12.10.06

CAIXÕES COM RODAS

Na estrada de Metangula, na província do Niassa, Moçambique, morreram ontem 14 pessoas. 16 ficaram feridas. Todos os dias morrem pessoas nas estradas africanas, no geral, e nas de Moçambique, em particular, portanto, nada de novo no acidente.

Abordo-o apenas porque conheço a estrada e conheço as chapas (carrinhas que fazem de transporte público em Moçambique) que ali circulam. E porque também já lá renasci, depois de o veículo em que seguia ter avariado e posteriormente ter sido abalroado por um camião sem travões. Tinha deixado o local momentos antes, quando o camião matou alguns dos meus companheiros de viagem.

Nas estradas do Niassa circulam os piores carros que existem em Moçambique e talvez em África. Porque o Niassa é uma terra à parte do Moçambique “avançado” vendido pelo seu governo.

Dois dias depois do acidente que por sorte do destino não sofri na estrada de Metangula tive a oportunidade de entrar numa chapa absolutamente sem travões. Quando escrevo “sem travões”, não uso nenhuma figura de estilo, porque a viatura não abrandava quando o motorista carregava no pedal central! O senhor ainda brincou, pisando o pedaço de metal e exclamando: “Patrão! Não tem travão.”

Imagino que duvidem das palavras que acabo de escrever. Se me dissessem que um carro pode fazer centenas de quilómetros diariamente sem travões eu também não acreditava.

No Niassa isso é possível. E é-o porque o Estado moçambicano, como todos os estados africanos é corrupto. Por isso viaturas sem o mínimo de condições são autorizadas a circular, matando inocentes.

Que estas 14 mortes abram os olhos das corruptas autoridades rodoviárias de Moçambique. Que os caixões de quatro rodas sejam proibidos de circular no Niassa.

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