3.10.06

OS INDÍGENAS FILHOS DA REPÚBLICA

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França decidiu actualizar as pensões dos antigos combatentes africanos. A decisão foi provocada pelo filme “Indígenas”, que comoveu Chirac (o presidente haveria mesmo de reconhecer que os antigos combatentes eram “Filhos da República”). Villepin, por seu lado, considerou que a medida é tardia.

Uma olhadela por sites francófonos permite dizer que o descongelamento das pensões foi acolhido com reservas por parte dos antigos combatentes. Se por um lado afirmam que “mais vale tarde que nunca”, por outro referem que “a valorização das pensões é mínima e fica aquém do merecido”.

No total, cerca de 84 000 antigos soldados (57 000 reformas e 27 000 pensões de invalidez) de 23 países beneficiarão deste ajustamento.

Mas a medida de Chirac não é totalmente desinteressada. Como referia na Quinta-feira na edição portuguesa da RFI certo analista, “muitos dos filhos e netos destes homens vivem hoje em França, emigrados. E votam! Apesar de esta não ser uma fatia de eleitorado muito significativa, nesta coisa da democracia todas as migalhas contam. Migalhas também são pão.”

Portugal tem no gesto da França uma oportunidade de corrigir uma injustiça. É uma obrigação que deve aos seus antigos soldados coloniais, que ficaram esquecidos no mato e hoje vivem, grande parte, na miséria. Como disse Chirac frente aos seus ministros, “a França teve um acto de justiça e de reconhecimento para com todos aqueles que combateram sob a nossa bandeira. Devemo-lo a estes homens, que pagaram com o seu sangue, e aos seus filhos e netos, muitos dos quais são franceses.” Sócrates pode inspirar-se nestas palavras, para um dia não ter que dizer, como disse Villepin, que “a reparação da injustiça é [será] tardia.”

Aliás, o peso da injustiça já deve pairar na consciência do PM português. Em Julho, quando viajou a Bissau para participar na Cimeira da CPLP, Sócrates passou por uma manifestação de ex-combatentes, mesmo à saída do aeroporto, que de bandeira verde-rubra em punho exigiam aquilo que lhes é devido. Interpelado pelos jornalistas, o PM referiu “não ter visto manifestação nenhuma.” Cegueira política.

5 comentários:

Anónimo disse...

Meu caro Jorge Neto, as situações da França e de Portugal não são tão identicas quanto o que parece. Os soldados coloniais franceses foram combater pela França longe das suas terras e contra inimigos que não eram o seu próprio povo.
Não digo que essas pessoas não tenham direito a algo do Estado português mas que as situações são diferentes são!

Anónimo disse...

Escreve outro João que não o mesmo ilustre antecessor. Para o caso, coincidindo na essência da posição. Que raio de comparação, caro Jorge, lhe deu para inventar (ou manipular). Com que então combater nas forças aliadas contra a barbárie nazi-fascista foi a mesmíssima coisa que combater o seu próprio povo ao serviço do colonialismo-fascismo? Defendo, como defendi sempre, que os ex-combatentes guineenses que serviram o Exército Colonial português devem merecer a protecção devida do Estado Português. Porque, mal ou bem, o serviram. Como fazem os Estados que possuem Legião Estrangeira, na lógica que um mercenário deve ser pago como qualquer assalariado. Mas considero profunda demagogia, patrioteira e mistificadora, meter no mesmo saco quem combateu pela liberdade e quem combateu contra o seu próprio povo. E se vamos por aí em nada vamos ajudar a "causa" destes apátridas abandonados. Decepcionado com o seu post, mantenho a estima de sempre. João Tunes

Anónimo disse...

Caro Jorge Neto, não sei se agora este "comentário" entra. Acho injustificada e despropositada a comparação. O que, no meu ponto de vista, é um mau argumento a favor de uma causa justa e a necessitar de urgente satisfação. Com a devida consideração discordante, coloquei post contraditório no "Água Lisa". João Tunes

Joaquim Baptista disse...

Pois eu concordo consigo. Se essas pessoas serviram para combater debaixo da nossa bandeira, agora vamos abandoná-las? Acho injusto. Se a guerra onde participaram era justa ou não, nem eles na altura sabiam. Também acho que foi escandaloso o abandono a que foram votados após 25 de Abril sendo muitos deles fuzilados.

Al Cardoso disse...

Foi precisamente isso mesmo que eu pensei quando soube desta noticia.

Mas acontece que da ultima vez que estivem os membros do governo em Bissau, fizeram de conta que esses que me manifestaram nao existiam, e triste quando um pais quer ignorar a historia.

Um abraco da "Serra" (a Estrela claro)