Começo este texto por dizer – para evitar mal entendidos e uma eventual ida ao Quartel-General – que nada me move contra as Forças Armadas guineenses, nem contra os homens que a integram.
A famigerada “Reforma das Forças Armadas” guineenses (uma mais na história do país, por isso tem honras de letra maiúscula) parece que vai arrancar em breve.
Não é a primeira. Muitas se fizeram antes. Dinheiro para a desmobilização, uma enxada, umas telhas de zinco para a casa e um “boa viagem até à tua tabanka”. No primeiro golpe, contra-golpe, tentativa de golpe ou rumor de golpe os desmobilizados regressam a Bissau. Sem enxada, sem dinheiro e sem telhas de zinco, mas com uma AK nas mãos. E por lá ficam.
Do pouco que vou lendo e escutando do muito que se tem escrito e falado sobre reformas militares em África, uma de duas condições é indispensável para uma efectiva e verdadeira reforma: um aparelho de Estado forte, que domine o aparelho militar (Angola, por exemplo) ou uma intervenção externa (o exemplo da intervenção britânica na Serra Leoa). Ora a Guiné-Bissau, que não tem um aparelho de Estado forte, nunca conseguirá Reformar as suas Forças Armadas. A mais que… pois, exactamente! Mas a segunda hipótese não interessa a ninguém. Nem aos políticos e Forças Armadas guineenses, que com os olhos da comunidade internacional lá metidos perderiam “capacidade de manobra”, nem à comunidade internacional, que teme uma resposta idêntica à que foi oferecida aos “invasores senegaleses” em 1998.
De vez em quando dou boleia a militares, nas estradas da Guiné-Bissau. Não com muita frequência, mas de quando em quando faço-o com dois objectivos utilitários: ajudar os homens a regressar a casa e sentir a temperatura nos quartéis. Numa das últimas boleias, exactamente conversando a propósito da reforma, perguntava a um militar o que pensava da dita.
- Suma general Tagmé fala, i misti fasi Reforma pa dipus bin panhanu suma galinha. (Como disse o general Tagmé, eles querem fazer a Reforma para depois nos apanharem como galinhas).
Acrescente-se, a bem da contextualização, que o jovem militar era de etnia balanta.
Não conheço esta frase do Chefe de Estado-maior General das Forças Armadas, mas dias depois foi-me confirmada por um jornalista guineense.
A ser verdade (admito que não seja) encarna na perfeição o espírito com que se parte para (mais) esta Reforma. Oxalá me engane!
23.1.08
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