11.7.08

DUAS MARGENS, O MESMO OCEANO

Um amigo alemão traçava há dias um paralelo entre o que se está a passar em África com a emigração e o que acontecia durante o regime comunista da alemanha de leste. Ou seja, tal como do outro lado do muro, antes da sua queda, emigrar era crime, também em África se está a olhar o fenómeno migratório como algo negativo, que deve ser impedido e severamente punido. No Senegal e na Mauritânia a caça ao emigrante tornou-se uma actividade altamente rentável para o Estado, que, praticando a política que interessa à Europa, recebe por isso dinheiro e favorecimentos.

Interrogo-me sobre qual o papel dos políticos e da imprensa no debate sobre esta problemática. Ou eu ando distraído ou o assunto "emigração" tem sido pouco debatido por aqui. Quando esse debate acontece, é superficial e diz apenas aquilo que todos sabem: "que emigrar nas pirogas é muuuuuiiito perigoso".

Curioso reparar que na América latina, as coisas não se passam assim. A diferença de abordagem de africanos e latino-americanos, no que concerne este assunto, é bem diferente. Quando foi aprovada recentemente no Parlamento Europeu a Directiva do Retorno, a imprensa e alguns políticos sul-americanos (Hugo Chavez - Venezuela - Rafael Correa - Equador, e governo brasileiro, para dar apenas alguns exemplos) reagiram, não só contestando a medida, como prometendo represálias. Acaba por ser interessante (e algo contraditória) esta reacção, uma vez que os migrantes destes países são o que conseguem mais facilmente e com menos riscos entrar na Europa, pois chegam de avião e com vistos turísticos, contrariamente aos africanos, que, vendo este tipo de vistos serem-lhes recusados, tentam a sorte pelas vias que restam: mar e deserto. Assim sendo, faria sentido que África reagisse mais rapida e violentamente que a América latina às medidas impostas por Bruxelas. Assim não aconteceu.

Se por um lado se percebe porque não falam os políticos de África (falta de cultura e permeabilidade à corrupção de Estado praticada por alguns países europeus), não deixa de ser curioso reparar que a imprensa africana se mostre tão desinteressada do assunto. Os jornalistas não têm nada a dizer acerca da fortaleza que ameaça tornar-se a Europa (fortaleza essa que permanecerá aberta para os cérebros do continente!)? Porque não falam eles? Venderam também a sua consciência a Bruxelas, Madrid, Paris, Roma e Lisboa?

Uma última palavra para o papel da (dita) sociedade civil. Enquanto algumas das organizações da sociedade civil africana têm reflectido e debatido o assunto, outras (incluindo estruturas de Igrejas e ONG's) têm embarcado em projectos-máscara, de objectivos pouco claros, "sugeridos" por alguns países europeus. Com dinheiro se cala a boca de quem devia falar.

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