29.1.08

SERRA LEOA: PÓ, DIAMANTES E PILOTOS DE CADEIRAS

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A capital do país, Freetown, presta-se a jogos de palavras. A liberdade que transpira do “Free” é um embuste. Freetown é um vocábulo de sentido renegado e contrafeito. Podia dar mil e uma imagens para provar esta mentira etimológica. Fico-me apenas por uma, que se me colou à retina e não consegui fotografar. Já lá chego...

As ruas de Freetown são um carrossel de alcatrão, buracos e pó. Muito pó. Pó de poeira e pó de escape de automóvel. Serpenteiam as colinas onde a cidade se ergue, estas ruas. São estreitas, apertadas, mas nela cabem lado a lado todos os automóveis que a teimosia humana conseguir lá enfiar: os que sobem a rua, os que descem a rua e os que se prostram, estacionados, de um lado e de outro da rua. No meio deste caos que dura 16 horas, das 24 que tem um dia, há motos, peões e animais que gincanam a babel automobilística de improvável desentupimento.

E há uns miúdos especiais, que descem em cadeiras de rodas, manhã cedo, as colinas de Freetown. A 60 à hora, atropelando galinhas, pisando peões, quebrando retrovisores e riscando pinturas riscadas de carros velhos e estafados, estes pilotos sem volante desafiam trânsito e buracos, bem instalados nas suas máquinas roladoras. Foram estes miúdos que me explicaram Freetown e que me disseram que, afinal, a única liberdade que aqui existe é a deles, no preciso e exacto momento em que deslizam colina abaixo com as t-shirts esburacadas a adejar ao vento.

São mutilados de guerra. Faltam-lhes braços e pernas, decepadas por minas ou cortadas por instrumentos afiados. O ódio que polvilhou os dias da guerra da Serra Leoa (e da Libéria, ali ao lado) tinha um brilho e uma dureza especial, como a extremidade dos instrumentos que deceparam as pernas e os braços destes adolescentes pilotos de cadeiras de rodas: o brilho do diamante, o mais duro de todos os minerais e o único capaz de se cortar a si próprio e tudo o resto no mundo. Mesmo pernas e braços.

A corrida tem um objectivo particular. Lá em baixo, onde ficam os bancos, há dinheiro nas carteiras de quem usa carteira e vai ao banco. Quem primeiro chegar, primeiro começa a arrecadar as moedas que lhes permitirão, ao fim do dia, pagar a subida da colina. Aí não haverá força da gravidade para dar ligeireza e vertigem à viagem. Ser empurrado, colina acima, ao final da tarde, devolverá a Freetown a mentira penosa e dura que ela é. A liberdade ainda não chegou. A guerra ainda não acabou. Recomeça todas as tardes, quando estes jovens voltam a casa empurrados por quem tem braços e pernas para subir a colina.

UM LUXO DE MISÉRIA CONSTRUÍDO

Para ajudar ao desalento expresso dois textos atrás, leitura da belíssima reportagem de Luís Pedro Cabral no Expresso. Luanda de luxo, chega-me via ANGOLAXYAMI e é de leitura obrigatória para quem queira perceber África. Este continente é, sem dúvida, um case-study.

Como é possível? Como é possível os que não “conseguem ter nada” não se revoltarem contra os que “se incomodam porque não conseguem ter tudo”...

Alguns excertos:

Tudo falta. Tudo se arranja. Só os limitados conhecem como são duros os limites. E guardam isso para eles, como se guardassem um segredo. Os que navegam na zona franca do «cash-flow» saboreiam esta nova Angola que superou o colonialismo português, mas não o arrumou, que saiu de uma longa guerra civil, mas não sarou todas as feridas, que tem abundância de petróleo e diamantes e transborda pobreza a cada rua. E transborda riqueza, como certa roupa interior num vestido apertado. É a Angola dos descendentes da ascendência, ínfima minoria. Alto negócio, carro de luxo, charuto, helicóptero, iate e champanhe, apartamento na cidade e casa no campo, da política de relacionamentos, do apetite sôfrego das economias internacionais.

(…)

Tantas coisas dividem esse mundo deste, só mesmo imponderáveis os podiam unir num problema comum, sublinhando a diferença que os separa: uns incomodam-se porque não conseguem ter tudo. Outros sofrem porque só conseguem ter nada.

(…)

Se escavar um pouco do seu solo, é provável que encontre petróleo ou diamantes. A escavar no seu musseque, só encontra musseque.

TÃO CHIMPANZÉS COMO NÓS

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"Os humanos são mesmo macacos!"

Tacugama Chimpanzee Sanctuary, Sierra Leone

DESAPATIA

Há dias em que uma espécie de desânimo, agonia toma conta de nós. 28 de Janeiro de 2008. Levantar cedo para ir tratar de 1001 afazeres. Antes fazer chamadas para confirmar reuniões e trabalhos há muito agendados. A agonia de uma jornada de desespero e apatia. O receio que o ansiado desenvolvimento não chegue nunca a esta parte do mundo.

DESESPERO

Primeira etapa: confirmar carpinteiro. Do lado de lá do éter, por telemóvel, resposta negativa. “Pardon, mas… eu não trabalho hoje.” O motivo é o jogo. Que amanhã sim senhor…

Segunda etapa: banco. Rodos de gente que se encavalitam uns por cima dos outros. Hoje é dia grande e todos precisam de dinheiro, para gastar, para comprar alegria. Se tudo correr bem, o Syli passará aos quartos de final do CAN. Frente à caixa, a fila de hoje não é maior por haver mais clientes. É maior por haver menos empregados. “Estão em estágio”, como os jogadores do Syli. Ficaram em casa a preparar o jogo, que será transmitido às 17 horas.

Terceira etapa: confirmar reunião agendada há uma semana. Mil desculpas do outro lado da linha. Paciência, mas hoje é dia de jogo. Talvez amanhã, mas vai depender de como correr hoje. Que volte a ligar, cedinho cedinho… Para confirmar. É que se o Syli passar, amanhã ainda haverá festa e dores de cabeça.

Quarta etapa: papelaria. Dispostos no balcão de madeira comprido de 5 metros há cinco empregados. Um metro de balcão para que cada um possa repousar sossegado a cabeça. Primeira tentativa, junto do empregado com ar menos sonolento. Que me dirija à colega do lado. Pastas de arquivo, tem? Estão esgotadas. Saio, não sem antes pedir desculpa aos cinco por ter importunado o merecido descanso no local de trabalho.

Quinta etapa: 14.30H. Regresso ao banco para avançar a empreitada começada horas atrás. Porta fechada. O banco não abriu da parte da tarde. Hoje é dia de jogo. Ninguém avisou de manhã? A decisão foi tomada ao almoço.

APATIA

No livro “A riqueza e a pobreza das nações”, o primeiro capítulo (Desigualdades da natureza) é dedicado ao clima. Nele David Landes tenta justificar porque são subdesenvolvidos todos os países entre trópicos. O clima, húmido e pesado, é apresentado como justificação.

Já fui defensor desta teoria, mas cada vez mais me inclino para uma outra. O subdesenvolvimento é reflexo de uma apatia generalizada, uma falta de vontade de trabalhar apenas porque… trabalhar cansa. E para este facto nem sempre o salário pesa. Quer se ganhe pouco quer se ganhe muito, o importante é “ter o corpo” no local de trabalho, à espera do dia 31.

Há excepções. Há nos trópicos quem muito trabalhe. Mas acaba por ter de fazer o trabalho dele e o dos que nada fazem e por isso também acaba cansado.

28.1.08

AEROPORTO DE DAKAR

Madrugada. Entre um avião e outro (o que me trouxe da Europa e o que me levará à África que Dakar não é) decido subir ao primeiro andar do aeroporto.

Às 4 da manhã, o sossego do restaurante contrasta com a efervescência da plataforma e da pista. À porta, o segurança vai dizendo que sim a pergunta nenhuma, procurando manter na vertical a cabeça. O único empregado da sala, mais assumido, resignou-se e estiraçou-se ao comprido sobre quatro cadeiras. Não se levanta para me atender. Quando pergunto se há que se beba, aponta um frigorífico, ao fundo, e balbucia:

- Allez-y.

Apenas uma coisa, para além de mim, perturba a modorra teatral da sala do restaurante: um pequeno ratinho, que febrilmente se aproveita da apatia dos humanos.

Lá fora há aviões que chegam e partem, num vai-e-vem regular entre dois mundos, o do tudo e o do nada. Dacar, o nada, Paris, Bruxelas, Lisboa, Madrid, Lyon, Atlanta, Roma, New York, Joanesburgo, Milão, Marselha, o tudo.

Cá dentro, entre cada avião que parte e outro que aterra, entre cada cabecear do segurança e cada ressonar do empregado de sala, o ratinho vai-e-vem, também ele, entre o tudo e o nada. Do seu buraco, miséria, para a cristaleira do restaurante, fartura, onde pão de trigo jaz abandonado.

Para não acordar os outros, sugiro-lhe em surdina que coma do pão a maior quantidade possível. Antes comer ele que um qualquer turista, antes de embarcar para casa.

25.1.08

ASSIM NASCE UMA PONTE...

A ponte de S. Vicente avança. Alguns dos pilares estão no ar. Os primeiros 30 metros de tabuleiro já existem. Falta pouco para o Senegal ganhar mais uma província.

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Um olhar mais técnico e mais próximo sobre a obra, AQUI

23.1.08

ESTRADAS DE PÓ

Há uma cantiga interpretada pelo cubano Manuel Guajiro Mirabal que diz assim:

A Morón no vuelvo más, si no hay carretera
¿Y porqué?
Porque una vez yo salí de Ciego para Morón
El camino era de polvo y polvo me volví yo…

Quem assim pensar no grande continente, está bem amanhado! Não sai de casa.

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Algures entre Conakry e Freetown

SUMA GALINHAS – A propósito da falada reforma das FA na GB

Começo este texto por dizer – para evitar mal entendidos e uma eventual ida ao Quartel-General – que nada me move contra as Forças Armadas guineenses, nem contra os homens que a integram.

A famigerada “Reforma das Forças Armadas” guineenses (uma mais na história do país, por isso tem honras de letra maiúscula) parece que vai arrancar em breve.

Não é a primeira. Muitas se fizeram antes. Dinheiro para a desmobilização, uma enxada, umas telhas de zinco para a casa e um “boa viagem até à tua tabanka”. No primeiro golpe, contra-golpe, tentativa de golpe ou rumor de golpe os desmobilizados regressam a Bissau. Sem enxada, sem dinheiro e sem telhas de zinco, mas com uma AK nas mãos. E por lá ficam.

Do pouco que vou lendo e escutando do muito que se tem escrito e falado sobre reformas militares em África, uma de duas condições é indispensável para uma efectiva e verdadeira reforma: um aparelho de Estado forte, que domine o aparelho militar (Angola, por exemplo) ou uma intervenção externa (o exemplo da intervenção britânica na Serra Leoa). Ora a Guiné-Bissau, que não tem um aparelho de Estado forte, nunca conseguirá Reformar as suas Forças Armadas. A mais que… pois, exactamente! Mas a segunda hipótese não interessa a ninguém. Nem aos políticos e Forças Armadas guineenses, que com os olhos da comunidade internacional lá metidos perderiam “capacidade de manobra”, nem à comunidade internacional, que teme uma resposta idêntica à que foi oferecida aos “invasores senegaleses” em 1998.

De vez em quando dou boleia a militares, nas estradas da Guiné-Bissau. Não com muita frequência, mas de quando em quando faço-o com dois objectivos utilitários: ajudar os homens a regressar a casa e sentir a temperatura nos quartéis. Numa das últimas boleias, exactamente conversando a propósito da reforma, perguntava a um militar o que pensava da dita.

- Suma general Tagmé fala, i misti fasi Reforma pa dipus bin panhanu suma galinha. (Como disse o general Tagmé, eles querem fazer a Reforma para depois nos apanharem como galinhas).

Acrescente-se, a bem da contextualização, que o jovem militar era de etnia balanta.

Não conheço esta frase do Chefe de Estado-maior General das Forças Armadas, mas dias depois foi-me confirmada por um jornalista guineense.

A ser verdade (admito que não seja) encarna na perfeição o espírito com que se parte para (mais) esta Reforma. Oxalá me engane!

21.1.08

O CAIXA ADIVINHADOR

Um dia destes entrei numa agência bancária em Tambacounda, leste do Senegal. Já com umas boas horas de condução em cima, vindo de Bamako, tentava, então, trocar dinheiro que me permitisse chegar a Bissau.

Ao entrar na dita agência, exclama o caixa, antes que eu tivesse tempo sequer de o saudar:

- Bonjour mon portugais.

Ou estou cansado demais e deliro; ou alguém me escreveu na testa que sou tuga, pensei.

Passei as mãos pela testa. Não havia vestígios de tinta. Quando o meu amigo caixa, antes mesmo que eu me refizesse do espanto, começou a cantar Linda de Suza, percebi que também não estava a delirar:

- Deux valises en carton sur la terre de France. Un Portugais vient de quitter son Portugal…

Como raio teria o homem adivinhado que seria português?

- Mon frère, mas como é que sabes que sou daquele país pequenino e insignificante ao lado da Espanha.

- Então tu não estás a trabalhar na estrada de Dacar?

Desfeito o imbróglio. A estrada Tambacounda-Dacar, pelos vistos, está a ser construída por portugueses.

LITERATURA DE VIAGENS (EM PORTUGUÊS)

Lidos de uma assentada este fim-de-semana, em que as ruas de Conakry ficaram intransitáveis.

A balada do Níger (e outras estórias de África), de Amílcar Correia
O mais genuíno e útil dos três. Conta as estórias do autor e ao mesmo tempo abre pistas para outras leituras, outros viajantes, outras viagens. Certos aspectos referidos por Amílcar Correia, relativos ao rio Níger e a Inhambane, são coincidentes com o que também já aqui escrevi. Juro que não tinha ainda lido o livro, quando falei sobre estas duas “geografias”.

África Acima, de Gonçalo Cadilhe
Desmistifica África. Afinal, descobriu o autor, não é o continente das doenças, dos canibais e da insegurança. Ainda bem.

Viagens Sentimentais, de Tiago Salazar
Ao contrário dos dois anteriores, mochileiros puros, este livro fica mais pegado aos destinos dos circuitos. No entanto a conjugação das palavras do autor, com as de quem passou antes pelos mesmos locais, encaixam na perfeição e fazem-nos viajar (que é o que se quer).

19.1.08

MIGRAÇÃO INTRA-AFRICANA II

Togoleses expulsos da Guiné-Equatorial.

Tinham como destino o Gabão.

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CARNAVAL FORA DE TEMPO

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Por estes dias há uma folia, um Carnaval antecipado, nas ruas de Conakry. O CAN (Campeonato Africano das Nações em futebol) ainda não começou. O Sily National (Elefante Nacional), ainda não jogou. Mas a festa já dura há 10 dias.

10 longos dias em que, 24 sobre 24 horas, a música não cessa de tocar nas grandes colunas instaladas à porta das habitações e nos pequenos bares espalhados um pouco por toda a cidade. Velhos e novos dançam dia e noite frente a estas discotecas improvisadas ao ar livre. A poeira eleva-se no ar e dá à cidade um ar caduco e deprimente, embora festivo. Embaladas pelo som, crianças passeiam-se, meneando-se também elas, de apito de plástico na boca, sempre a soprar e a fazer barulho. Adolescentes, trajados a rigor, oferecem a quem passa de carro tiras e galhardetes com as cores nacionais por 500 francos, 8 cêntimos de Euro. E camisolas de vários tipos, bonés, equipamento completo, fitas para o cabelo, porta-chaves, bandeiras, bandeirinhas e bandeironas da selecção… Pode não haver dinheiro para comer, mas há dinheiro para apoiar o “Elefante Nacional”. A conta bancária criada para o efeito, aliás, encaixou o equivalente a 150 mil dólares americanos doados pelos guineenses nas últimas semanas.

O futebol faz, por estes dias, esquecer que um diferendo entre Presidente e primeiro-ministro pode rasteirar de novo a precária estabilidade do país. Talvez no dia em que o CAN termine, os milhares de apitos que agora se ouvem na boca das crianças, 24 sobre 24 horas, não sejam para foliar, mas para assinalar todos os penalties e foras-de-jogo cometidos pelos políticos guineenses.

Coragem Elefante. E boa sorte.

ADENDA: O CAN arranca amanhã, dia 20, no Gana. Guiné e Gana darão o pontapé de saída. Angola é a única equipa lusófona representada.

17.1.08

"ANTES DO FUTEBOL HÁ QUE PENSAR EM COMER"

Bocundji Ca, jogador bissau-guineense do Nantes, clube da primeira divisão francesa.

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FIJ APELA AO FIM DAS AMEAÇAS CONTRA JORNALISTAS NA GUINÉ-BISSAU

A Federaçao Internacional dos jornalistas (FIJ) condenou hoje os recentes actos de intimidaçäo do jornalista Albert Dabo na Guiné-Bissau pelo o Chefe da Marinha Nacional, o Contra Almirante José Americo Bubo Na Tchuto, assim como as ameaças de morte anonimas que o jornalista recebeu através de telefone.

(...)

Albert Dabo, que trabalha com Agência Reuters e com a estaçâo da radio privada Bombolom FM, recebeu as ameaças de morte desde do mês de Junho.
Em razao da gravidade destas ameaças, ele tinha entrado na clandestinidade durante um certo periodo, mais as ameaças recomeçaram.

No dia 7 de janeiro de 2008, senhor Tchuto parou sua viatura na circulaçâo na capital de Bissau, e mostrou seu punho de uma maneira ameaçadora ao senhor Dabo. Algumas horas mas tarde, o jornalista recebeu uma ameaça de morte por telefone.

Apos a queixa do Chefe da Marinha contra Dabo, este ultimo foi inculpado em Agosto por difamaçäo, violaçâo de segredos de Estado, denuncias calomniosas abusos de liberdade de imprensa e colusâo com os jornalistas estrangeiros.

Para mas informaçoës, é favor de contactar o numero 00 221 33 842 01 43

EMIGRAÇÃO CLANDESTINA INTRA-AFRICANA

Em dois dias, duas notícias falando da detenção de emigrantes clandestinos africanos... no seu continente. O fenómeno não é novo. Ele existe há largos anos (que nós conheçamos) em Angola e África do Sul. No entanto, os casos que hoje abordamos dão que pensar por dois motivos:

1 - as distâncias a que ficam os países de origem dos de destino.
2 - os países de origem serem os mesmos de onde saía (e sai) grande número de emigrantes para a Europa.

Será que, com as portas do norte a fecharem-se, as rotas da emigração se estão a virar para sul, para os países africanos onde existem oportunidades, nomeadamente ouro, diamantes e petróleo?

Moçambique deteve ontem 50 clandestinos guineenses (de Conakry). AQUI

Ao largo da Guiné-Equatorial foi interceptado um barco com 203 pessoas a bordo. Os emigrantes, prodedentes da Nigeria, Senegal, Guiné, Mali, Burkina Faso e Níger, tinham como destino o Gabão e a própria Guiné-Equatorial. AQUI

16.1.08

INFORMALIDADE

Gosto de África por vários motivos. Um deles a informalidade.

Após ter deixado o passaporte por 3 dias, na secção consular de uma embaixada africana, sem que me tenham dado qualquer documento justificativo (nem um recibo), perguntei:

- Então eu fico sem passaporte este tempo todo! Como faço se a polícia me pedir a identificação?

Resposta do consul:

- Dizes ao polícia para ligar para mim. Monsieur Camará, aponta aí o número.

Assim fiz. Não tenho passaporte, mas tenho o número do Sr Camará, que vale muito mais que um documento de 32 páginas, cheio de letras e carimbos!

14.1.08

GUINÉ-BISSAU PEDE AJUDA PARA LUTAR CONTRA TERRORISMO

Previsível. Tal como escrevemos há dois dias, aí está o aproveitamento da situação.

GUINEA BISSAU CALLS FOR HELP TO FIGHT TERRORISM

SOBERANIAS, AMEAÇAS E ETECÉTERAS

Certos intelectuais bissau-guineenses sempre tão defensores da sua soberania, não falaram desta vez. A extradição/expulsão (não se sabe ao certo) dos alegados terroristas mauritanos para o seu país de origem fez-se sob pressão externa e em tempo recorde, antes que eles fugissem. E parece que fora da legalidade. Ao que sei o processo não chegou às mãos do tribunal, ficou-se pela PJ/Ministério da Justiça, órgãos sem competência para extraditar ou expulsar. A serem verdade os dados que nos foram diponibilizados, foi a Ministra da Justiça que assinou o documento de extradição/expulsão. Absurdo e impensável num Estado de direito (com d pequeno) como (diz ser) a Guiné-Bissau.

França sabia que o risco de “evaporação” dos mauritanos era elevado, já que no país não existem prisões e o sistema policial, político e judicial é permeável a todo o tipo de ameaças (que não terroristas!). Por isso pressionou!

Não sendo jurista não vou entrar na matéria, mas apenas levantar questões. Aos juristas de responder.

1) A Assembleia Nacional Popular assinou uma série de convenções que ainda não foram promulgadas pelo PR. Carlos Vamain, jurista, chamou a atenção para o assunto na devida altura.

Aparentemente foi encontrada outra fórmula de extraditar/expulsar os dois suspeitos: através da Convenção da União Africana para a Prevenção e Combate do Terrorismo. Terá esta Convenção sido devidamente ratificada e promulgada pela Guiné-Bissau? Fica a questão.

2) Proibindo a Constituição guineense a pena de morte, os juristas subentendem que de igual modo não se permite a extradição/expulsão para países que a aceitam. Ora, a Mauritânia prevê ainda a pena de morte. É constitucional o acto?. Mesmo sendo coloca-se o problema ético sobre o sistema jurídico guineense (neste caso a senhora ministra que, ao que parece, tomou a decisão). Vamos fazer aos outros na terra deles o que não permitimos que se faça na nossa?

3) Há ainda outro facto dúbio, que levanta questões. Três sujeitos, ao que parece também mauritanos, foram presos por fotografar e/ou filmar as instalações da Polícia Judiciária guineense. Este facto basta para enquadrar a decisão de os extraditar no molde "legal" da anterior? Foram presentes a um juiz? E se fosse um senegalês, chinês ou luxemburguês, a filmar, no mesmo dia, as ditas instalações (onde certamente se instalou um circo mediático e de curiosos que despertou a curiosidade de muitos mirones)? Teria a decisão sido a mesma?

A fragilizada justiça guineense sai deste caso mais fragilizada ainda. Mas o país sai também. Demonstrou incapacidade de tratar devidamente um processo muito delicado. Antes disso, a pressão (desconfiança, leia-se) da comunidade internacional foi um cartão vermelho à Guiné-Bissau, uma prova que não sente nenhuma segurança no seu sistema judicial e político. Se assim foi desta vez, que a postura seja mantida no futuro, relativamente a matérias que afectam bem mais a vida de todos os guineenses que dois alegados terroristas escondidos no país. Por uma questão de coerência da (dita) comunidade internacional. Apenas por isso.


ADENDA: A ameaça lançada das escadas do avião por um dos detidos deve ser relativizada até prova em contrário. No entanto há que perguntar o que acontecerá à Àfrica sub-sahariana se grupos terroristas se começam a lembrar de atacar aqui. Com secretas mal formadas, que não servem para mais nada que não seja evitar golpes de Estado, e com sistemas policiais anacrónicos resta rezar a Alá para que os grupos terroristas tenham compaixão destes países.

PROFISSIONALIZAÇÃO DA CLANDESTINIDADE

Los inmigrantes argelinos aprenden a resistir a los naufragios antes de inmigrar hacia España

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12.1.08

VIAJAR EM ESPÍRITO

Certo dia, em conversa com um missionário amante de Angola, após longo tempo sem o ver, questionei-o:

- Então?... E tem viajado até Angola?
Resposta:
- Vou lá todos os dias. Em espírito.

Acontece-me o mesmo com Moçambique. Não há dia que lá não dê uma saltada!

Fotos de Maputo.

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O QUE FALTA CONTAR?

A prisao dos alegados membros da Al Qaeda em Bissau ainda fará correr muita tinta. O nervosismo e estupefacção das representacões diplomáticas ocidentais no país (e em Dacar também), pode querer dizer que ainda não foi tudo contado. Aguardemos para ver. Há que prever ainda com um eventual aproveitamento da situacão, por parte do poder político guineense. É cedo para conclusões.

REVISTAS DE… FICAR EM CASA

Algumas revistas de viagens devem irritar quem ama viajar. A mim não, pois há muito que percebi o embuste que são e, por isso, não as compro.

Algumas razões:

1) Quando falam de destinos “tropicais” (uma palavra bonita para países pobres) é de bradar aos céus. Desde logo porque recomendam tantos medicamentos para a profilaxia das milhentas doenças que aqui existem que, se os leitores os tomassem todos, adoeciam antes de partir.

2) Depois, porque só falam de hotéis bonitos e caros. Ora, quem compra esse tipo de revistas não tem dinheiro para entrar nesses hotéis. E quem tem dinheiro para entrar nesses hotéis não compra essa merda de revistas.

3) Depois, porque mostram sempre as mesmas imagens tipificadas e idiotas: elefantes a beber água ao pôr-do-sol, praias de águas turquesas com redes de dormir penduradas em coqueiros…

Imagino a decepção dos leitores, uma vez nos locais, ao repararem que:
- onde os elefantes bebem água o sol não se põe (a foto é de qualquer outro parque natural);
- a água azul-turquesa só existe na maré-cheia, e que o resto do tempo a praia é um lodaçal de caranguejos e pobres pescadores;
- que os coqueiros já foram comidos pela água salgada e que as únicas redes dos hotéis são as mosquiteiras das camas.

4) Como se não bastasse, alguns dos argumentos utilizados para levar o leitor até aos destinos, hotéis e restaurantes são, no mínimo, patéticos. Vejamos:

Rotas do Mundo de Janeiro. Para justificar que não a comprei (dificilmente o faria), refira-se que me foi oferecida num voo.

Destino, Marraquexe. Sugestão: dormir no Riad El Fenn. Porquê? Porque “pertence a Vanessa Branson, irmã do poderoso patrão da Virgin”, e porque “tem cinco piscinas, um spa, cinema, um bar e um restaurante”. O patego português, que vai para o Algarve em Agosto, não para ir à praia e descansar, mas para ver o casal Mccan a sair da Igreja da Luz (são estes os únicos tugas que compram uma tal revista) está nesta altura do texto quase convencido em ir até Marraquexe. Mas o jogo de cintura, por parte do jornalista (jornalista?), não terminou ainda: “Annie Lennox, Sacha Baron Cohen entre outras personalidades ficaram aqui”. O argumento que faltava. A escolha está feita quando o patêgo tuga descobre que afinal dormir nas camas onde esta gente se espojou antes custa 270 euros por noite. Afinal o parque de campismo da Lagos é bem mais barato (e fica mais próximo da Igreja da Luz).

O mau jornalismo em algumas revistas de viagens é gritante. E a falta de ética também, pois na generalidade as viagens e as estadias até muitos dos destinos apresentados são pagas por companhias aéreas e hotéis com interesses nesses destinos, sem que essa oferta seja mencionada no texto.

Termino com mais uma pérola da Rotas e Destinos de Janeiro. O Malawi simplesmente desaparece da infografia que “pretende” mostrar ao leitor onde fica a Zâmbia.

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O falso mapa da revista, sem Malawi.

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Um mapa bem desenhado, onde o Malawi existe.

Mau jornalismo. Definitivamente.

PIADA DE MAU GOSTO (e sem razão de ser)

A Polícia Judiciária guineense enviou um telegrama urgente às autoridades francesas e mauritanas pedindo-lhes que viessem buscar os dois presumíveis terroristas, antes que a Al Qaeda suborne meia-dúzia de pessoas e eles se evaporem sem que ninguém tenha visto. "Se 700 quilos de droga desapareceram e não tem pernas, 140 quilos de gente podem desaparecer mais rapidamente ainda", lia-se no telegrama.

9.1.08

TRÊS ANOS DE PAZ

O padre José Vieira chama hoje a atenção no Jirenna que passam três anos sobre a assinatura do Acordo Global de Paz assinado pelo Governo de Cartum e o SPLA, o Exército de Libertação do Povo do Sudão. Post escrito a partir de Juba, sul do Sudão, onde está. Um grande abraço e votos de um 2008 cheio de paz (e alguma coragem para aturar o calor de Juba).

AQUI

8.1.08

DEUS NÃO É GRANDE… É ENORME

Estamos de volta à estrada… De volta ao prazer supremo das curvas, da vida empacotada em 60 litros de mochila e das noites mal dormidas onde quer que seja. Para testemunhar e mostrar estas e outras maluqueiras. Em África, nas estradas africanas, Deus não é grande, é enorme! Que Ele nos guarde.

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Esquiva-se a luz dos meus faróis
Pesa-me a cruz
Vida quanto dois
Velho sinal
Curva apertada
Vê-se tão mal na estrada molhada
Sorriso triste
Ai de quem não mente
Deus guarde a sorte d’agente


Jorge Fernando

6.1.08

COMO EMIGRAR PARA A EUROPA (os diversos packs, segundo o senegalaisement.com)

O polémico artigo já aqui foi abordado anteriormente. Hoje deixamos o link. Nele se explica as diversas formas de aceder ao El Dorado europeu. Em packs, como nas agências de viagem:

- le pack DELIVERY, le pack D-DAY, le pack WEDDINGS, le pack STUDENT, le pack IN THE BACKYARD, le pack REGULAR.

AQUI

5.1.08

MARQUETINGUE NA LINGUA DE CAMOIS

Ke se liche a gramateca. Impurtante é que a mensajem pace e os clientes aparessam. Com eros, com abrvturas ou de qquer outra forma. Que Camois se escreva com “i”, como numa casa de S. Domingos, norte da Guiné-Bissau. Com “i” ou como quizermos.

Bon Anu de Dois Mile i oitu

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HÁ MAIS FUNDAMENTALISTAS (para além dos islâmicos)

São os fundamentalistas do desporto motorizado, ou do rally Dakar.

A propósito do impacto económico do cancelamento do rally sobre os países por onde passa, leia-se esta mirabulante tirada de um jornalista do desportivo SPORT:

El caso de Mauritania es significativo. Se trata del tercer país más pobre del mundo, donde la agricultura y la ganadería son los pilares de la economía. Por ese motivo, el paso del rally por sus aldeas supone la movilización de toda la población. Los lugareños ponen a disposición de la caravana sus casas, ofrecen sus duchas, preparan comida y tratan de vender una infinidad de productos artesanales como pulseras, tallas de madera, pinturas o gorros de lana, gracias a los que consiguen obtener unos ingresos con los que tratan de sobrevivir durante el resto del año.

Coitados dos mauritanos, se dependessem apenas do Dacar para sobreviver...

AQUI

4.1.08

ESTÁ TUDO LOUCO (ou é impressão minha)?

Escuto na rádio os lamentos do presidente da Câmara de Benavente e Portimão, da Região de Turismo do Algarve e de alguns pilotos independentes do Dacar. Segundo eles, o rally não deveria ter sido anulado pois há investimentos que foram feitos e que não podem ser perdidos.

Quer isto dizer que para estes senhores o dinheiro vale mais que a vida.

Se na caravana do Dacar existe muita gente experiente, também por lá anda muito tio e tia, queques e copos de leite mais habituados às auto-estradas de Cascais, Biarritz, Mónaco e Marbelha que às dunas do deserto. Para os fundamentalistas islâmicos, que, dizem, têm tuaregues nas suas fileiras, esta gente encaixava que nem gazelas do sahara (espécie ameaçada de extinção que hoje já só existe ao sul da Argélia) na mira das zagaias destes exímios atiradores.

Caso para dizer: perdeu-se o investimento, mas salvaram-se vidas humanas. Para além disso, poupa-se a gente a assistir horas a fio na TV a um espectáculo de duvidoso desportivismo e poupa-se gasóleo, que reduzir as emissões de CO2 está na moda.

3.1.08