4.8.08

UM ÚLTIMO OBRIGADO

As plantas dos meus pés são de geografia fácil e as costas pouco exigentes. Vou a qualquer lado e durmo em qualquer cama. Até no chão, a mais espaçosa de todas. No entanto, nesta vida de andarilho há uma coisa que não se dispensa nunca: alguém que trate de nós.

Quanto vale chegar a um lugar desconhecido, depois de umas valentes horas de estrada, e ter uma cama feita com uma rede mosquiteira branca a protegê-la, um balde de água limpa para tomar banho e uma vela para iluminar os fantasmas da noite? Muito. Se juntarmos a isto uma mamã perguntando-nos se preferimos peixe ou carne para o jantar… Talvez só o céu seja melhor!

Emma é nome de mãe. Não sei porquê, mas soa a lençois lavados, batatas fritas, carícias e beijos de boa noite. A mãe Emma – que se me apresenta como coordenadora do orfanato onde me acolho – tem ar disso mesmo, de mãe. Ancas largas, seios fartos e corpo de muitos quilos. E tem filhos que nunca mais acabam. Uns dela e outros do orfanato que dirige. Rapazes e raparigas a quem a guerra tirou os pais e que se exibem para mim, amarinhando por ela acima e agarrando-se-lhe ao pescoço, aos beijos. Feita a demonstração de amor, as quase 30 crianças e jovens dão-me as boas-vindas oficiais, em uníssono e de mãos atrás das costas, envergonhados…

Agradeço e vou tomar banho, antes que a noite caia. Segue-se o jantar. Fish and chips, servido pelos filhos (homens) que aqui não há lugar aos machismos típicos da sociedade africana. No final, mesa levantada e loiça lavada pelos mesmos rapazes: o David, que quer ser advogado, e o Sorey, que sonha com contabilidade.

À noite, antes de deitar, a última pergunta desta minha mãe por umas horas:

- O que quer para o pequeno almoço? Feijão com ovos? Café?
Esfrego os olhos, cansados da jornada… Estou no Ritz de Paris ou num orfanato da Serra Leoa?

- Nada, obrigado. – respondo – Apenas bananas e mancarra. Para a viagem!

A mãe Emma serve-me de metáfora às mães que têm tratado de mim nestes muitos quilómetros de estradas e picadas africanas. E foram muitas. A todas elas, muito obrigado. Obrigado em especial às minhas três mães de verdade, as de sangue, paixão e coração, que me criaram e criam com beijos e papas de leite, muitas vezes enviados por telefone ou apenas pelas correntes de ar que se passeiam por aí vagabundas – como eu – e me acompanham para onde quer que vá: Ana, Adelaide e Cláudia.

FIM DE LINHA

O retrovisor dá-me a perspectiva do que está para trás, do que vai ficando distante, submerso na lama dos dias ou difuso na poeira dos arquivos. Do que não se torna a ver.

AFRICANIDADES foi o que foi, uma estrada de pensamentos que saltavam dos dedos directamente para a rede - sem censura - muitas vezes enlameados devido à chuva, outras empoeirados por causa do sol, tal como a meteorologia que nos aquece e alegra os dias. Vamos embora no melhor da festa, mas a vida é assim mesmo, nem sempre se pode ficar até ao fim. Obrigado às pouco mais de 300 mil visitas pela paciência de ir passando e nos ir lendo ao longo destes cinco anos. Obrigado aos bissau-guineenses que tão bem nos acolheram. Boa sorte Guiné-Bissau. Até sempre!

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3.8.08

GUINÉ-BISSAU -- UMA VISÃO

A "Sombra do Pau Torto", texto biográfico do Eng. Carlos Schwarz, "Pepito". Uma preciosa ajuda para (tentar) perceber este pequeno e turbulento (mas maravilhoso) país.

A RESPONSABILIDADE DE PROTEGER (A POPULAÇÃO DA GUINÉ-BISSAU)

Regresso ao discurso de Bento XVI nas Nações Unidas, em Abril de 2008. Nele o Papa fez importantes declarações de princípio que – estou convencido – marcarão no futuro as relações internacionais.

Entre essas declarações destaco o princípio da “responsabilidade de proteger”. Referia o Papa que o dever de proteger os Direitos Humanos não compete só a cada Estado, mas também à comunidade internacional: “todo o Estado tem o dever primário de proteger a própria população de violações graves e contínuas dos Direitos Humanos (…). Se os Estados não são capazes de garantir essa protecção, a comunidade Internacional deve intervir”, disse o Santo Padre. Ao afirmar o princípio da “responsabilidade de proteger” Bento XVI referia-se (não em exclusivo) às crises vividas no Zimbabue, Darfur e Myanmar, onde as autoridades falharam no seu “dever de proteger”.

Não sendo especialista em relações internacionais, arrico-me a transpor esta declaração de princípio de Bento XVI para a Guiné-Bissau, que a comunidade internacional tem usado como laboratório de ensaios, numa lógica de intervenção ambígua que mais não fez que adiar o problema (a efectiva reforma das Forças Armadas). A verdadeira intervenção, para efectivamente proteger a população guineense, está por fazer. Tudo o que até aqui foi realizado pouco mais foram que boas vontades propagandeadas na TV e algum dinheiro anunciado, que nunca chega a entrar no país (fica em estudos e consultorias). [Um parentesis para abordar uma informação (cuja veracidade não posso confirmar, mas que circula nos meios jornalísticos de Bissau) que a ser correcta exemplifica isso mesmo. Do milhão de dólares prometido pela comunidade internacional para a construção da prisão de alta-segurança (que tanta falta faz) sobrarão – após estudos e consultorias – 200 mil dólares.]

A última dessas experiências de laboratório é a Missão da União Europeia para apoio às reformas na Defesa e Segurança. O general Verastegui, que a coordena, demonstrou já – com uma franqueza e um pragmatismo só possíveis num militar – não acreditar que o trabalho que dirige dê frutos. Verastegui percebeu que as forças armadas guineenses são ingovernáveis, vivem à margem da lei e auto-regulam-se anarquicamente a si próprias, recusando submeter-se ao poder do Estado (existe ele?) e às demandas da comunidade Internacional.

O que se está a passar na Guiné-Bissau (não apenas agora, há 30 anos) é uma tragédia que precisa de um ponto final e não de reticências como as que a comunidade internacional tem vindo a despejar. E esse ponto final (parágrafo) tem que vir de uma intervenção militar que proteja a população guineense… das suas Forças Armadas, que a mantém refém da paz e do desenvolvimento.

Cabe à comunidade internacional colocar fim à situação insustentável que se vive na Guiné-Bissau e que as notícias do tráfico de droga dos últimos dias têm demonstrado.

Acabo de regressar da Serra Leoa, um país que após muitos anos de guerra civil está a conseguir levantar-se. A esse facto não é alheio a presença de militares britânicos (IMATT), cujo objectivo é reestruturar as Forças Armadas serra leonesas, de forma a que se tornem uma força sustentável, com a qual o país possa contar.

A força britânica não anda na Serra Leoa a caçar fantasmas (o que temem muitos políticos e militares guineenses) nem ameaça a soberania do país (como temem tantos cidadãos guineenses). A sua presença é, só por si, dissuasora de tentativas de subverter a ordem democrática e o “bem-comum” em que acenta o processo de desenvolvimento.

Só com uma intervenção semelhante a Guiné-Bissau conseguirá libertar-se das amarras a que está presa. Por que espera a comunidade internacional? O momento é o mais oportuno possível.

ADENDA: naturalmente não advogo a presença de militares portugueses numa tal força. Descansem os mais cépticos, pois não sofro de neo-colonialite! CEDEAO, se fosse possível (não acredito) a via diplomática, de consenso. Angola, por uma via menos diplomática, mais musculada? Porque não?

A MENTIRA

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À terceira insistência os joelhos começaram a tremer. Se este tipo me pergunta uma vez mais a profissão vai descobrir que estou a mentir!

- Vous faites quoi? – perguntou o oficial de migração de cabelo à escovinha e bigodinho espigado inquiridor.
- Professor.
- Professor?! De certeza. Não és jornalista nem funcionário dessas organizações humanitárias que andam para aí? – E analisando as 32 páginas do passaporte, quase todas carimbadas, acrescentou desconfiado:
– Viajas muito, para professor…
- Tenho muitas férias… Sou professor em Bissau e regresso a Lisboa por terra para ter a oportunidade de conhecer o seu país. Dizem que é muito bonito…
- Jornalista... não? Nem pouco mais ou menos?

O homem deu-se por contente com a resposta sonsa e carimbou o passaporte sem fazer mais perguntas. Ainda bem para mim. Ser detido para “apuramente da verdade” no bunker préfabricado que demarca o início e o fim de… Marrocos não deve ser a coisa mais agradável do mundo. A paisagem lunar envolvente – rocha e areia –, os 40 graus de temperatura e os dealers que se juntam neste local a traficar, sob o olhar cúmplice das autoridades, todo o tipo de bens (droga, tabaco e automóveis roubados na Europa, por exemplo), fazem-me sempre desejar sair dali o mais rapidamente possível.

Era a terceira vez que entrava no território ocupado do Sahara Ocidental, vindo de Noahdibhou, na Mauritânia. Esta passagem pelo território que Marrocos ocupa e que a Polisário reclama tinha um sabor diferente, a risco e desafio. Havia estabelecido contacto com duas pessoas ligadas à Polisário para uma conversa e eventual entrevista em El Ayun, capital da região.

Entro na sete place, juntamente com outros oito passageiros (sete place, na Mauritânia, é metáfora para neuf place) e seguimos viagem para Dahkla, a mais bonita cidade do Sahara Ocidental.

2.8.08

VERY VERY BRITISH... REALLY BRITISH!

Não costumo andar a espreitar o que dizem os autocolantes das sanitas que os canalizadores insistem em deixar colados à mesma na altura da montagem de qualquer casa de banho (porque será!?)... mas não pude deixar de reparar neste!

Em Inglaterra existe um "Conselho da Casa de Banho", que vela pela aplicação das normas ecológicas na execução dos equipamentos das mesmas. Tem director e tudo! O que escreverá o senhor nos cartões de visita?

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ESTADO... DE ESPÍRITO

Começa a ser notória a falta de vontade, por parte de todos os actores políticos bissau-guineenses, para a realização de eleições legislativas em Novembro. O PRS não quer, pois sabe que as hipóteses de ganhar são pequenas. O PAIGC não lhe interessa porque não tem a certeza se ganha. Aos membros do actual governo dá-lhes jeito ficar mais uns meses, pois sempre vai pingando qualquer coisa. Os militares não querem perder o poder que detém, que um governo legítimado por um escrutínio poderia ameaçar. O presidente Nino está refém de todos os actores enumerados anteriormente e analisa os dados para perceber como pode sobreviver (políticamente)...

Face a todo este embróglio e face a isto, isto, isto e isto, não me admirava que uma destas manhãs Bissau acordasse com mais uma sublevação militar, intentona ou mesmo golpe. Há tanto tempo que não acontece nada!

CUSAS DI BRANCO III - TUDO 'TOMÁTICO

Uma amiga residente em Bissau importou mobiliário do IKEA. No dia da instalação, chamou a cozinheira para ajudar na montagem do Lego para adultos. A senhora, advertindo que não era carpinteira, pouco crente que conseguisse ajudar a patroa, lá foi.

Quando retiradas das caixas as pranchas, os pregos e tudo o resto, M., vendo que os móveis quase se construíam sozinhos, soltou um xiiiiiii de espanto, e não contendo a admiração exclamou no seu melhor semi-português:

- Cusa di brancu… I tudo ‘tomático!

CUSAS DI BRANCU II - IRÃN DI BRANCU

Certo dia na Guiné-Bissau fui dar com este espectáculo. Um amigo instalando uma lâmpada com célula foto-voltaica, daquelas que acendem quando alguém lhes passa por perto. Ao testá-la, aparece um dos empregados da casa, que logo foi chamado a servir de cobaia para teste.

- S., avança até ao fundo do corredor, por favor.

Ao passar perto da lâmpada e vendo que ela acendia sozinha, S. deu uma gargalhada nervosa, sem saber se a coisa tinha mesmo graça ou se tratava de algum feitiço.

- Xiiii, Irãn (Deus, divindade) di brancu!... – exclamou.

CUSAS DI BRANCU* I - GPS PESSOAL

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Uma estória passada comigo e duas com amigos, que servem para demonstrar como por vezes é engraçado trabalhar, em África, com produtos importados. Espero que as "sensibilidades mais sensíveis" que por aqui passam de quando em vez não vejam nelas fantasmas de troça maldosa. São apenas estórias engraçadas, que acontecem a qualquer um de nós quando perante factos/coisas/invenções inesperadas.

Estória 1, GPS Pessoal – Niankoei é mais que um motorista. È um companheiro de viagem de excepção, que, de vez em quando, por acaso, me conduz pelas estradas e picadas da costa ocidental africana.

O seu maior handicap é não saber ler nem escrever, mas compensa essa falha com uma memória de fazer inveja a muitos doutores, arquitectos e engenheiros. Conhece de cor as estradas e as picadas de quatro países, as barracas onde se come o melhor cabrito, o melhor arroz de peixe ou a melhor sopa de macaco; em que localidades e a que congregação e/ou confissão religiosa pertencem as mais simpáticas missões… Niankoei guarda muitos terabytes de informação na sua cabeça, onde ainda sobra espaço para as distâncias quilométricas entre as localidades. É uma espécie de GPS de carne e osso.

Às vezes, para quebrar a monotonia de horas seguidas de estrada, abro o mapa. Nessas alturas Niankoei coloca sempre um olhar aborrecido, quase desconfiado e cerra os olhos um pouco mais, fingindo que olha a estrada mais atentamente que de costume. Quando eu, somando os troços de estrada, lhe comunico que de A a B são, por exemplo, 137 km, Niankoei tem sempre uma achega a dar:

- 139! – diz de forma seca e irritada, como se os dois quilómetros de diferença pudessem fazer tombar o mundo.

Às vezes meto-me com ele e pergunto de onde até onde foi efectuada a sua contagem. Niankoei nunca hesita na resposta:

- Da estação Total do local X até ao cruzamento da mesquita do local Y!

Um destes dias assegurei-lhe que ele era melhor que um GPS. Olhou-me absorto, sem saber se a frase era elogio ou crítica. Lá lhe expliquei que no norte do mundo há uns aparelhinhos pequeninos que nos indicam por onde ir, quantos quilómetros são, os restaurantes do caminho, etc…

Niankoei olhou para mim, mais desconfiado que nunca:

- O quê?!?!

- Sim, é verdade. – reforcei, para que não julgasse que estava a mentir.

- Vocês brancos inventam com cada coisa. – concluiu com desprezo.

* Do crioulo guineense, "coisas de branco", expressão que indica (não só mas também) as invenções tecnológicas trazidas da "tera di brancu".

1.8.08

ESTORIA DE UMA MENTIRA

Estória de Luis de Vega, jornalista espanhol, que foi enganado quando tentava fazer a reportagem de uma saída de emigrantes clandestinos no norte do Senegal. Responsabilidade e ética na não publicação da (não) estória, no ABC. Só não acreditamos que Luis de Vega se tenha safado sem pagar a quantia devida aos mafiosos que lhe arranjaram aquela que poderia ter sido a CACHA da altura na imprensa espanhola.

Luís de Vega é correspondente do diário ABC em Rabat, Marrocos.

31.7.08

LAMENTO AFRICANIDADES

Lamentamos o restabelecimento da pena de morte na Libéria.

Libéria : la peine de mort rétablie pour stopper la criminalité

Lamentamos as emendas constitucionais levadas a cabo por alguns parlamentos africanos (como o parlamento senegalês, que acaba de aumentar o período do mandato presidencial de 5 para 7 anos). De acordo com um estudo do constitucionalista senegalês Ismaïla Madior Fall, levado a cabo em três países da África Ocidental, tais modificações assentam numa lógica de "conservação do poder".

Curioso como políticos como Abdulai Wade, PR senegalês, que passaram anos na oposição, tendo sido inclusivé presos, podem ter a memória tão curta. Por falar em Wade e no Senegal, os Reporteres sem Fronteiras inquietam-se pela liberdade de imprensa no país.

30.7.08

QUEM MANDA AQUI?

Kadhafi mostrou à Suiça que quem tem petróleo está acima da lei. A crise diplomática instalou-se na sequência de uma condenação do seu filho Hannibal por maus tratos e ameaças a dois funcionários seus, na Suiça. Não foi a primeira vez que o rapaz se portou mal em terras europeias. Já anteriormente tinha subido os Champs-Elysées, em Paris, fora-de-mão. Há quem pergunte, em França, se a política gaulesa de reabilitação do coronel faz sentido.

PARA LER AQUI e AQUI

28.7.08

ESTADO DE ESPÍRITO

Tenho um amigo que diz: a Guiné-Bissau não é um Estado... é um estado de espírito. Terá solução este país?

PGR denuncia tentativa da polícia em desarmá-lo por ordem do comissário-geral

MISTÉRIO A DESVENDAR

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Fiz suficientes quilómetros nos transportes públicos africanos para saber duas coisas: 1) uma candonga/machimbombo/mini-bus nunca enche – cabe sempre mais um; 2) uma candonga nunca sai nem chega a horas, simplesmente porque não tem horas a cumprir – parte quando tem que partir e chega quando tem que chegar.

A fixação pela pontualidade, por parte dos britânicos, pelos vistos contaminou as suas antigas colónias. Como pode uma candonga do mato, ainda para mais em estação de chuvas, prometer pontualidade? Se eu, com tracção às 4 rodas, me vejo aflito para chegar ao destino, ela, com tracção às 40 e muitas pernas (que saiem para empurrar cada vez que o veículo fica atascado na lama) muito mais dificuldade deve sentir...

Intriga-me o slogan desta candonga, com me cruzei no leste da Serra Leoa. Always on time?!?!...

24.7.08

IGNOMÍNIA

A visita de Obiang, tirano que governa a Guiné-Equatorial, a Lisboa pode enquadrar-se sob duas perspectivas:

1: a perspectiva vergonhosa... para Portugal, um país democrático, que não deveria envolver-se com personagens deste calibre; para a CPLP, cuja aceitação da Guiné-Equatorial de Obiang como observadora na cimeira de Bissau, só contribui para diminuir o seu (des)prestígio internacional.

2: a perspectiva de futuro para Obiang. Como o senhor sabe que corre o risco de ser deposto um destes dias e, por isso, ter que pedir asilo, é melhor aproveitar para ir vendo moradias na linha de Cascais ou no Algarve para morar. Talvez até, quem sabe, o senhor fique com a casa de Jen-Pierre Bemba, que agora está vaga! Era um bom negócio, pois, para além de o corpo de segurança pessoal da PSP já conhecer os cantos à casa, Obiang sabe que (tal como aconteceu com Bemba) poderá sempre contar com a protecção das autoridades portuguesas que nunca colaborariam com o Tribunal Penal Internacional para a sua captura.

A DIFERENÇA DAS DIPLOMACIAS IBÉRICAS

Enquanto D. Juan Carlos e Zapatero mandaram à fava o ditador:
Obiang estará en Lisboa el día que iba a ir a Zaragoza

Portugal recebe-o de braços abertos:
Cimeira CPLP: Petróleo traz ditador africano a Lisboa

UNIÃO SINDICAL DOS CHEFES DE ESTADO AFRICANOS



Olhando para a sua história passada e recente, a União Africana mais parece um sindicato destinado a proteger os interesses (leia-se: emprego, o perpetuar no poder) de alguns déspotas que vão governando África com mão de ferro e pés-de-chumbo (pisando a população dos seus países).

VERASTEGUI PRAGMÁTICO

A Guiné-Bissau obteve "poucos avanços" no programa de reforma das suas forças armadas, que se deverá traduzir na redução dos efectivos e do número de quartéis, estimou hoje, quarta-feira, o chefe da Missão Europeia de Apoio a essa reforma, o general espanhol Juan Esteban Verastegui.

"Registamos poucos avanços no programa. Por isso, a Guiné-Bissau deve implicar-se mais", disse Verastegui, chefe da Missão da União Europeia para o Apoio à Reforma do Sector da Segurança na Guiné-Bissau, numa conferência de imprensa.


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Quando se convencem os os guineenses e os doadores que uma verdadeira reforma nas FA só se consegue com a presença no país de uma força estrangeira?

ERAM MEDICAMENTOS

Segundo o representante do secretário-geral da ONU na Guiné-Bissau, Shola Omoregie, há informações contraditórias sobre aquilo que transportavam os dois aviões aprisionados no aeroporto de Bissau. Há quem diga que se trata de medicamentos para o exército e quem defenda que se tratava de droga.

Atendendo ao passado recente, e atendendo a que o país e as suas Forças Armadas nunca foram indiciadas por tráfico de droga; atendendo ainda ao facto de militares terem rodeado um dos aviões assim que ele aterrou, impedindo a Polícia Judiciária de actuar e quase provocando confrontos entre as duas forças...

inclino-me para que o carregamento dos ditos aviões tenha mesmo sido de medicamentos. Só assim se explica tanto zelo!

22.7.08

CIDADANIA DE LUXO

Ser bissau-guineense é um luxo. Só pode, olhando para os custos de emissão do Bilhete de Identidade… a que devem ser somados os custos da vinda a Bissau, onde o mesmo é produzido em exclusivo.

A Ministra da Justiça do país congratula-se com a baixa dos custos de emissão do referido documento. Ser cidadão na Guiné-Bissau custa, hoje, menos 1000 francos CFA que anteriormente, ou seja 4000 francos CFA (cerca de 6 Euros). Considerando que o salário médio do país é de 40.000 francos CFA (cerca de 60 Euros), um cidadão guineense terá que dar 10% do seu salário ao Estado para constar nos registos. Não está mal, podia ser pior.

Fazendo uma pesquisa rapida pela net, ao calhas, vemos que os custos do Bilhete de Identidade guineense só se equiparam aos de Portugal (outro belo exemplo onde o Estado é o maior ladrão que lá mora). Vejamos, por isso, quanto custa tirar o BI noutros países do mundo, todos eles locais onde a população vive (em média) bem melhor (com mais recursos) que a população bissau-guineense:

Moçambique: 25 meticais, 0,65 Euros
Burkina Faso: 2500 FCFA, 3,80 Euros
Senegal: 1000 CFA, 1,50 Euros, gratuito durante os períodos de recenseamento
França: gratuito
Portugal: 7,05 Euros, gratuito para menores de 18 anos

Quando a corda de Safim ainda estava de pé, vir a Bissau custava (para além do bilhete de toca-toca) mais 500 FCFA a cada passageiro apanhado sem BI pelas autoridades. O porco, a mandioca e o saco de cravão eram cobrados à parte, mas isso são estórias que agora não são para aqui chamadas.

Ora, se a corda de Safim existisse, seriam precisas 8 viagens a Bissau (500 francos x 8) para compensar tirar o BI (por forma a evitar pagar a “multa” na corda). Como hoje, felizmente para estas pessoas, a corda já não existe, o crime de não ser cidadão compensa muito mais.

Por estas e por outras se percebe porque estão as autoridades preocupadas com a baixa adesão ao recenseamento. Na Guiné-Bissau, não ser ninguém é a melhor forma de não ser roubado.

20.7.08

MAIS DEVAGAR

O radar de velocidade captado pelo meu querido amigo Luís dá-me o mote. AFRICANIDADES entra em ritmo de verão (fuso Europeu) e de estação de chuvas (fuso africano). A cabeça está cansada. Por isso agora vamos "más despacio".

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19.7.08

RECUERDOS PARA OS BONS ALUNOS

"Cadeaux" espagnols à l'Afrique

Texto que aborda a política espanhola de pagar em géneros a boa execução, por parte dos governos africanos, dos programas de combate à emigração. Curioso como estes governos, não conseguindo executar correctamente os seus programas de governação, conseguem executar na perfeição políticas repressivas impostas por terceiros. Proponho que a experiência seja adoptada para aspectos como "democracia e a boa-governação".

- Ora, os senhores governaram bem estes últimos anos, o país progrediu, os índicadores de pobreza diminuiram... Muito bem... tomem lá uns automóveis e uns aviões...

Acham que assim funcionaria?

PS: Compreende-se agora porque andam os políticos bissau-guineenses em palpos de aranha para que o Frontex venha para as águas territoriais do país...

E VÃO TRÊS!

Os patrões da droga, na longínqua américa-latina, devem estar furiosos com a incompetência dos seus dealers na África Ocidental. Só esta semana foram "caçados" 3 aviões carregando pó. Dois na Guiné-Bissau e um na Serra Leoa. Se 3 foram caçados quantos terão passado incólumes?

Bissau : saisie de deux avions sud-américains convoyant 515 kg de cocaïne

5 PARA 1

Tenho alguma dificuldade em perceber esta intenção do governo guineense, pois em algumas zonas do país´essa meta foi mesmo ultrapassada. Em Conakry, no centro da cidade, por exemplo, o ratio de polícias é de 5 para 1 (um polícia para 5 cidadãos). E se um automobilista comete um erro, o ratio pode ser de 10 para 1, todos de volta do carro, à espera que pingue alguma coisa! Eu já vi, não estou a exagerar.

La Guinée veut atteindre le seuil de 1 policer pour 1000 habitants en 2010

ACTUALIZEM-SE OS LIVROS DE ESTILO

Nunca mais haverá dúvidas como escrever o apelido de Kumba, se Ialá ou Yalá. A partir de hoje será Embaló, Mohamed Embaló.

Guiné-Bissau: Kumba Ialá já é Mohamed Ialá Embaló e recenseou-se com o novo nome

18.7.08

SEM VODKA NOS REACTORES

Freetown tem a ligá-la às capitais da região uma amostra das melhores Air-Maybe do mundo (Elysian, Slot, Paramount, Orange, Teebah, entre outras companhias aéreas daquelas que aparecem e desaparecem como as nuvens no céu). Mas o que faz ter mesmo medo na viagem até à capital da Serra Leoa, a partir de Conakry, é a ligação do aeroporto à cidade.

O riso nervoso da senhora de uns dos vídeos abaixo dão-me inspiração para umas palavras sobre Freetown e essa coisa de subir no céu sem se saber como se vai aterrar (se suavemente, se bruscamente).

A cidade é servida por um aeroporto que fica do outro lado da baía. Quando os ingleses o construíram certamente pensaram que ficariam ali para sempre ou que o país nunca viveria convulsões que impedissem de fazer uns bons 80 km de estrada entre a capital e Lungui. Assim não quis a história que acontecesse e hoje a viagem que mais custa fazer não é a que liga qualquer cidade do mundo a Freetown, mas sim a que liga o aeroporto a Freetown.

Por estrada, 5 horas podem não ser suficientes. Felizmente há alternativas marítimas, mas elas não são muito mais rápidas que a viagem de automóvel.

O último recurso são os helicópteros, uns MI-8 russos, tripulados por… russos (provavelmente os únicos que sabem operá-los), que em 15 minutos ligam a cidade e o aeroporto. Em Freetown diz-se por brincadeira que enquanto houver vodka na cidade não haverão mais acidentes como o de 4 de Junho de 2007.

Eu, por mim, continuo a preferir a estrada para chegar à capital da Serra Leoa. Sou eu que conduzo e não preciso de vodka nos reactores.



CABECINHAS D'ALFINETE

Tal como este chinês, celebrando os JO, sugiro que Sócrates e os seus ministros celebrem desta forma (mas com bandeirinhas de Portugal e Angola) a amizade com José Eduardo dos Santos, quando este se deslocar brevemente a Lisboa para a cimeira da CPLP. Fariam assim jus ao nome por que merecem ser tratados: cabecinhas d'alfinete!

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Foto Reuteurs, retirada DAQUI

EXPULSA DA ESCOLA POR ESTAR GRÁVIDA

Chego a esta notícia através do GLOBALVOICESONLINE. Há uma petição a correr, para que justiça seja feita.

AQUI

BAD NEWS

Ora aqui está uma notícia que deve deixar muitos guineenses desconsolados. A APPLE não tenciona vender o I-phone na Guiné-Bissau.

A informação não deve, no entanto, fazer esmorecer todos aqueles que amam o ronco de andar sempre com telemóveis topo de gama no bolso e na orelha, mesmo se as operadoras nacionais não suportam nada mais que voz e SMS.

Razões:

1) a Guiné-Bissau não é a única a estar na lista negra da Apple. China e Rússia estão lá também. O país está entre os grandes, portanto.

2) quem quiser um I-phone pode sempre recorrer a um narr, nigeriano ou libanês da praça. Depressa encontrará um aparelho, já desbloqueado e pronto a usar.

PRIMEIRO-MINISTRO DE PACOTILHA

Sócrates foi a Angola defender os interesses portugueses (leia-se lamber o rabinho de José Eduardo dos Santos). A submissão a que se sujeitam certos políticos face aos petro-dólares angolanos é arrepiante e devia incomodar os portugueses, mas aparentemente não.

Não perceberá Sócrates que a malta percebe que ele está a mentir quando afirma que a governação de José Eduardo dos Santos "é a todos os títulos notável"?

Cito alguns dos números avançados por Isabel Stilwell, no editorial do Destak de hoje, e que demonstram que para ser notável Zédu tem que fazer muito mais:

• PIB per capita: 6500 dólares (o de Portugal, é de 21 800)

• Índice de Desenvolvimento Humano - 162 (em 177 países), um lugar acima do Burkina Faso.

• Expectativa de vida: 41,7 anos

• Morte de crianças com menos de 5 anos, 245 por mil.

• Iliteracia adulta, 67,4%

Quanto aos professores de português, que Sócrates re-anunciou que seriam enviados para o país, eles já haviam sido anunciados há dois anos, aquando da última visita do PM luso. Sempre pensei que os 200 jovens licenciados estivessem já em Angola. Afinal o governo português ainda não começou a explorar estas pessoas, a quem pagará salários indignos (se lhes pagar segunda a mesma tabela dos que estão na Guiné-Bissau), para que ajudem o MPLA a fazer política. Um aldrabrão, este primeiro-ministro.

17.7.08

ARCO-ÍRIS

A magia da estação das chuvas.

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Porto Loko, Sierra Leone

16.7.08

UM DIA SEM IMIGRANTES

E se as associações de imigrantes decidissem fazer um dia de greve, para mostrar à malta o que seria a Europa sem eles?

Cruz Roja de Valladolid se pregunta cómo sería «un día sin inmigrantes»

CONVERSÃO DE KUMBA YALÁ - A ANÁLISE DE FAFALI KOUDAWO

Fafaly Kudauo, que fazia uma leitura política da anunciada decisão de Kumba Ialá em se converter ao islão sexta-feira, afirmou que além de uma clara aproximação ao mundo muçulmano estrangeiro, o ex-Presidente guineense irá capitalizar as suas bases de apoio político no país, juntando os seus "naturais apoiantes", isto é, os balantas (a sua etnia) e aos indivíduos da comunidade islâmica local.

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15.7.08

PRESIDENTE EL HADJ OUMAR ABDULAI KUMBA YALA

Começou a campanha para as presidenciais (as legislativas serão trocos, no entretanto). Com um bocadinho de dinheiro numa mão, o corão na outra e os fulas no bolso, El Hadj Yala pode já considerar-se presidente.

Kumba Ialá converte-se ao islamismo

O CORREDOR DO MAL

Colombianos, mexicanos, americanos e bissau-guineenses presos em Freetown por posse ilegal de droga. Avioneta em que era transportado o produto com autocolantes "Cruz Vermelha". Mais uma notícia a confirmar que o corredor do mal da droga liga, entre outros, a Serra Leoa, a Guiné e a Guiné-Bissau.

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13.7.08

SER MISSIONÁRIO

Dois textos (um alegre e outro triste) do padre Vieira, no Jirenna. Ser missionário é isto: viver e morrer pelos outros. Gostava de ser como eles.

SANS COMMENTAIRES

Sinceramente não me recordo se estas fotos já saíram. Se já, as minhas desculpas. Se não, aqui ficam! Sem legendas, para quem quiser (e puder e conseguir) as ir là procurar. Djenne et pays Dogon, Mali.

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11.7.08

DUAS MARGENS, O MESMO OCEANO

Um amigo alemão traçava há dias um paralelo entre o que se está a passar em África com a emigração e o que acontecia durante o regime comunista da alemanha de leste. Ou seja, tal como do outro lado do muro, antes da sua queda, emigrar era crime, também em África se está a olhar o fenómeno migratório como algo negativo, que deve ser impedido e severamente punido. No Senegal e na Mauritânia a caça ao emigrante tornou-se uma actividade altamente rentável para o Estado, que, praticando a política que interessa à Europa, recebe por isso dinheiro e favorecimentos.

Interrogo-me sobre qual o papel dos políticos e da imprensa no debate sobre esta problemática. Ou eu ando distraído ou o assunto "emigração" tem sido pouco debatido por aqui. Quando esse debate acontece, é superficial e diz apenas aquilo que todos sabem: "que emigrar nas pirogas é muuuuuiiito perigoso".

Curioso reparar que na América latina, as coisas não se passam assim. A diferença de abordagem de africanos e latino-americanos, no que concerne este assunto, é bem diferente. Quando foi aprovada recentemente no Parlamento Europeu a Directiva do Retorno, a imprensa e alguns políticos sul-americanos (Hugo Chavez - Venezuela - Rafael Correa - Equador, e governo brasileiro, para dar apenas alguns exemplos) reagiram, não só contestando a medida, como prometendo represálias. Acaba por ser interessante (e algo contraditória) esta reacção, uma vez que os migrantes destes países são o que conseguem mais facilmente e com menos riscos entrar na Europa, pois chegam de avião e com vistos turísticos, contrariamente aos africanos, que, vendo este tipo de vistos serem-lhes recusados, tentam a sorte pelas vias que restam: mar e deserto. Assim sendo, faria sentido que África reagisse mais rapida e violentamente que a América latina às medidas impostas por Bruxelas. Assim não aconteceu.

Se por um lado se percebe porque não falam os políticos de África (falta de cultura e permeabilidade à corrupção de Estado praticada por alguns países europeus), não deixa de ser curioso reparar que a imprensa africana se mostre tão desinteressada do assunto. Os jornalistas não têm nada a dizer acerca da fortaleza que ameaça tornar-se a Europa (fortaleza essa que permanecerá aberta para os cérebros do continente!)? Porque não falam eles? Venderam também a sua consciência a Bruxelas, Madrid, Paris, Roma e Lisboa?

Uma última palavra para o papel da (dita) sociedade civil. Enquanto algumas das organizações da sociedade civil africana têm reflectido e debatido o assunto, outras (incluindo estruturas de Igrejas e ONG's) têm embarcado em projectos-máscara, de objectivos pouco claros, "sugeridos" por alguns países europeus. Com dinheiro se cala a boca de quem devia falar.

VOZ BASS(A)

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Baciro Dabó (ou Bass Dabó, como também é conhecido) é a nova revelação da música moderna bissau-guineense. O antigo ministro da Administração Interna, conselheiro presidencial, jornalista, entre outros, editou recentemente o seu primeiro álbum, denominado “Terra Ranca”. Demos uma breve escutadela de forma a fazer uma crítica. Nada a dizer. As meninas dos coros, que acompanham o “Major do povo”, cantam muito bem.

Aqui fica um cheirinho.

bass1.wma -

bass2.wma -

AH SÃO PESSOAS?!

Os espanhóis estão indignados com a catástrofe ocorrida ao largo de Almeria, onde morreram 15 migrantes, nove dos quais crianças.

O diário de Tarragona escreve assim:

Si los 48 inmigrantes que pretendían alcanzar las costas de Almería hubieran sido europeos (por ejemplo, holandeses, portugueses o polacos) no se hubiera producido la catástrofe en la que murieron 15 personas, entre ellas nueve niños, quince cadáveres arrojados por la borda. Pero eran de Nigeria, Gambia, Kenia, Camerún y Senegal. No pueden venir de otro modo. ¡Esto es demagogia!, dirá alguien. Pero es la realidad. No son europeos. ¡Pero son personas! No se puede acoger a todos. Es cierto. Pero, ¿alguien es capaz de sostener que los gobiernos de la rica Europa no pueden hacer más por África?

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GUINÉ-BISSAU ENTRA NA HISTÓRIA DO DESPORTO

Pela primeira vez na história dos Jogos Olímpicos dirigentes de um país vão competir na arena. Após leitura desta notícia é o que se depreende. Terão os senhores do fato alcançado os mínimos para estar presentes em Pequim?

Guiné-Bissau com três atletas e 29 dirigentes em Pequim

10.7.08

QUANDO ÁFRICA AJUDA A EUROPA

Ante la disminución de las compras de los principales mercados de la Unión Europea (UE) y de Estados Unidos debido a la crisis económica, Portugal encontró un puerto de abrigo en sus antiguas colonias africanas.

FRASE CHAVE DO ARTIGO: Sin embargo, explicó que "cuando se habla de comercio entre Portugal y los Palop, la verdad es que estamos hablando casi exclusivamente de Angola".

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9.7.08

O GENERAL E OS RATOS DE LABORATÓRIO

O general Verastegui, que chefia a Missão da União Europeia para a Reforma do Sector de Segurança, deu uma conferência no seu país natal, onde está de férias. O texto publicado no CONFIDENCIAL demonstra (1) que a realidade do terreno é diferente da esperada; (2) que em apenas 3 meses o general espanhol já se apercebeu da tarefa gigantesca (impossível?) que tem pela frente. Se o olmo não dá peras, onde vai o general arranjá-las? Debaixo de algum mangueiro não será… pois este só dá mangos Serão estas palavras, já, um cântico de desânimo?

O problema da relação de confiança Missão- Forças Armadas Guineenses, muito importante, foi abordado por Verastegui. Se esta barreira não for ultrapassada o projecto que lidera está votado ao fracasso. Os militares guineenses nunca se deixarão transformar em ratos de laboratório e Tagmé na Wai já avisou: “Querem reformar as FA para depois nos virem apanhar como galinhas." Votos (sinceros) de boa sorte a toda a equipa da Missão.

Duas frases do texto cujas linhas merecem ser lidas e as entrelinhas relidas.

Una cosa es reformar y otra reconstruir. Lo que nos encontramos sobre el terreno dista mucho del manual.

Además, se añade el problema de que “no es fácil tener a suficientes personas dispuestas a dejar su casa, su familia durante largo tiempo”, por ello, se acude a las rotaciones, lo que genera “numerosos problemas, sobre todo porque la relación de confianza con las autoridades del país asesorado es clave y, con tanto cambio, terminan sintiéndose como conejillos de Indias” [ratos de laboratório]. Por tanto, “hay que preparar currículos y estructuras potentes”.

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4.7.08

OS PAIS FUNDADORES

Há uns anos atrás, por ocasião de um curso consagrado aos Estudos Europeus sugeriram-me a leitura do livro Os pais fundadores da Comunidade Europeia, de António Ferreira Gomes (ed. Quarteto, 2001).

Nele o autor coloca em evidência o papel de cinco personalidades – cinco visionários, cinco homens de uma lucidez política arrepiante – que estiveram na origem desse espaço de paz, justiça e liberdade que é, hoje, a União Europeia.

Os cinco "pais" escolhidos por Ferreira Gomes foram Jean Monnet (1888-1979), Robert Schuman (1886-1963), Alcide de Gasperi (1881-1954), Konrad Adenauer (1876-1967) e Paul-Henri Spaak (1899-1972).

Vem esta conversa a propósito da ideia de Khadafi e companhia de criar os Estados Unidos de África. Tendo a última Cimeira da União Africana sido dominada pelo Zimbabué, o projecto “Estados Unidos de África” passou despercebido à comunicação social. Mas a “coisa” parece que foi debatida pelos líderes presentes, de acordo com este site gabonês.

A ideia, que em teoria poderia trazer um novo alento e esperança a muitos países africanos, peca num aspecto: os líderes envolvidos não são visionários nem politicamente honestos, como o foram os pais da UE.

Aos 19 países envolvidos (Libye, le Sénégal, la Gambie, la Guinée-Bissau, le Liberia, le Mali, le Niger, le Bénin, le Togo, le Tchad, le Soudan, la République centrafricaine, le Gabon, les Comores, le Sierra Leone, Sao Tome et Principe, la Guinée équatoriale, la République de Guinée et l'Egypte) falta ainda muita coisa para um dia se poderem agrupar numa União política, comercial. Pais, pais dos verdadeiros, daqueles que amam os filhos, é uma das coisas que lhes falta.

ERRO DE PALMATÓRIA

Sem desprimor para o Faro de Vigo, um dos maiores títulos da Galiza... Mas este erro merece umas reguadas. Basta ir ao google e escrever "Wolof" para aprender que é a língua mais falada no Senegal! Por outro lado, se se procurar por "lengua utilizada Etiopía", o resultado será "amárico".

Cerca de 10 millones de personas en el mundo hablan el wolof, la lengua más utilizada en Etiopía

3.7.08

COMO NÃO SER NADA SIMBÓLICO

Os líderas das armadas de Moçambique e São Tomé e Princípe dizem não querer ter "marinhas de guerra simbólicas". A solução para o problema pode passar por uma visita de estudo à Guiné-Bissau, de forma a perceber como uma marinha pode ser bastante activa.

ESTRELA EM ASCENSÃO

Militantes do PAIGC entraram em Bissau apoteoticamente, terminado o congresso de Gabú. A estrela da caravana foi... Baciro Dabó, antigo ministro da Administração Interna e cantor. Do alto do seu Hummer, Baciro distribuiu beijinhos pela multidão que o adulava. De Cadogo, presidente do partido, nem rasto!

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PAIGC/Congresso: Novo líder convida PR "Nino" Vieira para presidente honorário do partido

O congresso do PAIGC, maior força política da Guiné-Bissau, terminou quarta-feira à noite com o novo líder, Carlos Gomes Júnior, a convidar o chefe de Estado, "Nino" Vieira, para presidente honorário do partido.

A figura de presidente honorário não existe no Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), mas se o chefe de Estado guineense aceitar é o seu regresso ao partido e a sua reunificação com aquela formação política, que presidiu até 1999.

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2.7.08

GUINÉ-BISSAU: ESTADO PRECISA-SE

Guinée-Bissau: besoin d'Etat / Guinea-Bissau: In Need of a State

Relatório do International Crisis Group sobre este fantástico país.

Versão resumida em inglês

Versão completa em francês

BACAI SANHÁ DERROTADO NO CONGRESSO DO PAIGC

Existem várias coisas complicadas em África. Uma delas é certamente saber aceitar derrotas e perceber as regras do jogo democrático.

Candidatura de Malam Bacai admite irregularidades na contagem dos votos

PORREIRO PÁ!

A frase com que Sócrates e Barroso festejaram o acordo para um Tratado que permitisse colocar ponto final no cisma europeu faz todo o sentido nos dias de hoje.

A política portuguesa de forçar entendimentos apenas para conseguir dar o nome "Lisboa" a um documento cai assim por terra, como um castelo de cartas mal feito.

Afinal as viagens de Sócrates e Luís Amado à Polónia não valeram de nada, pois à primeira hipótese Kaczynski mandou "Lisboa" (o Tratado, entenda-se) às urtigas.

Após o fiasco político de uma das estrelas da presidência portuguesa (Cimera UE-África), a ruína do Tratado de Lisboa prova que 2007 não foi assim tão mágico para Portugal e para a diplomacia lusa, como os assessores de imagem de Sócrates nos quiseram fazer crer.

Porreiro pá! A União Europeia não se constrói nos gabinetes. Quando é que vocês, líderes europeus, entendem isso pá?

AFRICOM FICA EM STUTTGART

Artigo sobre a presença militar norte-americana em África. Terá a ideia de instalar uma grande base em África sido abandonada?

The United States has no interest in a big troop presence in Africa, the chairman said. AfriCom’s headquarters will remain in Stuttgart -- also home to EuCom, which has had primary responsibility for Africa -- for at least the next several years.

1.7.08

MUDEM-SE PARA O REAL MADRID



Todos os meses são detidas, arbitrariamente e de forma preventiva, na Mauritania, 200 a 300 pessoas. Porquê? Porque se suspeita que desejem emigrar para Espanha. E como chegam as autoridades mauritanas à conclusão de que determinado indivíduo tem esse desejo estúpido, ilegítimo e criminosos de deixar a sua terra? Porque veste, por exemplo, uma camisola do Barça.

Cuidado com o que vestem rapazes. Se os mouros do deserto são do Real, apressem-se a comprar camisolas branquinhas. Talvez até já tragam nas costas CRISTIANO RONALDO.

Notícias sobre o relatório "Ninguém que saber de nós", da Amnistia Internacional

AQUI

AQUI

Relatório da AI na íntegra.

30.6.08

MUGABES HÁ MUITOS

Em África os ditadores são como os chapéus… há muitos!

Interessantíssimo artigo da France Press, que conta todos os Mugabes deste continente. Presidentes sanguinários, na maioria dos casos, que ou nunca se deixaram sufragar ou preencheram eles próprios os boletins de voto.

Mouammar Kadhafi Mugabe, da Líbia, 39 anos de poder absoluto
Mswati Mugabe III, da Suazilândia
Teodoro Obiang Nguema Mugabe, da Guiné-Equatorial, 28 anos de poder absoluto
Lansana Conté Mugabe, da Guiné, 24 anos de poder absoluto
Blaise Compaoré Mugabe, do Burkina Faso, 21 anod e poder absoluto
Yoweri Museveni, do Uganda, 22 anos de poder absoluto
Issaias Afeworki Mugabe, da Eritreia, 15 anos de poder absoluto
Meles Zenawi Mugabe, da Etiópia, 17 anos de poder absoluto
Mwai Kibaki Mugabe, do Quénia, alguns meses de poder absoluto
Paul Biya Mugabe, dos Camarões, 33 anos de poder absoluto
Omar Bongo Mugabe, do Gabão, 41 anos de poder absoluto
Soudanais Omar el-Béchir Mugabe, 8 anos de poder absoluto, depois de uma chegada ao poder manchada por muito sangue
Abidine Ben Ali Mugabe, 21 anos de poder absoluto

José Eduardos dos Santos Mugabe também lá figura, claro! 29 anos de poder absoluto.

LER AQUI

28.6.08

EFICÁCIA

Las mafias enseñan a los inmigrantes a nadar para que logren el sueño europeo

Em resposta a polícia europeia vai aprender a afogar migrantes rapidamente e sem dor.

25.6.08

ESTAS SÃO AS FORÇAS ARMADAS DA GB

Texto da Reuters, a propósito da Reforma, que começa assim:

Imagine an army with more officers than soldiers, a penchant for coups and for meddling in politics, but no tanks or planes to defend the nation. These are Guinea-Bissau's armed forces...

E acaba assim:

An army which sits in the barracks thinking about things that it shouldn't, will end up doing them.

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24.6.08

AS PERNINHAS DE CARLA BRUNI

Um tiro de um soldado que se suicidou no aeroporto, no momento em que Sarkozy deixava Israel, provocou o pânico. Como foi giro ver Carla Bruni, a primeira dama, subir aos saltinhos as escadas do avião - sem esperar mesmo pelo marido. Tem boas pernas a senhora!

A PAZ, O PÃO, EDUCAÇÃO, SAÚDE... MISÉRIA

O slogan vermelho parece ser o mote daqueles que acreditam que serão os biocombustíveis a salvar o mundo (e os países do sul em particular).

Stanley Ho promete transformar a Guiné-Bissau num campo de jatropha. O ministro da agricultura guineense diz que não quer saber disso para nada, porque o que lhe interessa no projecto do magnata macaense é (apenas) a componente alimentar.

"A questão do biocombustível é alternativa, o que nos interessa é a produção de alimentos", explicou o ministro à LUSA.

Está-se mesmo a ver, não está?

É urgente que a sociedade civil debata o assunto. Os bissau-guineenses não são se podem deixar comer (uma vez mais). Precisam eles de comer.

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Foto (da autoria do senhor Almeida): Stanley Ho posando frente a uma bolanha.

23.6.08

SINFONIA DAS GOTAS

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Três da tarde. No céu, o azul faz-se cinzento e as nuvens choram gotas de amanhã e esperança.

A música, projectada no telhado de zinco e no chão duro de terra, abafa o mundo num instante. Todo o jardim se cala para a ouvir, e eu também. De barriga para o ar, deitado na rede, vejo as palmeiras sumirem-se atrás da película baça da chuva. As flores do hibiscus, que trepa não sei bem para onde, fecham-se com temor. Até o bater do coração se suspende, aguardando que a sinfonia termine.

Em tronco nu, deixo que a brisa me balance a mim e à rede e às palmeiras e às flores do hibiscus e aos pingos da chuva, que me aspergem como fás sustenidos.

Tudo o que dói e custa na vida – a estação das chuvas é uma delas - tem um lado positivo.

E A COERÊNCIA?

O MNE português apercebeu-se agora que Mugabe é um ditador à boa (velha!) maneira africana. Quando, em vésperas da Cimeira UE-África, andou de falcon a percorrer as capitais africanas a lavar com paninhos quentes as testas de quem defende o dono e senhor do Zimbabwe, de forma a tentar salvar a cara de Portugal na organização do encontro, ignorou o facto. Haverá quem o escute, agora?

No final da cimeira de chefes de Estado e do Governo da UE, que decorreu em Bruxelas, Luís Amado deu conta da preocupação dos “27” com os acontecimentos naquele pais africano.

21.6.08

WADE, O PILOTO-AVIADOR QUE TRAZ A CHUVA E METE MEDO ÀS CRIANCINHAS

Qualquer que seja o seu fim político, Wade ficará para a história como um dos primeiros (se não mesmo o primeiro) presidente africano da África negra, democraticamente eleito, a usar a sua cara como meio de propaganda. À imagem do que fazem (e fizeram) todos os ditadores do mundo (africanos ou não), Wade espalhou pelo Senegal cartazes com a sua foto.

Do ponto de vista da eficácia comunicacional, nada a dizer. Há ali, de certeza, mão de técnicos experimentados, que sabem as regras do jogo do marketing político.

Dos milhares de cartazes espalhados pelo Senegal há um que gosto particularmente. Trata-se daquele que anuncia o GOANA (sigla em francês para Grande Ofensiva Agrícola para a Alimentação e a Abundância), uma das (muitas) ideias peregrinas de Mr le Président.

A razão para esta escolha é simples: nele figura uma avioneta (com a inscrição Air Goana) que lança gotas de chuva sobre um campo de trigo. Fabuloso não é?

Outra das questões levantadas pela propaganda do PR senegalês é o efeito psicológico sobre a futura geração de senegaleses. É que, o senhor não prima pela beleza e as criancinhas senegalesas (eu já vi) passam para o outro lado do passeio quando se cruzam com um dos cartazes com a cara do Maître. Em casa, os cartazes do presidente são utilizados como ameaça para os mais novos se comportarem bem e fazerem os deveres da escola.

- Ou te portas como deve ser ou meto-te um cartaz no quarto. - dizem os pais senegaleses aos filhos.

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Dois dos cartazes propagandísticos, vendo-se no segundo, alusivo ao GOANA, Wade e a sua avioneta lançando chuva sobre um campo de trigo.

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Pormenor do cartaz GOANA.

BIOCOMBUSTÍVEIS, GUINÉ-BISSAU E O ABRE-PORTAS ALMEIDA SANTOS

Há dois meses escrevi que o anúncio do empresário macaense Stanley Ho de construir um hotel na Guiné-Bissau cheirava mal.

Esta notícia de hoje prova-o (Existe acordo de princípio para Geocapital produzir biocombustível). A entrada de predadores - como o empresário acima referido - na Guiné-Bissau não augura nada de bom. Seja para que tipo investimentos for, que gente como ele não vem a África para ajudar ninguém.

No meio disto tudo, há um elemento que não se pode descurar e que mostra quão porcas, selvagens e sem ética são as relações de alguns políticos portugueses com o dinheiro. Referimo-nos a Almeida Santos, ex-presidente da Assembleia da República Portuguesa e presidente do Partido Socialista, que em Abril de 2007 esteve na Guiné-Bissau por umas horas. O abre-portas de Stanley Ho deslocou-se em jacto privado (do empresário), visitou o Presidente da República e, candidamente, no final da visita, afirmou aos jornalistas que tinha "apenas" vindo dar um abraço ao seu "velho amigo" Nino Vieira. Hoje, um ano e uns meses depois, está claro o que Almeida Santos veio fazer. E a verdade ainda não foi toda contada, que Stanley Ho não vem para a Guiné-Bissau plantar apenas couves...

Fica-lhe mal, como estadista que foi (e pretende ainda ser). Fica mal ao PS, que mantém como presidente um homem com a ficha de Almeida Santos, que desde as independências de África tem prejudicado os interesses de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique (onde também tem servido de abre-portas a Stanley Ho).

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O início de tudo. Desde este momento que figuras políticas portuguesas nunca mais tiraram o narizinho de África. Lá onde há diamantes, petróleo ou outras opotunidades de enriquecer... sniff, sniff!

ADENDA: Uma palavra de apreço para o documento da UE, citado na notícia, que considera "atentado à fome" estar a plantar "centenas de milhar de hectares de solos de sequeiro para a plantação de oleaginosas não comestíveis para fins de combustível, em vez de se pensar no milho e em outros alimentos, nomeadamente feijão, batata-doce e mandioca". Os bois chamam-se pelos nomes.

UM BISSAU-GUINEENSE NO MAIORCA, DE ESPANHA

El delantero guineano Alhassane Keita es el primer fichaje del Mallorca. El delantero africano de 25 años llega con la carta de libertad procedente del Al-Ittihad árabe y firmará para las próximas cinco temporadas y el Mallorca abonará una prima de fichaje que ronda los 2 millones de euros.

20.6.08

O POTENCIAL DA RÁDIO SUB-APROVEITADO ou CEGUEIRA POLÍTICA?

Quando vou ao Senegal deparo-me, regularmente, com senegaleses que “arranham” o português. Aparentemente há uns milhares largos de estudantes da língua de Camões, que é opcional no ensino secundário senegalês.

Quando entro nos restaurantes senegaleses ouço, muito regularmente, música cabo-verdiana e guineense a passar. O mesmo acontece quando sintonizo rádios senegalesas.

Quando estou em Freetown (Serra Leoa, país anglófono) ouço a RFI emitir, em francês, 24 horas por dia. Na Guiné (Conakry, país francófono) ouço a BBC emitir, em inglês, 24 horas por dia. Em alternativa posso ouvir a BBC em francês, retransmitida em rádios locais; ou, da mesma forma, a RFI em inglês.

Posto isto pergunto? Pode considerar-se falta de visão o facto de quem é pago para (supostamente) promover a lusofonia não apostar na RDP-África como forma de divulgar a língua de Camões neste continente?

Ousadia (e visão) seria alguém no Instituto Camões – essa senhora Entidade que serve para a promoção… de quê!? - criar emissões radiofónicas em português com vista a serem difundidas em rádios de países africanos francófonos e anglófonos.

Ousadia (mais ainda) seria o governo português criar uma edição francesa e inglesa no seio da RDP-África, para retransmitir através de rádios locais noutros países africanos.

O cúmulo da ousadia seria o o governo português ter “tomates” (desculpem!) para plantar antenas da RDP-África em países (ditos) estratégicos para a política lusa em África, como o Senegal, a África do Sul e (talvez) os Congos.

Não sou adepto fervoroso da lusofonia (muito menos de Portugal e da portugalidade), mas se fosse veria e iria – desculpem a imodéstia – mais longe do que muita gente, que é paga para promover a lusofonia, vê e vai.

19.6.08

EURO TRAGÉDIA...

... assim classifica o Diário de Buenos Aires as medidas aprovadas ontem pelo Parlamento Europeu.

Desde hace 5 siglos las Américas han absorbido a decenas de millones de europeos. Incluso, después de expulsar a las coronas europeas, el nuevo mundo siguió recibiendo inmigrantes del viejo mundo que huían de crisis, guerras y persecuciones.

CONTRA VONTADE

Há indignação no ar, em Bissau, face a uma atitude do embaixador português para com uma cidadã lusa. Não vou comentar nem “linkar” o caso, precisamente porque já deixou de ser apenas “político-diplomático” para começar a ser pessoal e intestinal. Acho, contudo, interessante que sejam sobretudo guineenses os porta-vozes da indignação (e daí não vem mal nenhum ao mundo).

Tecerei apenas algumas considerações genéricas sobre a presença de estrangeiros na capital bissau-guineense. Que fique bem claro que não me refiro a ninguém, nem a nenhum grupo de pessoas, em concreto.

Bissau tem 3 tipos de brancos (diplomatas, cooperantes e outros):

1 – os que lá estão porque foram para lá enviados pela instituição/empresa para a qual trabalham;
2 – os que lá estão por dinheiro;
3 – os que lá estão porque gostam de África e/ou da Guiné-Bissau.

Os terceiros, a minoria, são os mais discretos no meio desta fauna selvagem que pulula na pequena capital africana. Não dão nas vistas, fazem o seu trabalhinho e vão gozando a vida, contentes por ali estarem, embora admitindo que há locais melhores para se viver.

Os primeiros e os segundos são os que causam problemas. São malcriados, trabalham contra-vontade e representam mal os organismos/empresas para os quais trabalham. Lamentam-se a toda a hora de uma terra e de um povo que já carrega nas costas um calvário inteiro. Tornam-se racistas. Armam zaragatas. Fumam droga, bebem alcóol, fazem sexo com quem não devem e passam o tempo procurando esquecer o tempo em que estão – de castigo – em Bissau.

Ora, estas pessoas não têm culpa da sua sorte. Se foram parar a Bissau é porque: ou ganhavam mal onde estavam ou não mereceram a confiança dos seus superiores/patrões para ir para locais melhores (“melhores” segundo eles, pois para mim Bissau é a cidade perfeita para se viver). Assim, a culpa das suas atitudes é de quem para lá os enviou, que não deveria ter enviado. Quem, no norte do mundo, faz a escolha dos profissionais a enviar para Bissau devia ser mais criterioso e não mandar para lá qualquer um.

Por outro lado, quem para lá é enviado não devia descarrregar angústias e frustrações em cima dos outros. Bissau é uma cidade pouco simpática (na perspectiva desta gente, na minha não), mas nem sempre na vida se pode trabalhar em locais (ditos por estas pessoas) “agradáveis e bonitos”. Não se pode comer bife do lombo todos os dias. Uma bentaninha cozida sem sal, cheia de espinhas e a saber a bolanha não faz mal a ninguém, de vez em quando.

18.6.08

DESCULPAI-NOS MUNDO!

Sempre me revi numa Europa plural, sedutora, aberta aos outros. Mais que num Portugal de óculos de aros grossos, míope, mesquinho. Mas começo a ter dúvidas quando vejo tratados serem aprovados às escondidas - para evitar chumbos - e leis duvidosas serem aprovadas. Nós, Europa, que sempre saímos de nossa casa para o mundo. Que colonizámos a América e tentámos conquistar África... proibimos agora os outros de nos imitarem?

Eurodeputados aprovam controversa lei de repatriamento de imigrantes

ALGUÉM EM BISSAU FAÇA O DOWNLOAD DO FIREFOX, PF

Diz esta notícia que o popular browser Firefox vai de vento em popa. No entanto, há dois países a partir dos quais nunca foi feito um download do programa. Um é a Coreia do Norte, terra gerida por atrasados mentais com o cérebro repleto de foices e martelos (sem neurónios suficientes para deixar o povo aceder à web). O outro é a Guiné-Bissau.

Há por aí alguém que queira colocar este querido país na lista da Mozzila? A empresa deve ficar agradecida e a Guiné-Bissau também, que desta forma passa a contar para a estatística. DOWNLOAD AQUI

At the time of this writing, there only two countries on Mozilla’s map that showed zero downloads: Guinea-Bissau in West Africa and North Korea.

BOAS IDEIAS

Senegal: biocombustibles para detener la inmigración

O Senegal, que não consegue produzir comida para quem lá mora, é o local certo para produzir gasóleo e gasolina bio. Assim se combate de uma só vez dois problemas: a emigração e a falta de combustível! Genial não é?

Proponho que ideias geniais como esta comecem a pagar um imposto que sirva para comprar gasolina para motores de piroga, de forma a que todos os senegaleses (que o pretendam) possam emigrar (para onde bem lhes apetecer, e não apenas para as Canárias).

17.6.08

A HISTÓRIA AO VIVO

Quando, há três semanas, deixei Conakry senti alívio e pena. Alívio por não ter que adormecer nem acordar ao som de rajadas de kalashnikov e pena por não estar presente para assistir à queda do velho leão Lansana Conté, no poder há 24 anos.

O país acalmou durante esse período, para acordar de novo segunda-feira (ontem), sem que o PR caísse. Voltámos ao mesmo: tiros e sirenes, carros e camiões carregados de militares a circular a alta velocidade para baixo e para cima, sem nexo aparente... um povo expectante, indiferente a tudo, comprando e vendendo nos mercados de rua a miséria que lhes dá fôlego para mais um dia.

É um prazer assistir em directo, a cores e com áudio à lenta queda de um regime despótico e malvado. Quase dá vontade de pegar numa kalash e ir por aí fora ajudar à festa, disparando também uns tirinhos para o ar! Que o regime Conté seja substituído por outro que dê mais esperança e alento a todos os guineenses.

ALY SILVA ESTÁ DE VOLTA

Está de volta o DITADURADOCONSENSO, no seu estilo inconfundível. Irreverência e guerra aberta a tudo e muitos! Welcome back camarada Aly!

12.6.08

1.6.08

RAZÕES DA VERGONHA

Concordo em absoluto com a posição da jornalista da RR, Graça Franco, sobre a atitude de um governante luso, que mentiu relativamente à segurança de Jean-Pierre Bemba, exilado em Portugal.

Diz Graça Franco:

"Podem existir mil boas razões para Portugal ter acolhido no seu território o ex-vice-presidente congolês Jean-Pierre Bemba(...) Podem existir outras mil boas razões para o Estado português lhe ter concedido protecção, através do Corpo de Segurança Pessoal da PSP(...) O que não existe é nenhuma boa razão para mentir aos portugueses sobre esta questão.

Dizer, como fez o Ministério dos Negócios Estrangeiros, que o senhor Bemba pagava de seu bolso a segurança própria, para virmos a saber, no dia seguinte, e através da própria PSP, que a protecção concedida ao ex-dirigente congolês era oficial, tinha aval do Ministério da Administração Interna e era paga por todos nós, faz-nos apenas supor que nos estão a tentar enganar e Portugal tem algo a esconder neste processo."


Parto destas palavras de Graça Franco para levantar a questão do pagamento de exílios no rectângulo ibérico a ex-governantes. Nino Vieira, por exemplo, viveu desde Maio de 1999 até Abril de 2005 às custas do Estado português. Recebeu, durante esse período, 800 contos/4000€ mensais, pagos por todos os contribuintes. Nunca Portugal divulgou este dado. Conheci-o pela boca do principal assessor do actual presidente guineene, no 5º andar do Bissau Hotel, a 9 de Abril de 2005, dois dias depois do regresso do general à Guiné-Bissau. O assessor acrescentava ainda na altura que a subvenção não era digna/suficiente para um ex-presidente.

Não coloco em causa o que, e quanto, paga Portugal a pessoas como Jean-Pierre Bemba, Nino Vieira, Luís Cabral e outros antigos dirigentes africanos exilados em Portugal. No entanto, seria interessante que essas decisões do poder central fossem divulgadas publicamente. Por uma questão de clareza e de forma a que se percebesse o que passa pela cabeça (qual o interesse) dos senhores do Terreiro do Paço ao aceitar receber e financiar exíios dourados em Portugal.

BRAD PITT VEM A BISSAU EM JULHO

Para ler AQUI.

30.5.08

TEATRO EXPERIMENTAL BISSAU

A Guiné-Bissau é um país sui-generis, pois tem pessoas de valor nas áreas mais inesperadas. O teatro é uma delas. Aqui fica a nossa palavra de incentivo ao Teatro Experimental de Bissau, criado em 2005 e apoiado pelo Centro Cultural Português e pelo (Projecto de Apoio ao Sistema de Ensino da Guiné-Bissau) PASEG. O grupo conta já com actuações um pouco por todo o país e a avaliar pelo nível a internacionalização é já merecida.

29.5.08

CONAKRY A FERRO E FOGO

Uma revolta em diversas bases militares está a causar o caos na cidade e um pouco por todo o país. Um assunto a seguir. Será desta que cairá o presidente Lansana Conté, numa altura em que Nino Vieira, em viagem oficial pelo Japão, não estará ali ao lado para o auxiliar?

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25.5.08

DE VOLTA À ESTRADA

Mais um interregno em AFRICANIDADES. Vamos de viagem, mas ao preço a que está o gasóleo trocamos o 4X4 pelo burro. Veremos se ainda haverá umas moedas para a palha e para as ferraduras, cujos preços também estão pela hora da morte. Enviaremos notícias de um qualquer cyber-embondeiro do caminho. Até breve.

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DID HE COME TO AFRICA OR TO THE ZOO?

A leitura deste texto de Kevin Sullivan não me esclarece se o gringo do Washington Post fez uma viagem a África ou ao jardim zoológico. Os grandes títulos da imprensa da terra do Tio Sam também fazem mau jornalismo. Este texto é uma ofensa à Guiné-Bissau e ao jornalismo de viagens.

What a big shit Mr Sullivan! Next time just call us so we can show you Guinea-Bissau (and we offer you in the package, for free, Senegal).

Eis dois extractos:

One of the great joys of being a journalist is traveling the world's roads not taken. And hardly anybody takes the road to Guinea-Bissau. The airlines are not exactly flocking to one of the poorest countries on earth.
(...)
One road had streetlights, and a few banks, restaurants and hotels had noisy generators, and therefore light. But for the most part, Bissau was just black dark at night.
(...)
By sunset, the streets were all but deserted. There was so little traffic at night that I came across a dog in the middle of the road. I thought it was dead. But it was just sleeping...

E passou esta alma quatro dias em Bissau para isto!

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24.5.08

PATERNALISMO OU VERDADES DURAS DE OUVIR?

Estalou a polémica entre a Bélgica e o Congo (RDC). De acordo com ESTA NOTÍCIA o ministro dos Negócios Estrangeiros belga declarou há uma semana “estar em condições morais de criticar as autoridades congolesas, uma vez que existe má gestão dos dinheiros públicos e violação dos Direitos Humanos”. As declarações estão a ser interpretadas de diversas formas. AQUI, por exemplo, afirma-se que Karel De Gucht terá evocado um “direito moral” do seu país sobre o ex-Zaire.

A bronca já levou Kinshasa a chamar o seu embaixador em Bruxelas e ao encerramento do seu consulado em Anvers. O governo congolês lembrou entretanto que “a RDC é um país independente, soberano e que não reconhece, por isso, a nenhum outro país um pretenso direito moral sobre ele”.

Não escutei as declarações do MNE belga e por isso não conheço o sentido das suas afirmações. A ser verdade que as suas palavras foram no sentido de afirmar um direito moral (no sentido de "histórico") da Bélgica sobre o Congo, estamos face ao típico paternalismo das antigas potências coloniais para com os seus bebés. Portugal e França fazem-no exemplarmente.

Se, por outro lado, as declarações de Karel De Gucht foram no sentido de afirmar um direito moral (no sentido do conjunto de regras de comportamento consideradas como universalmente válidas) para criticar a má gestão, a corrupção e a violação dos Direitos Humanos, então não vejo problema algum nas declarações do MNE belga. Assiste-lhe tal direito, uma vez que a Bélgica, enquanto país democrático e respeitador dos Direitos Humanos, tem perfeita autoridade para criticar. E aqui poderíamos traçar um paralelismo com as declarações de Bob Geldof, há dias em Lisboa. Os autoritários e corruptos governos e governantes africanos não gostam de ouvir verdades e reagem a elas violentamente, quando o que deveriam fazer, para evitar escutar o que não querem, era governar num quadro de transparência e de respeito pelo bem-comum dos seus cidadãos. Em África isso raramente (nunca?) acontece.

Juges et avocats craignent pour leur sécurité

Le procès des assassins présumés de l’ancien chef d’état-major général de la marine, le Commadant Muhamadu Lamine Sanha, a été renvoyé au 19 juin prochain pour manque de sécurité pour les juges du tribunal régional de Bissau et le collectif des avocats de la défense.

« Il n’est pas possible d’organiser ce procès sans aucune garantie de sécurité pour les juges et les membres du collectif des avocats de la défense. Nous sommes vraiment préoccupés devant l’absence de sécurité au niveau du tribunal pour pouvoir organiser ce jugement », a expliqué Me Basilo Sanca avocat de Dauda Tcham, un des deux co-accusés de l’assassinat de l’ancien patron de la marine abattu le 4 janvier 2007 par un commando.

Le ministère public avait pourtant déposé, il y a deux semaines, une demande de protection des jurés par la police d’intervention rapide (Pir) auprès du ministre de l’Administration interne, Certorio Viote mais ce dernier n’a pas envoyé ses agents pour garantir la sécurité à l’intérieur et dans les abords du Tribunal, indique-t-on de source judiciaire.

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Le président Nino Vieira annonce la fin de l’impunité en Guinée-Bissau

Le président bissau-guinéen, Joao Bernardo Nino Vieira, a vivement dénoncé vendredi la montée de la criminalité dans son pays et annoncé la fin de l’impunité pour les auteurs des crimes qui mettent en péril la sécurité des paisibles citoyens.

« Comment est-ce possible que notre pays bascule comme ça dans la violence qui menace la vie des paisibles citoyens ? », s’est interrogé le président Nino devant des anciens combattants de la guerre de libération nationale.

« Nous demandons au ministre de l’Administration interne de prendre les mesures nécessaires afin d’arrêter cette spirale de la violence et mettre un terme á l’impunité pour les auteurs des crimes », a-t-il ajouté.

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FIM DE SEMANA (na Ilha)

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Para fazer corridas de dows e percorrer o frio das pedras com os dez dedos das mãos.

ILHA DE MOÇAMBIQUE
Não é a pedra.
O que me fascina
é o que a pedra diz.

A voz cristalizada,
o segredo da rocha rumo ao pó.

E escutar a multidão
de empedernidos seres
que a meu pé se vão afeiçoando.

A pedra grávida
a pedra solteira,
a que canta, na solidão,
o destino de ser ilha.
O poeta quer escrever
a voz na pedra.
Mas a vida de suas mãos migra
e levanta voo na palavra.

Uns dizem: na pedra nasceu uma figueira.

Eu digo: na figueira nasceu uma pedra.

Por Mia Couto - o responsável pelo reacender da doença!