28.11.07

E AGORA SIM...

Blogo-férias.

Islandia supera a Noruega en términos de desarrollo humano - GB no fim da lista

Islandia superó apretadamente a Noruega como el país con más alto índice de desarrollo humano (IDH), según el último listado divulgado este martes por el Programa de Naciones Unidas para el Desarrollo (PNUD).

El IDH mide logros en términos de expectativa de vida, niveles educacionales e ingreso. Noruega había encabezado la lista en los últimos cuatro años.

El grupo de países con IDH bajo incluye solamente naciones africanas.

1. Islandia

2. Noruega

3. Australia

4. Canadá

5. Irlanda

29. Portugal

175. Guinea-Bissau

176. Burkina Faso

177. (última posição) Sierra Leona

Para ler AQUI

Destaque-se a descida de posição da Guiné-Bissau, pelo segundo ano consecutivo. De quinto a contar do fim, passou para terceiro. Em 2006 era o sexto. Os dados do orçamento de Estado deste ano (e dos anos anteriores) explicam porquê!

A PONTE DE S. VICENTE

Quem quiser acompanhar a evolucao da ponte sobre o Cacheu, tem n´ O CADERNO DE AFRICA uns binoculos. E a obra avanca. Na semana passada, quando atravessamos a decadente jangada, dois pilares estavam ja de pe.

Guiné-Bissau: Defesa consome maior fatia do OGE de 2007

O sector da Defesa absorve a maior fatia do Orçamento Geral de Estado (OGE) de 2007 da Guiné-Bissau, hoje apresentado no parlamento, com uma dotação de seis mil milhões de francos CFA (cerca de nove milhões de euros), disse à Agência Lusa fonte parlamentar.

Segundo a fonte, o ministério da Defesa Nacional detém a fatia de leão num orçamento de cerca de 90 mil milhões de francos CFA (137 milhões de euros), deixando para trás a saúde pública e a educação.

Em conjunto, a dotação orçamental destes dois ministérios supera apenas em pouco mais de dois mil milhões de francos CFA o previsto para o sector da Defesa, com oito mil milhões de francos CFA no orçamento.

Segundo a fonte, a "incongruência" do orçamento situa-se no facto de o governo ter elegido os dois sectores como prioritários na acção governativa.

Ler mais AQUI

27.11.07

BLOGOFERIAS

Por uns dias de viagem, ate ao outro lado de Africa. Talvez de la traga coisas bonitas para postar. Ate breve.

22.11.07

DOIS VERBOS

BRINCAR
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APRENDER
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J’apprends le français. Sala de aula de um quarto ano, no Mali. Exercício: identificar , dentre diversas frases, quais as imperativas, quais as afirmativas, quais as exclamativas e interrogativas. Já visitei salas de quarto ano na Guiné-Bissau. Por pudor não conto o que vi. De português, apenas a data escrita no quadro. Desembro não tinha Z.

TANTO PARA DIZER...

E sem tempo para o fazer. O Mali é uma paixão antiga reacendida nas últimas visitas. Breves fotos para entreter o tempo enquanto se não regressa.

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Baralha-me a cabeça o Níger. Cruzá-lo e adivinhar em que sentido corre é um exercício delicado que quase sempre dá para o torto. É que o Níger não corre para o mar, mas sim para o deserto. Isso só se percebe no alto da ponte, olhando o movimento das águas. Não se chega lá por intuição. O Níger não é um rio, é um acidente geológico.
Siguiri, Guiné. AQUI pode ver-se o mesmo rio, no mesmo local, antes das chuvas.

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Níger, um milhar e picos de quilómetros acima. Mopti.

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Carregando melancia.

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Songo, País Dogon. Pinturas murais iniciáticas.

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Sorriso simples e olhos vivos. Uma bela metáfora para o Mali.

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De raízes para o ar. Floresta de Baobab, Kayes, sul do Mali.

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Gasóleo de manivela. Encher um depósito de 80 litros desta forma dá uma trabalheira! O gasolineiro merece gorjeta.

NO PAÍS DAS FORMIGAS

Falta-me o ar no país Dogon. E não são os 40 graus associados aos 85% de humidade que me põem doente. É o movimento das gentes.

Os tremelicar dos homens montados em burros a caminho da ceifa. O gingar das mulheres nos telhados, estendendo cereais ao sol. A poalha do milho e do sorgo bailando ao sabor do harmattan (vento seco, carregado de poeira, proveniente do Sahara ). Nada está quieto nesta terra. Tudo e toda a gente se move numa agitação delirante e exaltada. Impaciente. Não há cigarras no país Dogon. Apenas formigas. Diferentes das outras, é certo. Não rastejam pelo chão, exibem-se gloriosas ao sol, no alto dos telhados, nas estradas de pó e pedra, para que todos vejam de que é feita a vontade de trabalhar e sobreviver à seca que se aproxima.

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21.11.07

O NARCO-ESTADO NA FRANCE 2 (e-mail de leitora)

Hola Jorge: Soy una asidua lectora de tu blog.

Simplemente comentarte que hoy (21 de noviembre) en el noticiario de France 2 de las 20h00 han pasado un reportaje de unos 7 minutos largos sobre Guinea-Bissau como narco-estado. Simplemente expresar mi frustración al respecto y mi sentimiento de impotencia.

Televisionar ICI.

KADHAFI - O GENUÍNO - II

A tenda de Kadhafi, a logística e as dores de cabeça do protocolo português
Por José Sousa Dias, da Agência LUSA

Visto do ar, o acampamento do líder líbio, Muammar Kadhafi, parece uma pequena cidade em pleno deserto. São dezenas de tendas, grandes e arejadas, brancas, rodeadas pelos camiões de grande porte, que servem os mais variados fins.

O cenário é “algures” a sul de Sirte, cidade situada pouco mais de 400 quilómetros a oeste de Tripoli e onde decorreu, em 2003, um encontro oficial entre o então ministro dos Negócios Estrangeiros português, António Martins da Cruz, e Kadhafi.

A segurança é apertadíssima, embora discreta, e eficaz, sobretudo quando, depois de mais de 200 quilómetros pelo deserto dentro, percorridos em carros de alta potência e cilindrada por auto-estradas largas e vazias, se começa a aproximar da “tenda presidencial”.

As placas de informação de trânsito estão escritas em árabe e há quem diga que as tabuletas a indicar os caminhos estão “trocadas” precisamente para “trocar as
voltas” a um qualquer intruso.

Tudo isto a propósito da anunciada vinda de Kadhafi a Lisboa, onde vai participar na II Cimeira Europa/África, marcada para 08 e 09 de Dezembro próximo, e para a qual o líder líbio já fez avisar o protocolo luso de que não ficará instalado num hotel, mas sim na sua tradicional tenda.

O problema da instalação da tenda de Kadhafi em Lisboa tem subjacente uma logística e um aparato de segurança tão ou mais inusitado que o dos restantes chefes de Estado e de governo dos dois continentes.

E o líder líbio já avisou que trará à capital portuguesa a sua própria segurança, a sua própria logística, o seu próprio equipamento e uma longa comitiva.

Mas voltando a Sirte, a velocidade diminui significativamente à medida que o automóvel se aproxima do destino, ao mesmo tempo que se começa a avistar veículos todo-o-terreno, “armados” com potentes transmissores, o que permite aos que estão à espera da comitiva portuguesa saber a respectiva localização.

Ao longe, a mesma paisagem de sempre, desértica. Pouco depois, uma cáfila de camelos, talvez mais de duas centenas, interrompem a aridez e surgem algumas ligeiras
pastagens.

Os seguranças líbios estão também por perto. Alguns aproveitam as sombras proporcionadas pelos camelos. De 500 em 500 metros há patrulhas e nota-se, a partir da viatura em que se segue, o levantar dos braços, não para saudar os visitantes mas sim para levar à boca os intercomunicadores de rádio a dar conta à “sede” da aproximação da comitiva.

Ao longe avista-se finalmente um acampamento, com muitas e enormes tendas brancas por fora. É lá que se encontra Kadhafi. Os automóveis estacionam, os membros da comitiva saem e é-lhes ordenado que deixem todos os sacos no carro. Martins da Cruz não. Leva um envelope, uma carta do então primeiro-ministro português, José Manuel Durão Barroso, e é acompanhado pelo seu homólogo líbio. Um rápido olhar em redor e notam-se dezenas de “todo-o-terreno”, equipados e armados, estrategicamente colocados a pouco mais de 100 metros do “centro” do acampamento.

Uma ligeira espera e surge Muammar Kadhafi, um dos líderes africanos há mais tempo no poder - desde 01 de Setembro de 1969. É uma figura imponente e trás vestido o habitual turbante, acastanhado, e umas vestes douradas, “equipado" com os tradicionais óculos escuros. Cordial, cumprimenta todos os membros da comitiva portuguesa com um ligeiro sorriso.

O calor é abrasador. Apenas se está bem, algo menos quente, sob as enormes tendas, qualquer uma delas sem ar condicionado. Mas estão lá geradores, que permitem iluminar o acampamento à noite. Há um televisor em todas as tendas, cada um deles ligado a satélite.

Paralelamente, a segurança controla os jornalistas e todos os movimentos que fazem, do olhar para o lado esquerdo ao olhar para o lado direito, é feito com a maior das discrições.

Deambulando pelo acampamento, os jornalistas deslocam-se à casa de banho, um enorme camião TIR, totalmente equipado só com casas de banho e chuveiros. Um segurança segue o jornalista e aguarda-o, ao sol.

Novo olhar em redor e o contraste é gritante: beduínos, berberes e soldados lado a lado com Mercedes e BMW topo de gama, com antenas e fortemente armados. Todos se mostram extraordinariamente simpáticos com os estrangeiros. A segurança na Líbia é levada ao extremo. Aliás, ao lado mais extremo. Rapidamente se sabe por onde andam os sete membros da comitiva portuguesa. O medo dos atentados, dos ataques, de qualquer coisa é evidente. Mas os sorrisos estão sempre presentes.

O regime líbio é, de facto, peculiar e talvez único no mundo. Razões políticas escondem a beleza de um país e a submissão de um povo, que agradece a Deus ter um “guia” como Kadhafi.

Dakar « réclame » une conférence internationale sur la Guinée-Bissau

Para ler ICI

20.11.07

19.11.07

E AS PESSOAS?

Guinée-Bissau: forte augmentation du prix des aliments de base

Podem o aumento dos produtos de base, os salários em atraso e as greves (professores e enfermeiros) despoletar agitação social?

Le Mozambique, plus forte croissance économique africaine - Guinée-Bissau la pire

São números e, como tal, bem evidentes. Enquanto Moçambique cresceu 8,3% entre 1996 e 2005 a Guiné-Bissau cresceu 0,5%. Mais uma "cauda de tabela" a somar a tantas outras nos múltiplos indíces que vão sendo divulgados. Ninguém assume responsabilidades?

FOUTA DJALON ACIMA, EM CIMA...



Na Guiné viaja-se assim. Mais barato e mais arejado.

15.11.07

MAIS QUE MUGABE

Afinal há mais "bicos de obra" para resolver, antes da Cimeira Europa-África. A Argélia, por exemplo, defende a participação da RASD. A imprensa marroquina reage.

10.11.07

PAÍS DOGON

O "país" da terra seca (bancó). A visitar, no Mali. Breves fotos para aguçar o apetite. Mais infos ICI, HERE

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8.11.07

Do Surrealismo aéreo nacional!

DIVULGUEM, PUBLICITEM, DIFUNDAM ESTA ESTÓRIA, POR FAVOR

Ao que chega a incompetência d euma ocmpanhia de bandeira. Não se poderá solicitar à Assembleia da República que proiba a TAP de usar as cores nacionais no seu logo?

6.11.07

ÁFRICA - LIXEIRA DA EUROPA

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Bandiagara, Mopti, Mali

Os europeus insistem fazer de África a sua lixeira. Já não chegavam os automóveis velhos, agora também se desfazem das camisolas do Sporting enviando-as para cá. Só as inocentes crianças lhes pegam. Inadmissível.

QUEM MANDA AQUI NÃO SOU EU, SERÁ ELE!

Digressão a Bissau em 3 parágrafos

1 – A ORIGEM
As notícias que chegam de Bissau não são animadoras, mas também não surpreendam. A culpa de toda esta situação tem um nome: a (dita) Comunidade Internacional. E na Guiné-Bissau essa entidade abstracta tem um rosto muito concreto e visível: ONU e Portugal (junte-se a França e a CEDEAO, num outro plano).

Foram estes países/organizações que armaram a sarilhada em que está metido o país, ao permitirem a candidatura de Nino Vieira e Kumba Yala. Um dia chegará que um ou mais juízes do Supremo virão a terreiro esclarecer quem tomou a decisão final. A “bem da estabilidade” e da “democracia” adiaram o problema, numa lógica de “quem vem atrás que feche a porta”. Chissano (enviado "espacial" de Kofi Annan) e Honwana (representante de Kofi Annan na GB) foram embora. Freitas do Amaral, MNE português ao tempo, reformou-se e Paes Moreira, o representante de Portugal em Bissau, aguarda apenas pela cimeira Europa-África (em breve partirá também). A CEDEAO nunca chegou a entrar verdadeiramente - sempre enviou recados - e a embaixadora de França da altura já era!

Todas estas pessoas, países e organizações cometeram dois erros (mais um): subestimaram Nino Vieira e Kumba Yalá e sobrestimaram Malam Bacai Sanhá (Carlos Gomes Júnior conseguiu convencer meio mundo que o seu homem “limpava a coisa”). Mais, fizeram crer ao Supremo Tribunal de Justiça que a única saída era deixar os dois “ex’s” avançar. O terceiro erro foi não terem escolhido uma terceira via. Uma intervenção militar externa para serenar ânimos, por exemplo (e havia países dispostos a entrar por aí).

Não sei por onde andam Honwana, a embaixadora de França da altura, nem sei para onde irá o embaixador Paes Moreira. Mas imagino as pragas que lhes rogam e rogarão quem os substituiu ou substituirá. A cruz é e será dura de carregar. A mais que… bom, a mais que a Comunidade Internacional, essa de rosto concreto e visível, deixe de tratar a Guiné-Bissau como uma criança de colo, que precisa de tutores, e passe a deixá-la a ela carregar a dita cruz.

2 – RÍDICULO
O recente episódio protagonizado pelo major Baciro Dabó e pela Liga Guineense dos Direitos Humanos (de quem guardava uma óptima imagem, fruto do trabalho da recentemente eleita direcção) não merecem comentários. Um homem com o estatuto do anterior ministro da Administração Interna, que há 15 dias se passeava na capital com uma comitiva policial pouco inferior à do PR não precisa (deixo a questão do “se merece” para outros responderem) que uma ONG denuncie que ele corre risco de vida. Sempre correu e enquanto for vivo (longe ou perto da política) sempre correrá. Porquê tanto alarido?

3 – FUTURO
Toda esta crise permite ver com muita clareza e nitidez que quem manda no país não é o Presidente da República. Nino Vieira é hoje um homem não de pés e mão atadas, mas de mãos atadas aos pés. Sem capacidade de se movimentar sequer. Por tudo isto a predição é inevitável: o próximo presidente da República da Guiné-Bissau será Kumba Yalá. Duas vias para lá chegar: 1 - golpe de Estado, a menos provável pois Kumba Yalá já percebeu que é melhor “a bem” que “a mal”. 2 - através de eleições “livres, justas e transparentes” como gosta a “Comunidade Internacional”. Isto se houver paciência nas hostes balantas – o que parece ser o caso, pois a estratégia de desacreditar Nino Vieira, fazendo-o cometer erros e cair de podre está a dar resultados.

4.11.07

A DIFERENÇA DE SER ESTRANGEIRO

Há tempos, na Guiné-Bissau, perante uma situação delicada de cariz político-militar (como são 99% das situações delicadas na Guiné-Bissau) perguntei a um camarada jornalista guineense se não se juntava a nós (estrangeiros) na cobertura.

Resposta:

- Vão vocês. Vocês são brancos e eles [militares] não vos chateiam. E se chatearem têm uma embaixada que vos ajuda. Eu, se tiver um problema, dependo de mim próprio.

A postura deste jornalista bissau-guineense serve-me de mote para a situação que vive Moussa Kaka, correspondente da RFI no Níger.

Moussa Kaka está preso desde o dia 20 de Setembro, porque o tirano Mamadou Tanja, presidente do país onde nasceu Moussa, achou que o jornalista tinha atentado contra a segurança de Estado. O que fez Mussá Kaka? Foi ouvir o outro lado do conflito que opõe o Níger aos rebeldes tuaregues. Quando voltou do deserto foi preso.

E se o caso se tivesse passado com um jornalista francês (ou de qualquer outra nacionalidade)? Em primeiro lugar o tirano Tanja (que actuou como bombeiro por diversas vezes na Guiné-Bissau, no mandato de Henrique Rosa, para evitar que os militares tomassem conta do pai's) não teria mandado prender o jornalista. Em segundo, caso tivesse tido essa ousadia, as autoridades francesas (ou do país de origem do jornalista) teriam actuado de imediato (admito que estejam agir neste caso, mas não da mesma forma como agiriam se fosse “um dos seus”) (Veja-se a viagem relampago que Sarkozy fez hoje - e muito bem - ao Chade, para trazer de volta os jornalistas franceses).

Se é verdade que em países não democráticos TODOS os jornalistas estão à mercê dos tiranos que ali mandam, não é menos verdade que quem mais sofre acabam por ser os jornalistas nacionais desses países. A eles a nossa homenagem.

ABAIXO-ASSINADO PARA A LIBERTAÇÃO DE MOUSSA KAKA

Enviar e_mail para: moussa@rfi.fr


ADENDA: Já que falamos de jornalistas, uma palavra para o recém-criado Observatório da Liberdade de Imprensa e Ética Jornalística da Guiné-Bissau (OLIEJ). Começaram discretos, mas no silêncio vão fazendo o que há a fazer. E é muito. Os nossos parabéns e votos de bom trabalho. Contem com o AFRICANIDADES para ajudar a “fazer barulho”.

1.11.07

UN HOMME VERY CONFUSED

Comecemos por classificar o Moisés: um falhado na vida e ao mesmo tempo um empresário de sucesso. O retrato típico e fiel do africano que procura emigrar como clandestino: tem dinheiro e investe-o n’ “A Viagem”

Uma hora e 4 “bazucas” de meio-litro (bebidas a meio) bastaram para me fascinar com o perfil deste nigeriano-camaronês, cozinheiro, empresário, contador de estórias e mais algumas coisas que não ficaria bem dizer aqui.

O Moisés tem uma cabeça que funciona a 100 à hora. Mmmm, não! Estou a ser generoso. Acrescente-se-lhe um zero: 1000 à hora. Ainda não colocou o ponto final na frase que debita e já está a acentuar as palavras e a colocar as vírgulas do parágrafo seguinte. Falar com ele e beber cerveja é perigoso, pois a boca vai ao copo à mesma velocidade com que as ideias saem da sua cabeça. Em suma, o Moisés tem a língua ligada ao cérebro e uma particularidade que dá graça ao seu discurso: quer fale francês ou inglês, as frases terminam sempre com “brother” ou “friend”.

A conversa entabulou-se no exacto momento em que o ouvi falar um inglês perfeito, pouco próprio de um francófono.

- Moisés, tu não és daqui, pois não?

Estamos em Mopti, uma região turística 600 e alguns quilómetros a nordeste de Bamako, no Mali. O deserto começa poucas centenas de quilómetros acima.

- Moi? Je suis venu de Nigeria, brother!

A partir daqui, Moisés desbobinou a vida de enfiada. Metade em francês a outra metade em inglês, como a sua genealogia. A mãe, camaronesa. O pai, nigeriano. Tirou um curso técnico de cozinha. Trabalhou nas plataformas de petróleo.

- Eu era um gajo rico, my friend! Trabalhava três semanas a cozinhar para os brancos como tu e passava uma em casa, brother. Eu? Heeee… Brother… Eu tinha tudo o que queria!

Um dia, Moisés quis mais. Decidiu fazer-se à estrada. Destino, claro está, Europa. Saiu de Lagos, na Nigéria, e subiu no mapa: Benin, Burkina-Faso e Mali. “Aterrou” em Gao, no grande norte, à entrada do Sahara.

Não vale a pena contar em detalhe a viagem de Moisés, daqui em diante. É igual a milhares de outras. Andou pelo deserto. Pagou a mafiosos que lhe prometeram a terra prometida. Foi enganado. Pior! Foi preso e abandonado nas areias do Sahara pela polícia marroquina.

- Os filhos da puta são racistas, friend! Pegavam em nós e deixavam-nos no deserto sem água nem comida! Bebi urina. Sim brother, teve que ser!

Moisés resistiu. De todas as vezes (3) conseguiu “encontrar” o caminho de regresso. Leia-se “pagar a marroquinos que o levassem de volta”. 3 anos foi mais ou menos o tempo que demorou chegar de Lagos ao norte de Marrocos. Moisés instalou-se, por fim, na floresta à espera da oportunidade de passar o estreito.

- Foi a parte mais dura da viagem, brother! Perdi toda a minha beleza. A pela descascava. Parecia um macaco a coçar-me. Fiquei magro como o pau de uma árvore. Sem carne! Quase não tinha pescoço, aqui atrás, my friend... A cabeça ligava directamente às costas!

Sofrimento em vão. Nunca pôs os pés em Espanha. Brinco com ele e pergunto se não tentou abrir caminho no Estreito, como o profeta fizera no Mar Vermelho. Moisés não conhece a passagem bíblica!

Um dia o dinheiro acabou e Moisés fez o caminho de volta.

- Voltar foi mais rápido e mais barato, brother. Sabes que os polícias nas estradas e nas fronteiras têm pena de nós e não nos pedem tanto dinheiro como quando estamos a sair.

O centro-nordeste do Mali foi o destino. Bandiagara, cidade turística, o local ideal. Moisés percebeu que o mercado do turismo lhe podia dar o que a Europa não lhe deu. Hoje tem um restaurante e voltou a ter dinheiro na conta bancária.

- Aqui ganho o dinheiro que quero brother. Há noites em que faço 500.000 Francos CFA (cerca de 750 Euros). Heee brother, na época alta, os turistas fazem fila… Chego a ter aqui na esplanada um grupo de 20. Lá dentro outro. E mais malta à porta à espera.

Apesar de tudo Moisés não é feliz e quer "voltar a tentar". A família pensa que ele está na Europa. Ele ilude-a. De olhos no chão dá-me o como e o porquê de uma aventura que um destes dias irá recomeçar.

- Todas as semanas lhes mando dinheiro, friend. E ligo a dizer que estou bem e que a Europa é bonita. Que faz muuuuuito frio!

Moisés acentua o “muito” como se conhecesse na perfeição a terra prometida. Continua a lamentação.

- Não tenho coragem de voltar a casa. Tenho vergonha de não ter conseguido, brother. Quero voltar a tentar, mas de outra forma. Preciso de contactos. Não tens contactos?

A angústia de Moisés faz-me pensar um pouco. Mas não, não o posso ajudar. Pelo menos por agora. Peço-lhe o número de telefone e Moisés responde-me com o e-mail.

- Se um dia souber de algo aviso-te Moisés. Fica descansado.

Antes do último gole ainda lhe dou umas dicas. Conto-lhe como amigos meus foram à (ou para a) Europa da forma mais simples possível. Barato. Quase de borla. E de avião, com refeição, coca-cola e sorrisos servidos a bordo! Conto-lhe até como um dia, há muito tempo, um pobre bissau-guineense sem dinheiro sequer para o bilhete de candonga até Dakar, me tinha aparecido com o passaporte carimbado.

-Sabes Moisés, o branco não é tão esperto como parece. È fácil enganá-lo. Só precisas pensar um bocadinho, brother!