Há dias em que uma espécie de desânimo, agonia toma conta de nós. 28 de Janeiro de 2008. Levantar cedo para ir tratar de 1001 afazeres. Antes fazer chamadas para confirmar reuniões e trabalhos há muito agendados. A agonia de uma jornada de desespero e apatia. O receio que o ansiado desenvolvimento não chegue nunca a esta parte do mundo.
DESESPERO
Primeira etapa: confirmar carpinteiro. Do lado de lá do éter, por telemóvel, resposta negativa. “Pardon, mas… eu não trabalho hoje.” O motivo é o jogo. Que amanhã sim senhor…
Segunda etapa: banco. Rodos de gente que se encavalitam uns por cima dos outros. Hoje é dia grande e todos precisam de dinheiro, para gastar, para comprar alegria. Se tudo correr bem, o Syli passará aos quartos de final do CAN. Frente à caixa, a fila de hoje não é maior por haver mais clientes. É maior por haver menos empregados. “Estão em estágio”, como os jogadores do Syli. Ficaram em casa a preparar o jogo, que será transmitido às 17 horas.
Terceira etapa: confirmar reunião agendada há uma semana. Mil desculpas do outro lado da linha. Paciência, mas hoje é dia de jogo. Talvez amanhã, mas vai depender de como correr hoje. Que volte a ligar, cedinho cedinho… Para confirmar. É que se o Syli passar, amanhã ainda haverá festa e dores de cabeça.
Quarta etapa: papelaria. Dispostos no balcão de madeira comprido de 5 metros há cinco empregados. Um metro de balcão para que cada um possa repousar sossegado a cabeça. Primeira tentativa, junto do empregado com ar menos sonolento. Que me dirija à colega do lado. Pastas de arquivo, tem? Estão esgotadas. Saio, não sem antes pedir desculpa aos cinco por ter importunado o merecido descanso no local de trabalho.
Quinta etapa: 14.30H. Regresso ao banco para avançar a empreitada começada horas atrás. Porta fechada. O banco não abriu da parte da tarde. Hoje é dia de jogo. Ninguém avisou de manhã? A decisão foi tomada ao almoço.
APATIA
No livro “A riqueza e a pobreza das nações”, o primeiro capítulo (Desigualdades da natureza) é dedicado ao clima. Nele David Landes tenta justificar porque são subdesenvolvidos todos os países entre trópicos. O clima, húmido e pesado, é apresentado como justificação.
Já fui defensor desta teoria, mas cada vez mais me inclino para uma outra. O subdesenvolvimento é reflexo de uma apatia generalizada, uma falta de vontade de trabalhar apenas porque… trabalhar cansa. E para este facto nem sempre o salário pesa. Quer se ganhe pouco quer se ganhe muito, o importante é “ter o corpo” no local de trabalho, à espera do dia 31.
Há excepções. Há nos trópicos quem muito trabalhe. Mas acaba por ter de fazer o trabalho dele e o dos que nada fazem e por isso também acaba cansado.
29.1.08
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