7.10.06

A COBARDIA DO VALENTÃO

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Wade, presidente do Senegal tem as calças sujas. O homem que pretende ser o patrono de toda a África Ocidental (e talvez arredores) está com medo e isso lê-se no que o texto anterior refere, mas não diz claramente!

O chefe de Estado do antro aqui de cima meteu-se a fazer acordos com Espanha e França para que estes países repatriassem a sua gente emigrada, e agora teme a factura (apresentada nas próximas eleições, leia-se).

Por isso solicita que despachem a mercadoria humana vinda da Europa para Saint Louis, no norte, longe de Dacar, dos meios de comunicação, das casas desses mesmos emigrantes.

Na pequena cidade, na pista do pequeno aeroporto, que fica ainda a uns bons quilómetros do centro, dá-se menos nas vistas e corre-se menos riscos de acontecer o que aconteceu em Hann, nos arredores de Dacar, aquando do primeiro repatriamento de senegaleses, em Março: a população do bairro manifestou-se, amotinou-se nas ruas, queimou pneus e apedrejou a polícia, exigindo que o Senegal não aceitasse nem mais um dos seus filhos de volta.

Para as famílias senegalesas, a partida dos seus mais novos é uma esperança para o futuro. Elas participam (e comparticipam) nesse projecto arriscado de embarcar nas pirogas da fortuna. É natural, por isso, que se sintam frustradas e vexadas ao vê-los regressar, passados poucos meses, com 10.000 XOF (15 Euros) no bolso.

É este vexame que faz Wade (e outros políticos africanos que nesta altura beijam dirigentes europeus) tremer, pois sabe que as eleições se aproximam (estavam agendadas para 2007, mas parece-me que já foram adiadas para o ano seguinte). A factura destes acordos pode vir a ser cobrada nessa altura.

A ver vamos se em vésperas de eleições Wade e outros políticos africanos terão coragem de aceitar repatriamentos. Se agora, com as eleições a alguma distância, solicitam que os aviões que efectuam as operações de repatriamento aterrem, discretos, de noite ou madrugada e em aeroportos secundários, como será depois? E há ainda a possibilidade de, chegadas as eleições, Wade despachar esses mesmos aviões para países vizinhos, de forma a passarem ainda mais despercebidos os repatriamentos. Oxalá não seja o vizinho do sul o escolhido.

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