié” (saudação Bambará) e algumas perguntas de ocasião.

As respostas dos camponeses deram-me a conhecer aquilo que já sabia. Por exemplo, que os agricultores de Djendjen se sentem explorados pelas companhias que aqui vêm comprar-lhes o algodão, que pagam cinco meses após a colheita; ou que um quilo de algodão custa em Djendjen 160 francos CFA (0.24 €).

Mas, por outro lado, aqueles 15 minutos de conversa ensinaram-me coisas novas e desconhecidas. Por exemplo, que o algodão do Mali tem uma dignidade diferente do norte-americano: na sua composição há apenas terra e suor, que é ao mesmo tempo a água que o fez crescer. Nem um pedacinho de dinheiro lá se encontra.

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