30.9.06

PRESOS NA PRÓPRIA TERRA

Isidoro Cabral, professor da Universidade de Sevilha, coloca o dedo na ferida. E ela arde que se farta! O texto publicado no Diário de Sevilha é dos mais elucidativos acerca da forma como o fenómeno da imigração ilegal está a ser tratado pelos dirigentes Europeus e africanos. Com imensa “demagogia”.

Depois de descascar na direita europeia e de afirmar que a luta contra o problema se assemelha a uma nova “cruzada” (“o perigo da invasão dos bárbaros que vêm do Sul”), o professor ironiza:

“[Por um lado afirma-se que] ‘aqui não cabe mais ninguém’ enquanto que na imprensa inglesa, alemã e nórdica se continuam a oferecer casas para que os reformados destes países desfrutem das nossas costas e sejam operados nos nossos hospitais públicos, porque é muito mais barato que na sua terra.”

O analista andaluz mostra-se ainda indignado com as palavras de dirigentes políticos espanhóis:

“Acabam de prometer, desde as suas altas responsabilidades políticas, mais barcos de guerra para patrulhar, não as nossas costas da Andaluzia ou das Canárias, mas antes as costas da Mauritânia, do Senegal ou da Guiné – para converter África num presídio? – e mais dinheiro para convencer os governos africanos a violar o artigo 13.2 da Declaração Universal dos Direitos do Homem, que diz que ‘toda a pessoa tem o direito de sair de qualquer país, inclusive o seu, e de regressar ao seu país’”.

As entrelinhas do texto são claras. Os africanos estão detidos na sua própria casa. O cárcere é antigo e desenrolava-se por diversas vias, não oficializadas. Hoje é executado por navios e helicópteros europeus, de forma solene e publicitada, e (pasme-se!) tem o aval dos dirigentes africanos. Os mesmos que se dizem “herdeiros dos libertadores do colonialismo”. Se esses libertadores cá voltassem arrepiavam-se concerteza (e morreriam de súbito)! Não apenas com isto.

27.9.06

ENCERRADO ATÉ SÁBADO

Motivo: ida a Varela para conhecer e entregar ao senhor Feliciano as reportagens com fotos do El País e ABC.

FELICIANO POLÍCIA

O senhor Feliciano virou estrela. Se ao menos as luzes da ribalta servissem para que o salário lhe fosse pago ao fim do mês...

Para ler AQUI.

26.9.06

VARELA NAS BOCAS DO MUNDO

O jornal espanhol El Pais enviou um jornalista à Guiné-Bissau. Varela volta a ser notícia.

Para ler:
Sólo un policía en la ruta de los cayucos

22.9.06

IMIGRAÇÃO FAZ UNIÃO EUROPEIA VIVER CONFLITO NORTE-SUL

Notícia REUTERS BRASIL
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Países do norte e do sul da União Européia entraram em choque nesta quinta-feira por causa do controle da imigração ilegal da África, com a Espanha sendo acusada de incentivar o afluxo de estrangeiros ao continente.

Mais de 24 mil africanos chegaram apenas este ano ao litoral das ilhas Canárias (território espanhol na costa da África), o quíntuplo do registrado em todo o ano de 2005. Centenas ou talvez milhares de imigrantes clandestinos morreram na travessia, segundo as autoridades. Outros chegam à Europa por Malta e pela Itália.

A Comissão Européia (poder Executivo da UE) faz repetidos apelos por cooperação, mas uma reunião de ministros dos 25 países do bloco resultou em discordâncias na Finlândia.

"Não é uma solução legalizar os ilegais, como foi feito na Espanha. Isso de certa forma 'puxa' as pessoas na África, como infelizmente vimos nos últimos meses", disse a ministra austríaca da Justiça, Karin Gastinger, a jornalistas.

Em 2005, a Espanha anistiou cerca de 600 mil migrantes ilegais. A ministra holandesa da Imigração, Rita Verdonk, disse que decisões como essa só servem para incentivar o tráfico humano.

Mas o ministro espanhol da Justiça, Juan Fernando López Aguilar, disse que os africanos emigram porque são pobres e famintos, não porque um país da UE mudou as regras de migração.

Ele pediu "dinheiro, recursos, meios e determinação" da UE para combater o problema, mas vários países do norte do bloco consideram que não devem pagar por isso.

"Quem quer resolver problemas precisa parar de pedir dinheiro aos outros", disse o ministro alemão do Interior, Wolfgang Schaeuble.

Malta e Itália também pediram ajuda, lembrando que numa Europa sem fronteiras muitos imigrantes cruzam seus territórios apenas para chegarem a outros países da UE.

Mas seus parceiros até agora destinaram apenas dois barcos, um avião e alguns especialistas para as alardeadas patrulhas conjuntas destinadas a conter a imigração nas Canárias.

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19.9.06

TAPalhada

As funcionárias do escritório da TAP em Bissau não têm mãos a medir, com o número de pessoas que diariamente demandam as instalações da companhia à procura de bilhetes para Lisboa. Esta manhã mais de 30 clientes, em pé, sem senhas de atendimento (coisa que nunca existiu no paupérrimo-old-fashioned-matarruano escritório) aguardavam vez para comprar ou reservar bilhetes. A falta de respeito imperava, com clientes impacientes a tentarem passar à frente de quem havia chegado primeiro. Uma TrAPpalhada digna de notícia de jornal.

Conversas mantidas com alguns dos presentes indicam que já há quem esteja a reservar bilhetes para o Natal e até para o próximo Verão!!! Muitas das pessoas que esta manhã aguardavam o áureo momento de ser atendidos, revoltados com a situação criada com a extinção da Air Luxor, perguntavam porque não cria a TAP um segundo vôo semanal. A resposta é simples: à companhia interessa o caos em Bissau, por forma a que os passageiros da Guiné utilizem o vôo Dacar-Lisboa (seis vezes por semana e invariavelmente a meio da sua capacidade).

17.9.06

Futebol por comida INVESTIGUE-SE

O esquema é antigo. Os empresários do futebol levam jovens africanos e/ou brasileiros para a Europa e depois, para além de os manterem ilegais, não lhes pagam salários.

Esta situação acontece sobretudo com jovens africanos (brasileiros também) de clubes de divisões inferiores. Os empresários ou os clubes alojam-nos em grupo em pequenas pensões ou em residências privadas e estabelecem um contrato com um talho ou supermercado da vila para que lhes forneça comida. Em África as ONG's chamam a isto food-for-work, mas estou certo que o conceito na Europa está adulterado por gente sem escrúpulos. Tudo isto sem contratos escritos ou documentos através dos quais os jovens se possam valer em caso de aperto!

À atenção da Inspecção Geral do Trabalho, Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, Federação Portuguesa de Futebol e associações distritais de futebol.

FOTOS DE UMA VIAGEM DE VOLTA

Ligar Lisboa a Bissau em viatura própria custa cada vez menos. Neste momento já existe alcatrão entre as duas cidades, o que torna a jornada mais fácil, rápida e agradável… mas menos épica. Acabaram-se as dunas, os vazar e encher pneus… Acabou-se o medo de ficar atascado nas areias poeirentas do Sahara, entre camelos e tufos de erva!

Cinco dias de viagem (menos um que há dois anos) e 5000 km feitos [mais que o normal, à conta dos camelos do Senegal (autoridade aduaneiras, leia-se), que nos obrigaram a contornar a Gâmbia].

São algumas das fotos da viagem de regresso que aqui ficam, para aguçar apetites, agora que vir a Bissau é um pequeno passeio, para quem está na Europa.

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ALCATRÃO SEM FIM. Desenganem-se aqueles que pensam que as grandes etapas da viagem estão na África (dita) negra. Atravessar Marrocos e o Sahara Ocidental é a principal canseira (2700 km). Do posto fronteiriço da Mauritânia a Bissau é um pulinho.

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SEUS CAMELOS! As montanhas do (que creio ser o) Anti-Atlas (entre Marraquexe a Agadir) custam a fazer. Mas travar um veículo embalado nas rectas do Sahara a 120 km/h por causa destes simpáticos bichinhos também dá trabalho. Ultrapassados os obstáculos há a grata satisfação de poder meter a cabeça de fora da janela e gritar (sem que ninguém se sinta ofendido): SAIAM DA FRENTE SEUS CAMELOS. Na segunda circular, em Lisboa, não se pode fazer tal coisa!

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COÇAR COCEIRA. Se é pulga ou carraça não sei, mas lá que o bicho é inteligente, isso não nego. Numa terra sem árvores ou outras coisas onde um animal possa aliviar comichões, os sinais de trânsito servem para muito muito mais que elucidar automobilistas. Quantos quilómetros fará, em média, um camelo para se aliviar da coceira? Problema para responder na próxima viagem.

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ILHA CONTINENTAL. Celebrizada por Saint-Exupery em “Terra dos Homens”, Tarfaya revela-se como o piloto-escritor a descreveu: encravada entre as dunas e o mar. A sensação que se tem, quando aqui se chega, é que estamos numa ilha. Não numa ilha marítima, como são todas as ilhas, mas numa ilha terrestre. Explique-se. Tarfaya fica distante de tudo, na última curva antes do fim do mundo. O deserto é a única coisa que lhe está perto. E o mar! Tudo o mais fica para lá de muito longe daqui.

As cidades mais próximas estão a muitas centenas de quilómetros e a única forma de sair é via terrestre, que no aeroporto não pousam pássaros de ferro. Horas e horas de alcatrão para ir visitar família, tratar de um documento, ver um filme!!...

As casas pobres da vila sobrevivem, periclitantes, aos ventos fortes, que as fustigam todo o ano, e aos grãos de areia do Sahara que as ameaçam sepultar para sempre no escuro de uma duna. Tarfaya tem duas coisas para ver: as cores mortas que compõem a cidade (o cinzento, do cimento das casas, o amarelo, da areia do deserto e da praia e o azul baço do mar, que aqui é mais triste que em todos os outros locais do mundo); e o Museu Antoine Saint-Exupery, aberto há pouco tempo com o intuito de atrair os turistas que passam na grande estrada que corre para Sul, a 2 quilómetros. Tudo isto faz de Tarfaya uma cidade desconsolada, infeliz no seu isolamento, mas ao mesmo tempo fascinante. Talvez um ano aqui venha passar férias.

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KIT-SURFANDO EM DAHKLA, cidade mais a sul (e a mais bonita) no Sahara Ocidental. Um óptimo spot para a prática desta modalidade. Vento constante todo o ano, a toda a hora. Nas praias de Dahkla batem-se franceses, holandeses, alemães... que viajam de carro, desde os seus países, apenas para praticar este desporto.

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UM DO MELHORES PAÍSES DO MUNDO. Às vezes apetece-me escrever que a Mauritânia é o país do mundo onde melhor me sinto. Mas depois vêm-me à cabeça os três países onde já fui/ainda sou feliz (Alentejo, Moçambique e Guiné-Bissau) e desisto dessa ideia para não ser injusto. Na Mauritânia o estrangeiro sente-se em casa. É levado em ombros (sem que os pés saiam do chão). A famigerada hospitalidade dos povos do deserto sente-se aqui. No ar que respiramos, na comida que comemos, nas palavras que ouvimos. Nos gestos que recebemos.

A talhe de foice aproveito para dissertar um pouco sobre a diferença de postura das autoridades com que me tenho cruzado ao longo destes anos de viagens. E concluo que (no geral, em todo o mundo há excepções à regra) a postura varia consoante estamos na África do norte (magrebe) ou na África (dita) negra. Enquanto em Marrocos, Sahara Ocidental e norte da Mauritânia o estrangeiro é olhado sob o prisma de “este é turista, vamos tratá-lo bem para ele promover a nossa terra e voltar”; no Senegal, sul da Mauritânia, Mali, Guiné-Bissau, Moçambique, Zimbabué, etc… a lógica inverte-se: “este é turista, traz dinheiro, vamos explorá-lo que o gajo é rico”. E vá de moer a cabeça à gente, até encontrarem um documento em falta, um atacador desapertado, um pisca que não funciona, um esguicho de limpa pára-brisas entupido…

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DUNAS À BEIRA-ESTRADA. Nas terras do litoral sobe-se às dunas para ver e ouvir o mar. Na Mauritânia os pastores do deserto sobem às dunas para ver e ouvir os carros que passam. Eles são o progresso que os hão-de, um dia, livrar da seca e transportar para a cidade grande, lá onde a água não falta.

Como já referi, Bissau e Lisboa estão cada vez mais próximas. A estrada que liga Noackchott a Nouadhibou veio encurtar em muito a viagem. Na foto, o enchimento da emblemática garrafa de areia do Sahara para satisfazer os pedidos dos amigos. Qual será o impacto de gestos como estes no ecossistema do Sahara? Vou perguntar aos ecologistas.

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E NOAKCHOTT SURGIU DAS AREIAS. Para quem a visita pela primeira vez Noakchott, capital da Mauritânia, é feia, suja, desorganizada. É preciso voltar aqui para se entender uma cidade que, apesar de estar a dois passos do mar, vive de costas voltadas para ele, virada sobretudo para o deserto. A exposição de fotos que vi no Centro Cultural Francês ajudou-me a perceber porque é Noakchott (e outras cidades da Mauritânia e do Sahara Ocidental, também construídas entre o Atlântico e o Sahara) tão intensa: está (estão) edificada(s) entre dois dos maiores espantos da natureza: o mar e o deserto.

As fotos acima são reproduções das fotografias expostas por Jonathan Shadid no Centro Cultural Francês de Noakchott até 30 de Setembro. A mostra intitula-se “E Noakchott surgiu das areias”.

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PARA MAIS TARDE RECORDAR. Com a Cláudia, co-piloto nas horas de espertina e piloto nas horas em que a pestana teimava em fechar. Falta a segunda co-piloto, que tirou esta foto. Refira-se que viajar com duas mulheres por países muçulmanos torna-se muito cómodo, pois nas fronteiras e nos inúmeros check-points podemos argumentar, depois de um SALAM ALEIKUM bem pronunciado, que temos que seguir depressa, porque as mulheres estão no carro a apanhar calor! Os meus pedidos foram sempre tidos em alta consideração. Excepto no Senegal, onde o respeito, por parte dos agentes de autoridade, só existe depois de uns bons francos CFA serem batidos sobre a mesa. Repito o que já escrevi dezenas de vezes: o Senegal é um péssimo país para se ser turista.

15.9.06

O FIM DA AIR LUXOR

As pessoas que estão retidas em Bissau e em Lisboa merecem a nossa solidariedade. Esperemos que a situação se resolva.

Mas o que verdadeiramente me preocupa é que a partir de hoje a Guiné (e quem aqui mora) está de novo nas mãos da TAP. Ou seja, para sair para Lisboa há que aturar hospedeiras malcriadas, longas filas de espera nos check-in e pagar o que lhe pedirem. Um bilhete Bissau-Lisboa (simulado há momentos no site da TAP) custa 908.11 Euros. Um grandessíssimo roubo atendendo às 4 horas de viagem! Voar para Maputo (10 horas), na mesma companhia, custa 1105 Euros! Fazendo as contas de outra forma... vir a Bissau custa mais de metade de um bilhete para dar a volta ao mundo na British Airways!

A ajudar ao isolamento e à desgraça, o facto de a recém criada companhia guineense Halcyon-air estar também proibida de voar para o Senegal. Bissau depende neste momento de duas companhias caríssimas (Tap e Air Senegal) e que prestam um péssimo serviço ao seus clientes.

Pondero seriamente abrir um negócio de candonga-toca-toca entre Bissau e Lisboa. Cinco dias de viagem, 18 lugares com ar-condicionado. Preço: mais barato que na TAP. GARANTIDO. Ah! E sem hospedeiras no interior do veículo, com ar de frete por virem a Bissau aturar pretos!

Em alternativa, em vez de ir passar férias a Lisboa, invisto um pouco mais de dinheiro e dou a volta ao mundo na British. Haja vergonha!

14.9.06

FOTOS DE UMA VIAGEM DE IDA

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Lixo piscícola. Hann, arredores de Dacar. O peixe capturado na costa senegalesa é tanto que algum acaba por apodrecer em grandes montes no areal.


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Pintura. Saint Louis, no norte do Senegal, é terra de pescadores. Dizem que o mar não é tão generoso como foi em tempos, por isso muitos estão a partir para a Europa como clandestinos. Os que ficam persistem na teimosia de fazer da pesca a sua vida. Em Saint Louis continuam a fabricar-se pirogas, que só depois de ornamentadas podem entrar no mar. As pinturas dos cascos destas embarcações são verdadeiras obras de arte.


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Cavalos. Assim se transporta até às arcas frigoríficas, em Saint Louis, o peixe que há-de seguir de avião para a Europa. Muito do que se vende nos mercados e nas praças portuguesas e espanholas vai daqui congelado em antonovs fretados ou em aviões comerciais.

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Caldeirão de fome. À sexta-feira, dia sagrado para os muçulmanos, a praia de Saint Louis é uma alegria. As crianças brincam, os homens jogam às cartas, as mulheres conversam. As panelas fumegam no areal, para dar de comer a quem tenha fome (e dinheiro para pagar).

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Paradas. Centenas de pirogas em Saint Louis aguardam melhores marés. Na praia diz-se que o negócio da pesca já teve melhores dias e que por agora não compensa sair.


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Tipicamente senegalês. As candongas, exemplarmente pintadas, carregam até não poder mais. No estribo traseiro há sempre lugar para mais um. Ou dois, ou três, ou…


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Amarelo, verde e negro. No sul da Mauritânia, onde o deserto se anuncia, tímido, há mouros castanhos que escravizam pretos. O país continua a ser referenciado pelas organizações de direitos humanos como local onde subsiste a escravatura. Há quem garanta que não é verdade. Um ponto a menos para um país muito bonito, que parece dar sinais de abertura. A ver vamos como correm as próximas eleições, marcadas para breve.


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Mini-tempestade. Fora de estação, os grãos de pó do Sahara bailaram e dificultaram a vida ao motorista do velho mercedes entre Noackchott, capital da Mauritânia, e Nouadhibou, no norte. Os 500 km, geralmente "andados" a 120 km/h, foram percorridos bem mais lentamente.


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Scherka. Neste bairro piscatório de Nouadhibou a vida não é mentira. As condições em que habitam e trabalham os africanos (muitos guineenses) que aqui encontrei são do mais abjecto que se possa imaginar. As suas tarefas limitam-se a amanhar o peixe mais barato, aquele que o ocidente não come. Escalam-no, secam-no ou fumam-no e exportam-no para o interior de África, lá onde o mar não chega. Pena que, por ser jornalista, e à conta de andar atrás do tema "imigração clandestina", tenha sido corrido do bairro. Hei-de voltar. Na foto, raias secam ao sol.


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Caravanistas. São franceses, na maioria, e descem até ao Sahara Ocidental. Nómadas à sua maneira, encostam as suas casas rolantes à beira-mar, junto à estrada que passa entre o Atlântico e o deserto. Ali ficam, desfrutando de uma paisagem de sonho. Invejo-os! Embora inveje mais os donos deste país, os Saharauis, que têm uma terra linda, linda (infelizmente não podem dispor dela).


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Nacionalismo hipócrita. As bandeiras vermelhas com a estrela são comuns por todo o Marrocos. No Sahara Ocidental são ostensivas e fazem-se acompanhar por centenas de fotos do rei (tem um ar de tenrinho que faz favor), como que para marcar a soberania e fazer ver a todos que quem manda ali é D. Mohammed VI.

Estória de uma viagem de ida BEDUM POR DOIS DIAS

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No restaurante Diamant Souss come-se a melhor cabra do Sahara Ocidental. O local foi-me imposto na primeira viagem terrestre que fiz entre Bissau e Lisboa. Fica numa pequena vila piscatória, de nome impronunciável, antes de Tam-Tam (para quem vem de sul).

Neste território ocupado por Marrocos, as estradas são longas e as viagens compridas. Entre as principais cidades é comum fazerem-se 500 ou mais quilómetros. No interior dos autocarros que percorrem este país ao sul de Marrocos dorme-se, sobretudo. De duas em duas horas faz-se uma paragem, para que os passageiros possam satisfazer todas as suas necessidades fisiológicas, incluindo comer e beber. Estas paragens têm localidades definidas. E dentro delas, os motoristas dos autocarros escolhem os restaurantes onde encostam os seus monstros de 4 rodas.

Fui numa dessas paragens, madrugada dentro, que o Diamant Souss me foi imposto pelos chaufers da CTM (a melhor e mais segura companhia de transporte para se viajar nas assassinas estradas marroquinas).

No exterior do restaurante, as 18 caçarolas de barro exalavam um odor de fazer crescer água na boca aos deuses. Ao lado, numa grelha, pedaços de carne de cabra cintilavam sobre as brasas. Indeciso entre as duas distintas formas de comer o animal, decidi-me pelo grelhado. A aventura começou aí.

Solicito, o "chef" apontou-me os dois bichos pendurados num janelo ao lado da grelha. Através de um francês arabiado consegui perceber que as cabras expostas aguardavam que clientes com fome escolhessem a parte mais suculenta, que seria cortada na hora. Foi o que fiz.

No Diamant Souss os talheres não fazem parte da mobília. A cabra estava deliciosa, não nego. O bedum entranhado nas mãos o resto da viagem é que não me agradou tanto. No Diamant Souss a casa de banho não tem sabão!

A última vez que por ali passei de boleia nos autocarros dos CTM tornei a parar. Fui cumprimentar o "chef" e tornei a pedir cabra grelhada. O ritual repetiu-se: escolhi a parte do bicho directamente da sua carcaça; aguardei que grelhassem a chicha… Quando chegou a hora de comer saquei do bolso um garfo e um canivete. Não é que me importe de comer à mão, agora cheirar a bedum…

13.9.06

Pirogas da Fortuna II AEROPORTO INTERNACIONAL DE HANN

Praia de Hann, arredores de Dacar. Estacionadas na areia, centenas de embarcações de madeira com diferentes envergaduras aguardam o momento da partida; para a pesca ou para a Europa!

As maiores serão provavelmente escolhidas um destes dias para viajar para as Ilhas Canárias, em Espanha. Chamam-lhes PIROGAS DA FORTUNA. Têm entre 15 e 30 metros de envergadura e são equipadas com um motor fora de bordo de 40 CV, os mesmos que se utilizam nas embarcações de recreio para, por exemplo, fazer ski aquático.

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O bairro foi sempre um pacato subúrbio de Dacar, habitado por pescadores. A partir do início de 2006 ganhou uma agitação fora de normal e um novo nome: AEROPORTO INTERNACIONAL DE HANN. A razão para o título é simples: têm saído daqui para a Europa mais jovens que do aeroporto de Dacar, a poucos quilómetros.

Os habitantes garantem que em cada três jovens do bairro, dois já embarcaram para a Espanha. Ficaram os velhos, as mulheres e as crianças!

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Pirogas da Fortuna INOVOS ESCRAVOS

Recomeçamos a actividade com breves textos, acompanhados de fotos, da viagem entre Bissau e Lisboa, à procura de imigrantes clandestinos e dos pontos de partida para a Europa. No momento em que escrevo, no momento em que o senhor(a) lê este texto, há pirogas com carga humana a navegar no Atlântico. Vão para a Europa cheias de gente que não tem esperança. Algumas dessas pessoas chegarão, outros morrerão de fome, afogados...

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Gorée, pequena ilha frente a Dacar. Durante séculos este local foi um entreposto de escravos. Daqui partiram para a Europa e América milhares de africanos.

O fenómeno da emigração clandestina é visto por alguns senegaleses como uma espécie de retorno ao passado. Um regresso ao tempo em que os africanos (tal como hoje) saíam do continente em embarcações de madeira, sem condições de segurança.

A diferença entre as viagens de há uns séculos e as de agora é apenas uma: antigamente os africanos eram levados à força. Hoje saem por sua vontade.

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Casa dos Escravos, Gorée. Local onde eram vendidos os escravos e de onde partiam, rumo à Europa, América... Daqui partiram milhões de pessoas que nunca mais regressaram.

12.9.06

DE VOLTA

Custou mas foi. Depois de bastante tempo de ausência, primeiro por motivos pessoais, depois por motivos técnicos do servidor do BLOGGER Brasil, estamos outra vez em linha. As postas de e sobre a Guiné-Bissau (e não só) recomeçam. Sejam benvindos (de novo!).
POST UM

Experiência... Um dois um dois...