30.10.06

PILANDO ARROZ

Por agora pila-se o pam-pam, arroz de terras altas, não alagadas. Daqui por tempos começar-se-á a "dar conta" do arroz de "bolanha".

É o sinal que as chuvas estão mesmo, mesmo a acabar.

Boa semana de trabalho, são os votos da gerência que se despede até Quinta ou Sexta-feira.

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29.10.06

CATIÓ Presente e Passado

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Uma foto aérea tirada há pouco mais de um ano e outras duas enviadas por Vitor Condeço, que por ali passou nos anos 60 e muitos.

Segundo Condeço "pelo que é dado ver, a vila cresceu e ocupou também parte da pista.
Será que foi um sinal de progresso? Gostava que sim!

Para que compare a diferença 37 anos e meio decorridos, em anexo envio-lhe uma foto dessa mesma pista e uma vista da vila, tiradas por mim em Janeiro de 1968, e digitalizadas dos negativos, passados 38 anos, tem a patine do tempo."

Obrigado.

28.10.06

O INFERNO GUINEENSE (anedota recebida via e-mail)

Um homem morre e vai para o inferno.

Ao chegar lá, ele descobre que há um inferno diferente para cada país e ele decide tentar o menos penoso para passar a sua eternidade.

Ele vai ao inferno alemão e pergunta: "O que fazem aqui?
Disseram-lhe: «Primeiro põem-te numa cadeira eléctrica por uma hora.Depois põem-te numa cama de pregos por mais uma hora. Por fim o diabo alemão vem com um chicote e chicoteia-te até á noite»

O homem não gosta do que ouve e vai tentar a sua sorte num outro inferno. Ele passa pelo inferno dos EUA, da Rússia e muitos mais. Todos eles praticam o mesmo que o inferno Alemão.

Mas o que fazer então? Ele continua a andar até que descobre uma grande fila no inferno da Guiné-Bissau. Muito intrigado, ele pergunta o que fazem nesse inferno. Ao que lhe Respondem:

Primeiro põem-te numa cadeira eléctrica por uma hora. Depois põem-te numa cama de
pregos por mais uma hora. Por fim o diabo guineense vem com um chicote e chicoteia-te até a noite»

Aí, mais admirado ainda, o homem pergunta: "Mas é exactamente o mesmo tratamento que fazem nos outros infernos, porque razão então a fila aqui é tão grande?"

Porque aqui nunca há electricidade, portanto a cadeira eléctrica não funciona. Os pregos foram encomendados e pagos, mas nunca foram fornecidos, portanto a cama é muito confortável. E o diabo guineense é trabalhador da função pública, por isso vem, assina o ponto e depois sai para tratar de assuntos pessoais, portanto nunca está presente para chicotear os mortos.

E o homem decidiu pôr-se na fila a espera a sua vez.

Actual governo é ilegítimo, diz Kumba Ialá no regresso a Bissau

Notícia LUSA

O antigo presidente e ex-líder do partido da Re novação Social (PRS) Kumba Ialá afirmou hoje, em Bissau, que o actual governo de Aristides Gomes é "ilegítimo" por não respeitar os resultados das eleições legi slativas de 2004.

Kumba Ialá falava aos jornalistas momentos após regressar a Bissau - de onde saiu a 15 de Outubro de 2005 - a bordo de uma avioneta privada que o transportou de Rabat até à capital guineense, precisamente no dia em que faz um ano que o presidente guineense, João Bernardo "Nino" Vieira, demitiu o governo de Carlos Gomes Júnior.
"Nem o Governo nem o Fórum (de Convergência para o Desenvolvimento - FCD) têm legitimidade", afirmou Kumba Ialá, sublinhando que, no seu entender, as responsabilidades dos "renovadores" acabaram a partir do momento da publicação do s resultados eleitorais das legislativas de Março de 2004.

Nessa votação, o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verd e (PAIGC) saiu vencedor e acabou por formar governo, executivo que, 17 meses e 1 7 dias mais tarde, a 28 de Outubro de 2005, foi demitido por "Nino" Vieira, que alegou então "incompatibilidades institucionais" com Carlos Gomes Júnior.

A exoneração ocorreu 14 dias depois da criação do Fórum, espaço de conc ertação política que integra o PRS, segunda força parlamentar, mais 15 "dissidentes" do PAIGC, permitindo, na lógica de "Nino" Vieira, criar condições para uma nova maioria parlamentar, da qual saiu o executivo liderado por Aristides Gomes.

Na altura da criação do Fórum, Kumba Ialá foi escolhido como "president e honorário" deste espaço político, tendo, no dia seguinte, partido para Marroco s, onde se manteve até hoje.

Questionado pela Agência Lusa sobre uma eventual contradição sua em rel ação à inexistência de legitimidade de um espaço político de que é "presidente h onorário", Kumba Ialá foi lacónico.

"Eu? Só se por métodos aleatórios", respondeu, rodeado pelos principais dirigentes da actual direcção dos "renovadores", alguns deles membros do actual governo.
Kumba Ialá acusou o Fórum, presidido formalmente por Aristides Gomes, d e ser "um satélite de alguém", que não apontou, alguém esse que deve assumir "as suas responsabilidades" no país.

Por outro lado, questionado também pela Lusa sobre se o Fórum é ou não a base de sustentação do actual executivo, Kumba Ialá respondeu com uma série de perguntas.
"Qual base de sustentação de governo? De que governo? Qual é o suporte legítimo desse Fórum? Qual é a legitimidade do actual governo?", perguntou.

"O PRS apoiou o presidente eleito (na segunda volta das presidenciais d e 2005). Entretanto, o presidente eleito, voluntariamente, decidiu organizar um outro governo, que é da sua livre autoria, da sua livre vontade. A nossa respons abilidade acaba a partir do momento em que os resultados eleitorais foram publicados", referiu.

Instado a pronunciar-se sobre se, segundo o seu ponto de vista, deve se r formado um novo governo, o antigo chefe de Estado guineense, empossado em 2000 e derrubado através de um golpe de Estado a 14 de Setembro de 2003, insistiu no vamente em responder com mais uma pergunta.

"Não foi o Fórum que formou o governo. O Fórum não é 'Nino' Vieira. Ou é 'Nino' Vieira? Nós apoiámo-lo mas não apoiámos o Fórum", afirmou, escusando-se , por outro lado, a comentar a actuação dos cinco ministros e quatro secretários de Estado que os "renovadores" têm no executivo.

No entanto, questionado sobre se, após o III Congresso do PRS, marcado de 08 a 12 de Novembro e em que se apresenta como candidato à liderança, assumir a direcção desta força política os "renovadores" vão permanecer no governo, Kum ba Ialá respondeu que cabe aos militantes tomarem essa decisão.

"Isso é o partido que tem de decidir, porque somos democratas e não é o líder que decide sozinho", respondeu, reafirmando que é candidato e que pretend e reassumir a liderança dos "renovadores", que abandonou após ascender à presidê ncia guineense, após as eleições de 2000.

"Nós somos um partido grande. Crescemos muito e devemos crescer e refor çá-lo cada vez mais, sobretudo a nível da organização, porque nas próximas eleiç ões (legislativas em 2008 e presidenciais em 2009) o nosso principal adversário é o PAIGC, que está destruído. Vamos passear, não vamos correr com ninguém", acr escentou.

O regresso de Kumba Ialá a Bissau foi marcado pela presença de cerca de mil apoiantes, que o aguardaram no aeroporto de Bissau e percorreram depois, a pé, os cerca de oito quilómetros até à sede do partido, de onde seguiu directame nte para a sua residência.

27.10.06

PARA REFLECTIR

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Os dados apresentados em Bissau pela UNICEF provam que a luta contra a SIDA em na Guiné-Bissau (e em África) está a falhar. Há que encontrar formas alternativas de combate ao flagelo, que se conjuguem às convencionais. E não me venham com a velha história de que a distribuição de preservativos resolveria tudo. É mentira!

A boa notícia, para lá das estatísticas apresentadas, é que, segundo o representante da UNICEF em Bissau, a partir de hoje estará assegurado tratamento para todas as crianças a quem seja diagnosticada a doença.

NOTÍCIA COMPLETA AQUI

TEXTO ESCRITO HÁ UM ANO ATRÁS SOBRE UMA CRIANÇA GUINEENSE PORTADORA DE VIH (na foto)

26.10.06

ARISTIDES GOMES REÚNE COM PM ESPANHOL

Zapatero recibe mañana (sexta-feira) al primer ministro de Guinea Bissau antes de la mesa internacional de donantes.

El presidente del Gobierno, José Luis Rodríguez Zapatero, recibirá mañana a las 10:00 horas al primer ministro de Guinea Bissau, Arístides Gomes, en el Palacio de la Moncloa para abordar la problemática de la inmigración ilegal subsahariana y analizar la próxima mesa internacional de donantes para este país africano que se celebrará en Ginebra el próximo 7 de noviembre.

sobre o primeiro tema (emigração) Aristides Gomes deverá ouvir por parte do governo espanhol a sua insatisfação acerca do grau de aplicação dos acordos de readmissão de emigrantes ilegais, considerada "insatisfatório" por Madrid.

LER MAIS AQUI

DEBATER O IMPÉRIO, DEBATER O SEU FIM

O ISCTE assinala nos dias 3 e 4 de Novembro através de um encontro internacional de investigadores a passagem de três décadas sobre o fim do império colonial português.

A iniciativa visa pôr em contacto um conjunto de trabalhos de investigação historiográfica surgidos nos últimos anos, contribuindo para ultrapassar o seu carácter segmentado.

Mais informações no CEHCP

CARINHO DE PAPEL E TINTA

Quando o estrangeiro perguntou ao “homi garandi” como sabia o nome e a data de nascimento dos seus 15 filhos ele virou costas sem dar resposta. Entrou na casa de barro cozido ao sol e perdeu-se no interior lúgubre, a cheirar a fumo e humidade.

Voltou com uma pasta debaixo do braço. Puxou o elástico, abriu-a e, como se mostrasse um tesouro, tirou do interior uma folha imaculada com os 15 nomes dos 15 filhos e as suas 15 datas de nascimento. A letra perfeita denunciava o cuidado posto na execução de tão nobre documento.

África é um poço de surpresas que nunca seca. Dirão: “E o que tem de mais essa folha?” Ela dá conta da existência de 15 pessoas. Só isso. E foi escrita com um cuidado e carinho que um Conservador de Registo Civil jamais conseguiria. Só isso.

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23.10.06

BREGEIRICES E CANSAÇOS

Os comentários à entrevista de Aristides Gomes, deixados no site do Correio da Manhã, demonstram duas coisas:

1 - O baixo nível intelectual da maioria das pessoas que por lá passaram a opinar;
2 - A imagem dos políticos guineenses.

Acerca do primeiro aspecto não vou alongar-me muito. Basta dar uma saltada AQUI e perceber-se-á o que digo.

Já quanto ao segundo ponto… é pena que assim seja. Quando a Guiné-Bissau tiver a dirigi-la gente credível, honesta e com verdadeira vontade de alterar o actual rumo das coisas, talvez já ninguém esteja disposto a ajudar. O Donor Fatigue (expressão do cooperaloguês) é já uma realidade face à Guiné-Bissau e um mal que cresce a cada dia que passa. Oxalá a próxima mesa redonda seja um sucesso.

GOVERNO GUINEENSE FAZ LOBBY

Aristides Gomes, PM guineense, anda pela Europa a angariar dinheiro para a mesa redonda, que (se espera) será em breve.

Ao CORREIO DA MANHÃ, o chefe do executivo garantiu, entre outras coisas, que "muita coisa está a mudar" na Guiné-Bissau desde que ele tomou as rédeas do país. "Estamos a fazer um esforço enorme em relação à realidade financeira para que o país ultrapasse as dificuldades." As palavras do seu ministro das finanças ("O país está falido"), há uma semana atrás, deixam antever um futuro de incertezas.

PARA LER AQUI

21.10.06

O OUTRO LADO DA EMIGRAÇÃO CLANDESTINA II

A crer no destaque dado pelos média portugueses, muita gente ficou admirada com o facto de pelo menos 13 desportistas guineenses não terem regressado ao país, após participação nos Jogos da Lusofonia.

Ora a situação agora relatada pela LUSA não é nova. A novidade talvez seja o número 13. Neste caso número da sorte para estes jovens, que viram na Europa uma oportunidade de fugir às (péssimas) condições de vida que os governantes do seu país lhes oferecem (Oxalá tenham sorte.). E isso não é novidade. E não devia espantar tanta gente. A grandessíssima maioria dos jovens guineenses teria feito o mesmo. E eu, se fosse jovem e guineense, também o faria, porque este é um país que não oferece futuro a quem tem todo o futuro diante dos olhos.

Situações como esta são comuns com jovens. Até mesmo com mais velhos. Lembro-me de há dois anos o representante de determinado ministério a uma determinada Feira na FIL, em Lisboa, ter confessado a um amigo meu, em surdina, antes de partir: "Eu já não volto." Em todos os encontros de juventude no estrangeiro há sempre um número de jovens que lá ficam. Os bolseiros que saem ficam. Os funcionários públicos que participam em acções de formação ficam. Os desportistas que participam em encontros internacionais ficam. Não todos, que sempre existe quem goste da sua terra e queria voltar. Mas uma larga maioria sim.

Os passaportes de trabalho (não sei se é o nome correcto), os vistos de trabalho, de estudo, etc, são o método mais fácil de emigrar e muita gente os utiliza para sair da Guiné-Bissau e de África. Os estados europeus e africanos sabem-no.

Notícia completa para ler AQUI

16.10.06

O OUTRO LADO DA EMIGRAÇÃO...

... que explica muita coisa do fenómeno "emigração clandestina" e porque é ela incentivada em África (pelas famílias, pelos governos...).

"Los inmigrantes envían a sus países una media de 10.000 euros al año."

Son como las hormigas, constantes y tenaces para asegurarse el sustento. Los inmigrantes trabajan con tesón, prolongando en muchos casos las jornadas o alternando diferentes oficios, para conseguir los máximos ingresos con los que sostener a sus familias. Su situación laboral, es por lo general, precaria y sus sueldos casi siempre cortos, pero a base de vivir de forma austera y con toda clase de privaciones, una mayoría de los más de 20.000 inmigrantes residentes en Extremadura es capaz de ahorrar algún dinero con el que ayudar a las familias que dejaron en sus países de origen.

CONTINUAR A LER

ALGUNOS DATOS
El cliente de los establecimientos de remesas, responde al siguiente perfil: varón, de 25 a 35 años, que manda dinero de nueve a doce veces al año, a razón de entre 300 y 500 euros en cada ocasión y con cantidades 'extra' en julio-agosto y diciembre.

A ARTE EFÉMERA, por Fernando Alves

À medida que a guineense “Internet às Pinguinhas” me permite, vou pondo em dia todos os Sinais (crónica diária de Fernando Alves, na TSF) perdidos desde Julho.

É daí que me chega este magistral texto, crítico da vacuidade na (e da) arte (e da vida que cada vez mais nos satisfaz). Transcrevo partes desse texto, com a devida vénia, e deixo o link, para quem quiser escutar. AQUI.


“As notícias são ambas do fim de Agosto mas escapam ao caudal excrementício da chamada estação estúpida. Não pela mesma ordem de razões que explicam a merecida perenidade do Soneto Asqueroso, de Bocage, mas pelo modo como espalham um certo perfume do tempo.

Trata uma delas da sanduíche mordiscada e abandonada num restaurante por Britney Spears e prontamente recuperada por um fan da cantora que a pôs à venda na Internet com base de licitação de 10 dólares.

A arte efémera, moldada pelos molares da princesa da POP, está disponível numa embalagem de plástico fechada por vácuo.

A sanduíche vegetal com ovo e salsicha mordiscada por Britney e Kevin (o marido da cantora) é a vacuidade nutriente. Eis como o ocasional fastio de uma rainha alimenta o apetite de seus súbditos.

(…)
A outra notícia trata de imortalizar o momento em que (como dizem os brasileiros) a filha de Tom Cruise e Katie Holmes largou a janta. O cocó inaugural de Suri, a primeira fêvera fecal, o primeiro fedor da fedelha transformado em escultura (apetece dizer) para apanhar moscas.

A notícia explica que o artista plástico Daniel Edwards esculpiu a sua obra em bronze reproduzindo o primeiro movimento intestinal da pequena Suri. O cagalhãozinho estará exposto numa galeria de Bruklin e depois será leiloado em benefício de obras de caridade.

O autor espera que a obra consiga arrebanhar 30 mil dólares, o que não faz dele senão um efémero Midas, para lá de que seria dolorosa evacuar em bronze. Seja como for a arte tem as costas largas.

(…)
De tanto metermos a cabeça na sanita mediática a casa de banho dos famosos pode de repente ser a nossa mesa. Ou, dito de uma forma mais rude, demasiadas vezes aceitamos toda a merda que nos dão. E quando calha ainda pagamos.”

13.10.06

GAFANHOTOS VOLTAM A ATACAR PAÍSES AO NORTE DA GUINÉ

Plaga amenaza estados del norte y el sur africano

Argelia, Mauritania y Marruecos, al norte del Sahara, y Malí y Senegal, al sur, están amenazados hoy por la maldición anual de la plaga de langostas, en ebullición por las lluvias, advirtieron medios especializados.

El medio ideal sigue siendo Mauritania, uno de los países más pobres del mundo, donde los voraces insectos se han desarrollado en los dos últimos meses, acorde con especialistas de la Organización de la ONU para la Agricultura y la Alimentación (FAO).

SABER MAIS

Em Janeiro de 2005 também a Guiné-Bissau sofreu, pela primeira vez, uma invasão desta praga, que destruiu culturas um pouco por todo o país.

12.10.06

PELA UNIDADE SAHARAUI

Assinala-se hoje, 12 de Outubro, o dia da Unidade Saharaui. Para que a luta deste povo a quem Marrocos roubou a terra (mas não a esperança) não seja esquecida, ficam alguns sites:

AGÊNCIA NOTICIOSA DA REPÚBLICA ÁRABE SAHARAUI DEMOCRÁTICA (RASD)

ASSOCIAÇÃO DE APOIO A UM REFERENDO LIBRE NO SAHARA OCIDENTAL

AFAPREDESA - Associação de Familiares de Presos e Desaparecidos Saharauis

RADIO NACIONAL DA RASD

CAIXÕES COM RODAS

Na estrada de Metangula, na província do Niassa, Moçambique, morreram ontem 14 pessoas. 16 ficaram feridas. Todos os dias morrem pessoas nas estradas africanas, no geral, e nas de Moçambique, em particular, portanto, nada de novo no acidente.

Abordo-o apenas porque conheço a estrada e conheço as chapas (carrinhas que fazem de transporte público em Moçambique) que ali circulam. E porque também já lá renasci, depois de o veículo em que seguia ter avariado e posteriormente ter sido abalroado por um camião sem travões. Tinha deixado o local momentos antes, quando o camião matou alguns dos meus companheiros de viagem.

Nas estradas do Niassa circulam os piores carros que existem em Moçambique e talvez em África. Porque o Niassa é uma terra à parte do Moçambique “avançado” vendido pelo seu governo.

Dois dias depois do acidente que por sorte do destino não sofri na estrada de Metangula tive a oportunidade de entrar numa chapa absolutamente sem travões. Quando escrevo “sem travões”, não uso nenhuma figura de estilo, porque a viatura não abrandava quando o motorista carregava no pedal central! O senhor ainda brincou, pisando o pedaço de metal e exclamando: “Patrão! Não tem travão.”

Imagino que duvidem das palavras que acabo de escrever. Se me dissessem que um carro pode fazer centenas de quilómetros diariamente sem travões eu também não acreditava.

No Niassa isso é possível. E é-o porque o Estado moçambicano, como todos os estados africanos é corrupto. Por isso viaturas sem o mínimo de condições são autorizadas a circular, matando inocentes.

Que estas 14 mortes abram os olhos das corruptas autoridades rodoviárias de Moçambique. Que os caixões de quatro rodas sejam proibidos de circular no Niassa.

9.10.06

PROLONGANDO O VERÃO

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18 horas. O ar morno do fim da estação das chuvas é um sopro que me traz à memória as tardes de Julho do meu país: Alentejo.

Nesta hora refrescante de pré-crepúsculo, relembro o prazer supremo de qualquer alentejano (não sou excepção): o convívio do fim do dia.

Em Julho, quando o mercúrio trepa na escala centígrada dos termómetros agarrados à cal, a fadiga e o suor desfazem-se, também às 18h, numa “mine fesquinha”, “regada” a orelha de coentrada, pão cascarrudo, queijo de ovelha ou carne do alguidar…

A brisa morna de hoje, que arrefece o corpo após um dia quente e húmido, traz à memória um Verão já distante e prolonga em mim esse mesmo Verão. Tremendo egoísmo, sei, agora que o Outuno arrefece o ar da minha terra e onde alguns de vós acedem a este escrito.

O último Verão, onde apenas por uma breve tarde pude saborear o refrescante vento alentejano de fim de dia, soube a pouco e por isso o estico agora, na varanda, em tronco nu, permitindo que mosquitos oportunistas envenenem de malária o sangue que me dá vida. Revivo o Verão, dilato-o sem mines nem petiscos. Apenas com vento e fantasia.

Os gritos estridentes das crianças que ao longe, também em tronco nu, jogam futebol, são as gargalhadas dos amigos que ao fim da tarde enchem a esplanada. O kuduro, debitado nas redondezas por um qualquer tijolo musical importado da Europa, é o cante alentejano, desgarrado depois de uns bons copos mandados abaixo. Em África, pensando no Alentejo. As duas melhores terras do mundo!

COMO QUE A CORROBORAR O QUE ESCREVEMOS NO POST ANTERIOR...

Senegal pretende terminar con las repatriaciones a finales de octubre
NotíciaLA OPINION DE TENERIFE

El rotativo senegalés L´Observateur ha afirmado, en un reportaje dedicado a la emigración clandestina de ciudadanos de ese país hacia Canarias, que las repatriaciones se mantendrán hasta el 26 de octubresegún han hecho saber fuentes del Ejecutivo de Abdoulaye Wade.

7.10.06

A COBARDIA DO VALENTÃO

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Wade, presidente do Senegal tem as calças sujas. O homem que pretende ser o patrono de toda a África Ocidental (e talvez arredores) está com medo e isso lê-se no que o texto anterior refere, mas não diz claramente!

O chefe de Estado do antro aqui de cima meteu-se a fazer acordos com Espanha e França para que estes países repatriassem a sua gente emigrada, e agora teme a factura (apresentada nas próximas eleições, leia-se).

Por isso solicita que despachem a mercadoria humana vinda da Europa para Saint Louis, no norte, longe de Dacar, dos meios de comunicação, das casas desses mesmos emigrantes.

Na pequena cidade, na pista do pequeno aeroporto, que fica ainda a uns bons quilómetros do centro, dá-se menos nas vistas e corre-se menos riscos de acontecer o que aconteceu em Hann, nos arredores de Dacar, aquando do primeiro repatriamento de senegaleses, em Março: a população do bairro manifestou-se, amotinou-se nas ruas, queimou pneus e apedrejou a polícia, exigindo que o Senegal não aceitasse nem mais um dos seus filhos de volta.

Para as famílias senegalesas, a partida dos seus mais novos é uma esperança para o futuro. Elas participam (e comparticipam) nesse projecto arriscado de embarcar nas pirogas da fortuna. É natural, por isso, que se sintam frustradas e vexadas ao vê-los regressar, passados poucos meses, com 10.000 XOF (15 Euros) no bolso.

É este vexame que faz Wade (e outros políticos africanos que nesta altura beijam dirigentes europeus) tremer, pois sabe que as eleições se aproximam (estavam agendadas para 2007, mas parece-me que já foram adiadas para o ano seguinte). A factura destes acordos pode vir a ser cobrada nessa altura.

A ver vamos se em vésperas de eleições Wade e outros políticos africanos terão coragem de aceitar repatriamentos. Se agora, com as eleições a alguma distância, solicitam que os aviões que efectuam as operações de repatriamento aterrem, discretos, de noite ou madrugada e em aeroportos secundários, como será depois? E há ainda a possibilidade de, chegadas as eleições, Wade despachar esses mesmos aviões para países vizinhos, de forma a passarem ainda mais despercebidos os repatriamentos. Oxalá não seja o vizinho do sul o escolhido.

O DESTINO DOS REPATRIADOS

Canarias-Saint-Louis de Senegal

Cada semana llegaron un montòn de inmigrantes al pobre Aeropuerto de San Louis de Senegal.

Una vez en San Louis,estas personas desesperanzadas no van a recibir como regalo sino 10 000 francos cf, un sand witch y humillaciones al lado de la policia y siendo liberados para que cada uno intenta buscar un coche que pueda conducirle a su ciudad...

Ellos llegan a su familia creado un clima triste.No olvidemos que estos chicos llevaron unos dìas en el mar padeciendo de hambre y sed frente a los ojos de las enfermedades y sobre la sombra de la muerte.

Les conozco bien a estos chicos senegaleses: no son vagabundos ni bandidos;sòlo evitan el hambre y la explotaciòn de los politicos africanos que reparten los bienes de la repùblica.Estos chicos estàn allà para buscar trabajo para mantener a sus familias.

Lo màs triste es que las autoridades africanas aprovenchan de esta situaciòn para ligar acuerdos con España y proponer planes o proyectos que van a utilizar ellos mismos con una manera egoista o financiar actividades politicas dejando a la clase baja del pueblo morir de pobreza.

La unica causa de la inmigraciòn clandestina es las autoridades africanas.La unica soliciòn cambiar de tipo de autoridad en Africa...

NO se! no se porque el otro lado no recibe sino mentiras porque los politìcos africanos estàn corriendo hacia las conferencias internacionales y invadiendo los medios de comunicaciones para poner un velo negro entre la gente y la realidad para poder seguir la explotaciòn

Amadou Ba

RETIRADO DAQUI

5.10.06

SÓ NA PAZ HÁ VIDA

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Na estrada S. Domingos-Varela, no local onde a 16 de Março sete ou oito pessoas morreram (mais tarde o número elevou-se a 15), ainda jaz a candonga que naquele dia pisou uma mina.

As rodas, motor, peças foram roubadas! Ficou a carcaça e as roupas de quem pagou com a vida uma guerra que não era sua.

A comunidade católica de Suzana (à qual pertenciam algumas das pessoas que viajavam na carrinha) colocou no local uma cruz com uma inscrição que relembra o acidente.

Hutyk Iaabuj
Kassuumai Iaroñen Keb

A guerra mata
Só na paz há vida
16-03-06

4.10.06

Imigração: Polícia Guiné-Bissau desmantela rede com 109 indianos e paquistaneses

Notícia LUSA

A polícia guineense desmantelou uma rede de 109 pessoas, na quase totalidade indianos e paquistaneses, que acredita serem candidatos à imigração clandestina para a Europa, servindo-se da Guiné-Bissau como ponto de partida, disse hoje fonte governamental.

Em declarações à Agência Lusa, o secretário de Estado da Ordem Pública guineense, Mamadu Saico Djaló, indicou que a operação de desmantelamento da suposta rede de imigração ilegal ocorreu no último fim-de-semana, envolvendo polícias e militares.

Segundo o secretário Estado da Ordem Pública, que depende do Ministério do Interior, a polícia começou a suspeitar quando deu conta da entrada "anormal" no território guineense de cidadãos do sudoeste asiático, nomeadamente paquistaneses e indianos.

Trata-se da primeira vez que a polícia guineense intervém para desmantelar uma alegada rede de imigrantes clandestinos do sudoeste asiático, quando tudo apontava para que o problema estivesse apenas relacionado com candidatos de origem africana.

Desconhece-se, contudo, se no passado a alegada rede já operava na Guiné-Bissau.

Os alegados candidatos à imigração clandestina, num total de 109, anunciavam à chegada no aeroporto de Bissau que vinham desenvolver actividades comerciais, quando se verificou, depois, que, de facto, tinham "outras intenções", assinalou Saico Djaló.

De acordo com o chefe operacional da polícia guineense, os indivíduos anunciaram que iriam residir em hotéis, quando, na realidade, viviam em casas alugadas nos subúrbios de Bissau, concretamente no bairro de Antula Bono, na zona leste da capital.

Inicialmente, os candidatos à imigração, chegados ao país de avião, afirmavam às autoridades de Bissau que vinham como comerciantes, obtendo o visto de permanência à entrada, havendo casos de alegados empresários que afirmavam estar envolvidos no negócio do caju, cuja produção é, tradicionalmente, exportada para a Índia.

Segundo a polícia, os suspeitos entravam, primeiro, em pequenos grupos de cinco a seis elementos e, mais tarde, com 30.

No entanto, o governante guineense não explicou a forma como os suspeitos pretendiam abandonar o país em direcção à Europa.

Alertada pelos populares, que consideravam "anormal" o facto de várias pessoas de ascendência asiática estarem a habitar a mesma casa em condições "infra-humanas", a polícia interveio com a ajuda do Exército.

Na operação foram capturados documentos e recolhidos depoimentos dos integrantes do grupo, realçou Saico Djaló, que acrescentou: "facilmente se percebeu que são candidatos à imigração ilegal, com destino à Europa".

"Alguns dos jovens do grupo, com idades entre os 20 e os 23 anos, disseram-nos que foram enganados pelos «cabecilhas», que lhes garantiram que seriam levados para a Europa contra o pagamento de dinheiro", disse Saico Djaló, que não especificou o montante.

Os "cabecilhas" do grupo seriam um paquistanês, um indiano e dois guineenses, todos também detidos e já sob custódia da polícia, precisou o responsável governamental, que não adiantou os nomes.

Instado sobre a situação actual dos restantes elementos do grupo, Saico Djaló disse que se encontram em regime de residência vigiada na casa onde habitavam até serem descobertos pela polícia.

Sobre a possibilidade de uma acção de repatriamento, afirmou que o governo ainda não tomou qualquer medida nesse sentido, não adiantando sequer se tal será discutido em breve.

No entanto, Saico Djaló considerou que existem "organizações mafiosas" que estão a aproveitar-se do facto de a Guiné-Bissau ser um país com "fronteiras vulneráveis" para entrar com candidatos à imigração clandestina em direcção à Europa.

"Não temos ciúmes de outros países que estão a contar com os apoios logísticos da Europa, nomeadamente da Espanha, como são os casos de Cabo Verde, Senegal, Mauritânia ou Marrocos, mas nós não temos apoios nenhuns nessa tarefa difícil que é o combate à imigração clandestina", afirmou Saico Djaló.

3.10.06

OS INDÍGENAS FILHOS DA REPÚBLICA

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França decidiu actualizar as pensões dos antigos combatentes africanos. A decisão foi provocada pelo filme “Indígenas”, que comoveu Chirac (o presidente haveria mesmo de reconhecer que os antigos combatentes eram “Filhos da República”). Villepin, por seu lado, considerou que a medida é tardia.

Uma olhadela por sites francófonos permite dizer que o descongelamento das pensões foi acolhido com reservas por parte dos antigos combatentes. Se por um lado afirmam que “mais vale tarde que nunca”, por outro referem que “a valorização das pensões é mínima e fica aquém do merecido”.

No total, cerca de 84 000 antigos soldados (57 000 reformas e 27 000 pensões de invalidez) de 23 países beneficiarão deste ajustamento.

Mas a medida de Chirac não é totalmente desinteressada. Como referia na Quinta-feira na edição portuguesa da RFI certo analista, “muitos dos filhos e netos destes homens vivem hoje em França, emigrados. E votam! Apesar de esta não ser uma fatia de eleitorado muito significativa, nesta coisa da democracia todas as migalhas contam. Migalhas também são pão.”

Portugal tem no gesto da França uma oportunidade de corrigir uma injustiça. É uma obrigação que deve aos seus antigos soldados coloniais, que ficaram esquecidos no mato e hoje vivem, grande parte, na miséria. Como disse Chirac frente aos seus ministros, “a França teve um acto de justiça e de reconhecimento para com todos aqueles que combateram sob a nossa bandeira. Devemo-lo a estes homens, que pagaram com o seu sangue, e aos seus filhos e netos, muitos dos quais são franceses.” Sócrates pode inspirar-se nestas palavras, para um dia não ter que dizer, como disse Villepin, que “a reparação da injustiça é [será] tardia.”

Aliás, o peso da injustiça já deve pairar na consciência do PM português. Em Julho, quando viajou a Bissau para participar na Cimeira da CPLP, Sócrates passou por uma manifestação de ex-combatentes, mesmo à saída do aeroporto, que de bandeira verde-rubra em punho exigiam aquilo que lhes é devido. Interpelado pelos jornalistas, o PM referiu “não ter visto manifestação nenhuma.” Cegueira política.

AD INAUGURA NOVOS PORTAIS

Para celebrar os 2 anos de presença na web, o site da AD recebe hoje uma nova imagem e inaugura 3 novos sites: um portal sobre a Guiné-Bissau, dando a conhecer os aspectos mais importantes a nível histórico, social cultural, e geográfico, um portal para a Rede Nacional das Rádios Comunitárias da Guiné-Bissau (RENARC) e um portal para a Escola de Artes e Ofícios (EAO).

Convidamo-vos pois a conhecer o novo rosto do site da AD (www.adbissau.org) e a desfrutar de novas informações, do Simpósio Internacional sobre a Memória de Guiledje, a conhecer cada uma das vinte e cinco rádios comunitárias da Guiné-Bissau, a ver pela primeira vez os painéis extraordinários do pintor Augusto Trigo, os postais da Guiné colonial e a organização dos cursos profissionais da Escola de Artes e Ofícios de Quelele.

PARA SABER MAIS

Portal Escola de Artes e Ofícios

Portal da Rede Nacional de Rádios Comunitárias

Portal Guiné-Bissau

IIº Fórum de Estudantes Guineenses do Ensino Superior em Portugal

Coimbra, 13 a 15 de Outubro de 2006

A Cidade de Coimbra vai acolher nos próximos dias 13, 14 e 15 de Outubro próximo, o “IIº Fórum de Estudantes Guineenses do Ensino Superior em Portugal”. Uma iniciativa conjunta da Embaixada da Guiné-Bissau em Portugal, através do Departamento de Apoio aos Estudantes e as Associações de Estudantes guineenses.

Com o objectivo principal de proporcionar a participação de todos os actores no domínio do Ensino Superior, na discussão inclusiva dos principais problemas com quais deparam os estudantes guineenses em Portugal, este ano o Fórum incidirá o seu olhar sobre a política de enquadramento, valorização e potencialização dos quadros guineenses, formados tanto no estrangeiro como na Guiné-Bissau.

Para mais informações, contactar:

EMBAIXADA DA GUINÉ-BISSAU EM PORTUGAL

Dep. Apoio ao Estudante

Rua da Alcolena, Nº 17-A

1400-004 Lisboa

Tel: 213009081; Tlm: 968165525

Tlm: 967781520 / 964077368

2.10.06

EM VARELA NÃO HÁ NADA

Não recebe turistas, por estes dias, Varela. Só os da terra, loucos ou bichos se aventuram pelos 65 quilómetros de lama que separam esta pobre tabanka da cidade de S. Domingos, bafejada pela sorte do asfalto. Como se não bastassem os milhões de buracos, para separar Varela do mundo, um irresponsável mandou abaixo a ponte de Cassolol, transformando a região numa ilha de onde se sai apenas a pé, de bicicleta ou de motorizada. Para lá da ponte existe o luxo da caixa traseira de uma ou duas breves camionetas, que ligam Cassolol a S. Domingos.

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Em Varela não há nada, para além de arroz e peixe (a comida de todos os dias) e conformismo. A população, isolada desde Agosto, ainda não foi a Bissau, porque os transportes são poucos e o preço para chegar aos frescos gabinetes da Praça é alto. Também não recebeu a visita de nenhum representante do governo central, que o caminho só dá para os da terra, loucos ou bichos e eles não se enquadram em nenhuma das categorias!

Em Varela também não há imigrantes. Por estrada tão longa é impossível chegar gente aos magotes. Já ali passaram clandestinos, é certo, uma vez ou duas, poucos. Desde então nunca mais, garantem os da terra. Por isso não percebem o "ACUDAM" dos seus governantes, lá longe, em Espanha (onde quer que isso seja) nem as visitas dos jornalistas.

Em Varela não há nada, para além de arroz e peixe. Nem arame ou lata, para as crianças fazerem carrinhos de brincadeira e sonho. Os carrinhos dos mais novos fazem-se agora com uma caixa de medicamentos, dos que chegam pela mão das irmãs católicas de Suzana (só elas ou o padre se aventuram pelo lamaçal – não são da terra, nem são bichos. São loucos!). Uma caixa de medicamentos vazia faz a vez de habitáculo, dois pauzinhos imitam os eixos e seis limões são as rodas.

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Qual a marca destes carrinhos?, pergunto às duas crianças que os trazem presos por cordel (ainda há cordel em Varela!). Chamam-se “Utopia”, respondem. E onde vão?, insisto. À ponte de Cassolol. Vão levar as mulheres grávidas e doentes à candonga que as espera do outro lado. Na volta trarão todos os que poderão (poderiam) fazer algo por Varela. Para essas pessoas verem como não há nada aqui. Por isso o rodado traseiro dos nossos carrinhos é duplo. Para trazer muitas pessoas, respondem.

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O camião ainda jaz nas águas do ribeiro. Ao condutor, nem uma multa, uma ida a tribunal para se explicar, a reparação dos estragos sequer. A irresponsabilidade ficou por pagar. Ou melhor, está a ser paga pelos habitantes de Varela.

O ESPANHOL DE BISSORÃ

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Deliciosa estória de um guineense que não se iludiu com a fria Europa. Publicada pelo ABC.

Para ler AQUI.

Emigração 'é para ricos', dizem jovens de Guiné-Bissau

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Reportagem e foto LUSA, publicadas na LUSA BRASIL

José Sousa Dias, Varela, Guiné-Bissau, 30 Set (Lusa) - Os jovens de Varela, no extremo noroeste de Guiné-Bissau, não querem ouvir falar da emigração clandestina para a Europa e, embora saibam que muitos africanos tentam dessa forma a sua sorte, afirmam que "isso é para os ricos".

"Nós aqui não temos nem dinheiro para comer, como poderíamos ter dinheiro para uma aventura dessas? Isso é tudo falso", afirma à Agência Lusa o jovem Omar Sambu, carpinteiro, pescador, comerciante e eletricista, mas desempregado.

Extremamente pobres, falando entre eles em francês, uolof (idioma senegalês), flupe (ou njola, dialeto local) ou ainda em dialetos guineenses - poucos são os que falam português -, os moradores nem sorriem quando perguntados se Varela se tornou num dos pontos de partida para as novas rotas da imigração clandestina.

Isolados

"Não há dinheiro para nada. Não há dinheiro a circular em Varela. Não há comércio. Os hotéis estão todos fechados e em ruínas. Só comemos o que os pescadores nos trazem, que trocam pelo arroz que os agricultores cultivam", lamenta-se à Lusa Landim Sadjo, o presidente do Comitê de Estado de Varela.

Varela é hoje uma povoação triste, desoladora e isolada, com cerca de 50 pescadores que ainda confiam no mar generoso e, sobretudo, em Deus.

"Dieu est avec nous (Deus está conosco)" é o nome de uma das mais de duas dezenas de pequenas embarcações (foto), cavadas em espessos troncos de árvore, em que diariamente os pescadores vão ao mar para garantir o alimento de subsistência, que se juntará, mais tarde, aos recolhidos da terra.

No cargo desde a independência formal de Guiné-Bissau, em 1974, Sadjo diz que as razões da miséria são sempre as mesmas: conflitos militares, irresponsabilidade do poder central de Bissau e a infelicidade que é residir fora da capital guineense, que não tem um único médico nem um enfermeiro, sendo que o mais próximo está em São Domingos, 55 quilômetros para o leste.

Varella é acessível apenas pela estrada que parte de São Domingos, no entanto, percorre-la atualmente seria um verdadeiro inferno, pois a passagem está inundada com as águas das chuvas.

Para agravar ainda mais a situação, a ponte de madeira que liga o trecho de cerca de 20 quilômetros entre Varela e a cidade de Susana foi destruída após um acidente com um caminhão carregado de arroz para a população local, deixando a estrada inutilizada "até que alguém se lembre" de repará-la.

"Já avisamos as autoridades de São Domingos, que disseram que iriam avisar Bissau. Mas até hoje não se obteve resposta. Vai assim ficar até alguém se lembrar", lamenta Landim Sadjo, recordando que a situação já era difícil com as minas terrestres colocadas em abril pelos rebeldes de um movimento separatista senegalês.

Segundo Sadjo, durante dois meses não foi possível circular naquela via, uma vez que haviam minas terrestres e só depois da explosão de uma delas, que atingiu 14 dos 30 civis que seguiam na "candonga" (viatura de transporte de passageiros), é que as minas começaram a ser retiradas.

Europa

Há cerca de três meses e meio um baro chegou à Praia de Varela. "Eram clandestinos, sem dúvida. Eram mais de 40 e vinham numa canoa à deriva que deu à costa. A canoa foi reparada e seguiram depois viagem, apesar dos esforços do chefe Feliciano em tentar convencê-los da loucura", afirma Omar, filho de uma das duas policiais que trabalham com o "herói" de Varela, o policial "chefe" Feliciano.

As versões sobre o que é chamado "incidente" em Varela são contraditórias e Sadjo garante que não havia guineenses a bordo. "Ouvimos aqui a rádio senegalesa, que dá grande destaque aos clandestinos. Sei tudo o que se passa em Varela e posso garantir que nada se passa aqui de estranho", afirma o presidente do Comitê de Estado de Varela, que "acha" que tem cerca de 75 anos.

Pap Coli (foto), pescador senegalês de Diène (Casamança, sul do Senegal), vive na praia de Varela há mais de uma década e se recusa a falar sobre embarcações clandestinas. Ele alega não saber de nada do incidente e afirma não entender "como é possível aventurarem-se em pequenas embarcações para a Europa".

O pescador, que diz conhecer bem a costa desta região do Atlântico, afirma que os ventos e as correntes marítimas obrigam a um grande esforço de navegabilidade, pois, nesta época do ano, seguem em direção ao continente americano e não à "tal Europa".

Todos os entrevistados pela Lusa, sobretudo entre a comunidade dos pescadores da Praia de Varela, são bem informados sobre a localização exata das ilhas espanholas das Canárias, embora recusem pronunciar a palavra.

Varela, a pouco mais de quatro quilômetros da fronteira com o Senegal, congrega 14 povoações, tem cerca de cinco mil habitantes, 500 a mais do que há 10 anos. O posto da polícia desabou e o comando é agora na casa de um dos três policiais da povoação, no quarto de seu filho.