28.10.06

Actual governo é ilegítimo, diz Kumba Ialá no regresso a Bissau

Notícia LUSA

O antigo presidente e ex-líder do partido da Re novação Social (PRS) Kumba Ialá afirmou hoje, em Bissau, que o actual governo de Aristides Gomes é "ilegítimo" por não respeitar os resultados das eleições legi slativas de 2004.

Kumba Ialá falava aos jornalistas momentos após regressar a Bissau - de onde saiu a 15 de Outubro de 2005 - a bordo de uma avioneta privada que o transportou de Rabat até à capital guineense, precisamente no dia em que faz um ano que o presidente guineense, João Bernardo "Nino" Vieira, demitiu o governo de Carlos Gomes Júnior.
"Nem o Governo nem o Fórum (de Convergência para o Desenvolvimento - FCD) têm legitimidade", afirmou Kumba Ialá, sublinhando que, no seu entender, as responsabilidades dos "renovadores" acabaram a partir do momento da publicação do s resultados eleitorais das legislativas de Março de 2004.

Nessa votação, o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verd e (PAIGC) saiu vencedor e acabou por formar governo, executivo que, 17 meses e 1 7 dias mais tarde, a 28 de Outubro de 2005, foi demitido por "Nino" Vieira, que alegou então "incompatibilidades institucionais" com Carlos Gomes Júnior.

A exoneração ocorreu 14 dias depois da criação do Fórum, espaço de conc ertação política que integra o PRS, segunda força parlamentar, mais 15 "dissidentes" do PAIGC, permitindo, na lógica de "Nino" Vieira, criar condições para uma nova maioria parlamentar, da qual saiu o executivo liderado por Aristides Gomes.

Na altura da criação do Fórum, Kumba Ialá foi escolhido como "president e honorário" deste espaço político, tendo, no dia seguinte, partido para Marroco s, onde se manteve até hoje.

Questionado pela Agência Lusa sobre uma eventual contradição sua em rel ação à inexistência de legitimidade de um espaço político de que é "presidente h onorário", Kumba Ialá foi lacónico.

"Eu? Só se por métodos aleatórios", respondeu, rodeado pelos principais dirigentes da actual direcção dos "renovadores", alguns deles membros do actual governo.
Kumba Ialá acusou o Fórum, presidido formalmente por Aristides Gomes, d e ser "um satélite de alguém", que não apontou, alguém esse que deve assumir "as suas responsabilidades" no país.

Por outro lado, questionado também pela Lusa sobre se o Fórum é ou não a base de sustentação do actual executivo, Kumba Ialá respondeu com uma série de perguntas.
"Qual base de sustentação de governo? De que governo? Qual é o suporte legítimo desse Fórum? Qual é a legitimidade do actual governo?", perguntou.

"O PRS apoiou o presidente eleito (na segunda volta das presidenciais d e 2005). Entretanto, o presidente eleito, voluntariamente, decidiu organizar um outro governo, que é da sua livre autoria, da sua livre vontade. A nossa respons abilidade acaba a partir do momento em que os resultados eleitorais foram publicados", referiu.

Instado a pronunciar-se sobre se, segundo o seu ponto de vista, deve se r formado um novo governo, o antigo chefe de Estado guineense, empossado em 2000 e derrubado através de um golpe de Estado a 14 de Setembro de 2003, insistiu no vamente em responder com mais uma pergunta.

"Não foi o Fórum que formou o governo. O Fórum não é 'Nino' Vieira. Ou é 'Nino' Vieira? Nós apoiámo-lo mas não apoiámos o Fórum", afirmou, escusando-se , por outro lado, a comentar a actuação dos cinco ministros e quatro secretários de Estado que os "renovadores" têm no executivo.

No entanto, questionado sobre se, após o III Congresso do PRS, marcado de 08 a 12 de Novembro e em que se apresenta como candidato à liderança, assumir a direcção desta força política os "renovadores" vão permanecer no governo, Kum ba Ialá respondeu que cabe aos militantes tomarem essa decisão.

"Isso é o partido que tem de decidir, porque somos democratas e não é o líder que decide sozinho", respondeu, reafirmando que é candidato e que pretend e reassumir a liderança dos "renovadores", que abandonou após ascender à presidê ncia guineense, após as eleições de 2000.

"Nós somos um partido grande. Crescemos muito e devemos crescer e refor çá-lo cada vez mais, sobretudo a nível da organização, porque nas próximas eleiç ões (legislativas em 2008 e presidenciais em 2009) o nosso principal adversário é o PAIGC, que está destruído. Vamos passear, não vamos correr com ninguém", acr escentou.

O regresso de Kumba Ialá a Bissau foi marcado pela presença de cerca de mil apoiantes, que o aguardaram no aeroporto de Bissau e percorreram depois, a pé, os cerca de oito quilómetros até à sede do partido, de onde seguiu directame nte para a sua residência.

1 comentário:

Anónimo disse...

Era a figura que faltava para o circo.

JC