17.5.08

TANTA ÁFRICA, TANTO MUNDO

Uma operadora de telefonia móvel portuguesa lançou um concurso (CAUSAS SUPERIORES) destinado a estudantes e instituições ligadas ao Ensino Superior que investem o seu tempo no desenvolvimento de projectos de solidariedade e voluntariado.

Fui ao site dar uma espreitadela e analisar os projectos candidatos ao prémio final de 2500 euros.

O primeiro dado que salta à vista é o facto de um número considerável (7 em 16) de organizações serem constituídas maioritairamente por universitários cristãos ou que se afirmam inspirados em princípios cristãos.

Em segundo lugar, África continua a ser o destino de eleição para desenvolver actividades de voluntariado. Das 16 organizações candidatas 12 afirmam desenvolver projectos em África.

O terceiro dado que me chamou a atenção refere-se aos países escolhidos para desenvolver tais actividades. Neste capítulo apenas uma organização desenvolve projectos fora da lusofonia. Trata-se da Associação Nacional de Estudantes de Medicina, que desenvolve nos Camarões um projecto que pretende – através do envio de estudantes de medicina - melhorar as condições de saúde da população local.

Centro-me neste terceiro aspecto para defender o meu ponto de vista relativamente aos horizontes curtos de Portugal e dos portugueses de hoje. É natural e compreensível este interesse de Portugal e dos portugueses pela “sua” África. Ainda bem que assim é. Mas, não seria de esperar mais de um país que historicamente teve a sabedoria de ir “mais além”? Essa sapiência perdeu-se e hoje Portugal limita-se ao seu quintal, achando-o suficiente e até, para alguns, já grande demais, pois as necessidades dentro de casa são, também elas, enormes. Se analisarmos a cooperação bilateral portuguesa constatamos isso. O mesmo se reflecte na intervenção das ONG’s lusas, que escolhem, quase em exclusivo, o espaço lusófono para trabalhar. No seio da Igreja diocesana (a Igreja missionária não é exclusivista), a situaçao não é diferente. E é pena, pois há mais África (e mais mundo) para além da "nossa" (deles).

2 comentários:

Anónimo disse...

Caro Jorge,
Gosto deste blog e de cada vez que cá venho é um mundo de "notícias" e partilhas que nem sempre consigo acompanhar e em que me "perco" e perdia mais se pudesse.
Estou a par deste concurso, porque já fiz parte de um dos grupos concorrentes e conheço vagamente outros grupos.
Permita-me comentar dois pontos que falou, ainda que consciente de estar longe da verdade ou da razão, de ser ignorante na matéria, desconhecedora da verdadeira realidade.
Quanto ao "investimento" de Portugal em países não lusófonos, compreendo que seja talvez um "limitar de horizontes", no entanto, pelo que vejo no meu pequeno mundo e no ainda mais pequeno mundo que conheço, nomeadamente em África, fico já contente ao ver que há um esforço conjunto e uma dedicação fora das fronteiras portuguesas, quando até dentro das nossas fronteiras há tanto por fazer. Se os recursos por cá vão sendo poucos, quer a nível de pequenos grupos de voluntariado, quer na mais alta instituição, o estado, e ainda assim há uma vontade de dar o que podemos e temos, não posso não ficar contente com a escolha de partirmos rumo a países lusófonos, uma pequena parte de um universo de "miséria social". A escolher entre todo o leque de países que agradecem "mãos amigas", e não sendo ainda a "ajuda" sequer perto da necessária, porque não o "nosso quintal"? Porquê então o quintal do vizinho, se podemos chegar mais facilmente mesmo ao lado. Não sei se somos ainda ou já um país "de mais além".. mas gosto da ideia de sermos, para já, um país "Mais aqui!".

Em relação ao único grupo que desenvolve projectos fora da lusofonia, não sei se sabe que a população local a quem tanto ajudam paga uma taxa muito jeitosa por cada consulta, que vai parar sempre às mesmas mãos e que de cada vez que estudantes de medicina vão para lá, o preço das consultas baixa, mas o número de doentes triplica, ou quadriplica... assim como as consultas pagas, para as tais mãos... os estudantes até podem vir de lá felizes, até pagam a sua viagem, até aprendem medicina, mas os doentes são consultados por pessoas que sabem pouco mais do exercício da medicina que o Jorge, e que tomam decisões sem que tenham formação para isso... e o dinheiro das consultas sempre a chegar... É África! :)

Parabéns pelo blog.

Joana

catraso disse...

Antes de mais parabéns pelo blog, pelo 'retrato nu' de África que tem, pela paixão intrínseca às palavras.

Quanto a este post, penso que continuamos a sentir-nos responsáveis pelo desenvolvimento sustentável dos países lusófonos ou pela má conduta que houve nos processos de independência.
Como não pudemos chegar a todo o lado, damos um pouco a quem está próximo.

Ricardo